quinta-feira, 6 de agosto de 2009

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: UMA RELAÇÃO ÉTICA

Segundo Congresso Regional de Educação de São João Del Rei
Palestrante: Professor Vasco Pedro Moretto ( Moretto@terra.com.br)
Local:Teatro Municipal

Esta palestra foi muito bem ministrada pelo professor Vasco Moretto, que tinha por objetivo conceituar ética e moral,fazer com que nós professores refletíssemos sobre os fundamentos éticos e epistemológicos das provas que oferecemos aos nossos alunos e como esses fundamentos devem ser aplicados no nosso dia a dia como profissionais.
Como diferenciar moral e ética? Segundo Moretto, a moral é um conjunto de regras e está relacionada a uma determinada cultura, exemplo disso são os costumes indianos, mais precisamente podemos exemplificar com a valorização da vaca como ser sagrado; enquanto que no Brasil, a vaca nos remete a um belo bife para saciar nossa fome. O professor Moretto acrescenta que:

" A moral é definida como um conjunto de regras restritivas da liberdade individual, de caráter obrigatório, cuja finalidade é garantir a harmonia do convívio social".( Yves de La Taille -2002 )


A ética diferencia- se da moral, ética seria ETHOS que significa costumes. Então, nos diz Moretto , a ética e a moral não são individuais, são costumes dos povos. A ética seria o conjunto de regras e valores que regem a vida. O professor completa:

" entendo por moral tudo o que fazemos por dever, ou seja, submetendo-nos a uma norma vivida como coação ou mandamento; e entendo por ética tudo o que fazemos por desejo ou por amor"...

Moretto exemplifica a diferença entre moral e ética, quando se refere à lei que implementa o salário alto para um motorista em Brasília. Ele diz que essa é uma atitude moral, mas anti-ética comparada ao salário dos professores em M.G. por exemplo.
A questão fundamental da ética utilitarista é que devemos pensar sempre: "quais as consequências das minhas ações?" Se estamos em uma palestra, desligar o celular é um valor ético, uma atitude de respeito ao palestrante e aos colegas que foram ouvir a palestra. Mas, segundo o professor Moretto, essa questão já se tornou um problema moral no trânsito, pois a ética foi ferida, então entra a moral com regras e punições. Mesma coisa aconteceu com a questão do valor ético de que não se deve dirigir embriagado, muito foi pedido , na mídia, para que essa atitude fosse observada, evitada, aprendida por uma questão de respeito à vida. Como a ética não funcionou, então passou a ser um problema moral, entrou a punição,o "bafômetro", a lei.

EXEMPLOS DE VALOR ÉTICO

* Preparar as aulas e provas;
* Não conversar em palestras e em momentos em que o professor faz explicação de conteúdos ( não há medo de punição, mas há respeito aos colegas, ao palestrante, ao professor em sala de aula);
* Desligar celular em palestras, cinemas, sala de aula, igrejas;


Para Moretto a qualificação do profissional vem com a formação continuada, ir a um congresso não deveria ser uma obrigação,o que corresponderia a um valor moral; mas ir por vontade, o que é um valor ético. Levantar-se e sair durante uma aula ou palestra é um problema ético, se não for fisiológico! Deixar banheiros limpos e o papel no lixo é ético, pois ter respeito aos outros que passarão no banheiro depois de mim é um valor que todos deveríamos ter.
Quanto à disciplina, ele nos diz que ela pode ser imposta (MORAL) ou proposta (ética).E Moretto nos diz para pensar:" A educação familiar, escolar e social, tem como ponto mais forte a moral ou a ética?" Segundo o professor Moretto é a moral que é o ponto mais forte da educação, pois ela tem efeito imediato e a ética é mais demorada.
A criança pequena não tem regras (ANOMIA). Quando alguém coloca limites na criança( HETERONOMIA), começa o uso da moral; se a formação for só baseada na punição, a criança não se torna autônoma. Deve-se usar a ética na educação para que a criança passe a se guiar pelos seus próprios valores (AUTONOMIA).
Para Moretto, o adolescente quer contrapor sua personalidade com a autoridade, então MUDE O FOCO. Não ameace se não vai cumprir! No caso da escola, o regimento é normativo e segue a punição.O instrumento da ética é o Projeto Político Pedagógico, devemos pensar: " Que cidadão queremos formar na escola? Queremos uma pessoa que se guie pela moral ou pela ética?O Conselho Escolar existe para que possa ir acima da norma, ou seja, acima da moral. Segundo Moretto, regra e norma (moral) estão sobrando no país. PRECISAMOS É DA ÈTICA. A nossa cultura é da moral e não da ética. Voltemos à pergunta: "Que cidadãos queremos ajudar a formar? Aquele que cumpre as regras por moral ou por ética?"



FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS DA AVALIAÇÃO


O que tem sido o processo da Avaliação Aprendizagem? Um momento privilegiado de estudo? Ou um acerto de contas? Avaliamos o quê? Avaliamos dados, informações ou o conhecimento construído? Essas perguntas nos foram feitas pelo professor Moretto, é necessário nos guiarmos pela ética e repensarmos nossas avaliações. Os professores lidam com a palavra e por isso é preciso contextualizá-la. Quando vamos fazer nossas avaliações, precisamos dar o contexto para que o aluno se situe e possa responder de forma coerente e satisfatória. Moretto nos mostrou uma questão de avaliação ( ele fez um estudo de oito mil modelos de provas do Brasil) em que não estava contextualizada:

Exemplo: " Você tinha dez balas, ganhou outras vinte balas.
Você ficou com________"
A aluna respondeu comTENTE!"

Percebemos que a questão deveria ter sido contextualizada:
"Você ficou com________ balas."


Segundo Moretto, o aluno não pode apenas reproduzir informação, ele precisa CONSTRUIR o conhecimento. E ele nos questiona: "Em nossas provas cobramos informações ou construção de conhecimentos?". Para ele, precisamos ter ética na confecção das avaliações: "Isso que pergunto é relevante?Isso Constrói o conhecimento?"


PROBLEMAS NO COMANDO DAS AVALIAÇÕES


Devemos contextualizar mesmo as perguntas em nossas avaliações, se fazemos uma questão do tipo:
" Como é a organização das abelhas em uma colméia?"
e temos por resposta:
"É jóia" ou "É maravilhosa", não podemos culpar o aluno, pois a pergunta não primou pela construção do conhecimento, não houve contextualização nenhuma.
Outro exemplo dado por Moretto:
" O que você faria para acabar com a seca no Nordeste?"
O aluno respondeu:
" Não faria nada, não gosto de nordestino, quero que ele se lasque."
Ou ainda:
" Onde se encontram as brânqueas do camarão?"
Aluno:
" No corpo dele." (!!!!!)
Mais um exemplo:
" Em quantas partes se divide o corpo humano de um crustáceo?"
Aluno:
"Depende da cacetada."(!!!!!)


É muito importante o professor contextualizar as questões de avaliação.Preocupando-nos com isso, seremos, com certeza, muito mais éticos. Devemos pensar: " Quais as consequências dos meus atos? Se for bom, então é ético. Do contrário, é anti-ético.Ao trabalharmos a ética e a cidadania, possivelmente formaremos alunos mais felizes.
Moretto nos diz que o professor não pode abrir mão da sua autoridade, ao enfrentar problemas de indisciplina, MUDE O FOCO! Faça uso da ética (conversas, pedidos), se não resolver exerça a moral sem autoritarismo.
Ele ensina que se um aluno estiver com um comportamento indisciplinado, seja gentil, use um tom de voz baixo e acompanhe-o até à porta para que o aluno se sente por dez minutos fora de sala de aula e reflita sobre os transtornos que ele está causando, atrapalhando o professor e os colegas e que é preciso que ele saiba viver em comunidade. Após os dez minutos, o professor chama o aluno para voltar à sala de aula e lhe pede que faça um texto de, no mínimo, 15 linhas sobre o que ele refletiu. Caso o aluno não queira fazer o texto, não brigue com ele, pois tudo o que ele quer é desafiar o professor. Diga a ele que depois vocês conversarão. Quando a aula terminar, chame-o à sala dos professores e diga-lhe que você não queria forçá-lo a fazer o texto na frente dos colegas, que você o respeita, mas que aquela seria a última chance dele, senão você terá que dar-lhe uma advertência escrita até à suspensão, caso ele se negue a fazer o texto. E faça uso do Regimento Escolar, se a ética não resolveu, é preciso fazer uso da moral(regra, punição).
Moretto finaliza nos dizendo que:

" Os alunos levam da gente o que somos
para eles e não o que lhes informamos."


A HISTÓRIA SOBRE A MORTE


O professor Moretto nos contou uma história para finalizar a palestra, ilustrando essa sua última colocação, a de que os alunos levam de nós aquilo que somos para eles.
Passados uns vinte anos, o professor Moretto, em Brasília, encontra-se com um ex-aluno. Entre outras conversas o professor questiona o ex-aluno se ele havia usado, em sua vida prática, algum conhecimento de física que ele havia ensinado em sala de aula. E o ex-aluno respondeu que não! O professor ficou meio surpreso, mas o ex-aluno acrescentou que o professor havia falado sobre a morte, em um dia que eles pediram uma aula diferente (fora do conteúdo de física) e que essa aula, ele havia guardado para sempre na memória, pois lembrava-se do mês e do ano (!!!).
Moretto nos relatou a aula:

"Os alunos, naquele dia, pediram uma aula diferente, estava um calor enorme pois passava do meio-dia e todos estavam muito cansados. Pediram que eu falasse sobre a vida e eu lhes disse que eu lhes falaria sobre a morte. Expliquei-lhes que eu havia perdido o meu pai naqueles dias e que meu irmão havia celebrado uma missa muito bonita falando sobre a morte. Contei a eles que refletia, naqueles dias, muito sobre a morte e que essa explicação do meu irmão, havia sido muito importante para mim.Passei a eles o que eu havia aprendido; que o bebezinho quando está pronto para nascer, é porque o mundo no útero se torna pequeno demais para ele e o bebê faz "PLUFT" para o mundo fora do útero. Depois, o bebê vai se alimentando daquele seio, que é seu pequeno mundo, mas que muito bem lhe prepara para crescer forte e saudável e quando ele se torna grande demais para aquele mundo do seio materno, ele faz:"PLUFT" e nasce para um mundo maior, que é esse das relações, da vida na família e na comunidade, da vida no mundo.
E a morte seria isso, quando o ser humana cresce mais que esse mundo, ele se torna preparado para uma realidade maior, ainda que desconhecida e faz "PLUFT"!
Foi essa a mensagem de amor e ética que o professor Moretto, tão brilhantemente, nos passou!
Quero agradecer muito a ele por tudo que nos ensinou com tanta grandeza no coração. Agradecer pela gentileza e humildade em nos ensinar que precisamos nos tornar, humildemente, cada vez melhores e maiores em relação à ética profissional, para que possamos fazer muitos "PLUFTS" existenciais antes de abraçar o grande "PLUFT" da morte.

Vanda Sandim

P.S. Tentei fazer um texto bem próximo da fala do professor Moretto, que ele me perdoe se falhei, acrescentando algo que tenha sido além da fala dele.

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