quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Debate na Band: uma análise
O debate entre os candidatos ao governo de Minas, que ocorreu na noite do dia 12, abordou vários temas, a maioria deles de forma superficial. O debate de idéias é sempre importante. Mas, infelizmente, como estava previsto, a Band excluiu os candidatos Vanessa Portugal do PSTU e Fábio Bezerra do PCB, que são dois educadores e que poderiam falar com maior propriedade sobre a realidade da Educação pública em Minas. Uma pena, para a Band e para os eleitores.
Agora, vamos às análises. O debate começou morno e assim prosseguiu até o quarto bloco. Pensei até que não haveria um confronto direto entre os candidatos do PMDB-PT e o afilhado do faraó. O candidato do PMDB-PT falou duas ou três vezes sobre a questão do achatamento salarial dos servidores e especialmente do piso dos professores, embora não tenha detalhado sobre este tema.
Já o candidato-afilhado nada falou sobre os salários dos servidores. Considerou apenas que já foi uma grande conquista ter conseguido colocar os pagamentos em dia no quinto dia útil do mês, pagar o décimo terceiro e um décimo quarto - que na verdade é cerca 80% de um salário e não um salário integral. Não fez nenhuma promessa ou compromisso com os servidores. Disse apenas que é preciso continuar avançando. Avançando em que direção, caro governador?
O candidato do PMDB-PT tem o discurso generalista (ou seria populista?) de criticar os pontos fracos do atual governo - a falta de investimento no social, o achatamento salarial dos servidores, etc. - mas, não fundamenta sua crítica com propostas concretas. Não disse textualmente, por exemplo, que vai pagar as novas tabelas dos educadores e incluir as gratificações como o quinquênio e também o tempo de serviço. Ou mesmo que vai pagar o reposicionamento que o atual governo deixou de pagar. São coisas simples, que a assessoria do candidato, na cota-parte do PT, bem que poderia ajudá-lo. Mas, isso implica em compromisso assumido que seria cobrado. Se ele não assume estes compromissos é porque não deseja realizá-los.
O candidato-governador-afilhado, igualmente, ao não assumir nenhum compromisso concreto com os servidores, não se verá obrigado a praticá-lo, a não ser - e aí vale para qualquer governante - na base da pressão direta, da luta, como fizemos na nossa maravilhosa revolta dos 47 dias.
Os candidatos dos partidos menores, como os do PSOL, do PV e do PT do B tiveram importante participação no debate. Foram eles, aliás, que introduziram no debate a questão do royalties (uma espécie de taxa pela exploração ou direito de uso) do minério de ferro. De fato, essa é uma das muitas provas da ineficiência dos diferentes governos que passaram por Minas, incluindo o atual. Empresas como a Vale exploram e vendem o minério sem que paguem adequadamente impostos e taxas por isso. É mais ou menos o que acontece com os bancos em escala nacional. Eles lucram bilhões todos os anos e dão uma mixaria em contrapartida para a sociedade. Eles ficam mais ricos e nós ficamos mais pobres.
Não houve o que se poderia chamar de um "vencedor" no debate ou alguém que se destacasse, como aconteceu no debate nacional, quando o candidato Plinio Sampaio do PSOL se sobressaiu, por ter conseguido passar uma mensagem direta, sem rodeios, de forma simples e ao mesmo tempo com a carga da experiência de um velho militante de esquerda.
O afilhado é um técnico por formação e sua fala é sempre calculada milimetricamente, sem grandes emocões. Tem o mérito que ele próprio lhe atribui, de não assumir compromissos que ele julga não poder cumprir. Isto quando o assunto é remuneração dos servidores. Mas, quando o assunto é grandes obras, aí ele perde a modéstia e assume compromissos que talvez ele não possa cumprir. Portanto, continua valendo a velha questão da prioridade: onde, em que setor, pretende-se investir prioritariamente? Seguramente, no caso do candidato-governador-afilhado, a prioridade não será o salário dos servidores.
Já o candidato do PMDB-PT, por assumir compromissos genéricos com quase tudo e todos, acaba por não assumir compromisso com nada. Vai investir prioritariamente no social, diz. É preciso desdobrar esta palavrinha mágica chamada "social" em conteúdos concretos. É preciso pegar o orçamento público e dizer: este e aquele recursos, que iriam para obras faraônicas, agora vão para os servidores da Educação, da Saúde, da Segurança... e desdobrar em valores na moeda corrente: tantos mil reais de salário para os professores, e assim por diante.
O candidato do PSOL falou também genericamente em distribuir renda - coisa complicada este negócio de distribuir renda no capitalismo! Um leitor que seja minimamente neófito na teoria marxiana saberá que esta equação não cabe na realidade da reprodução do mercado, a menos que implique numa subversão das leis do capital - do mercado e do estado. Mas, este é um papo mais longo, que num dia de folga eu levo com vocês.
Prometeu pagar a todos os servidores - não de imediato, mas enquanto meta, logo, coisa que qualquer candidato poderia fazê-lo - o salário de R$ 2.700,00, que é o salário recomendado pelo DIEESE. Mas, teve o mérito de criticar frontalmente a política neoliberal praticada aqui em Minas pelo governo do faraó e afilhado.
O candidato do PV deu destaque à questão do minério de ferro, do café e do leite que saem de Minas, como produtos primários, sem que se agregue riqueza, e que portanto acabam dando pouco retorno para o estado e para o país. Falou também do investimento prioritário na ferrovia no lugar das estradas, o que não deixa de ser uma coisa importante.
O candidato do PT do B teve uma participação modesta, mas elegante, que de maneira alguma lembra aquelas candidaturas ridículas de outras épocas.
Ah, mais um detalhe: os principais candidatos (principais, segundo as pesquisas e a mídia), o afilhado e o do PMDB-PT em várias oportunidades procuraram colar a imagem deles a de seus padrinhos políticos, respectivamente o faraó e o atual presidente da República. O afilhado do faráo, que não é bobo nem nada, não tocou no nome do Serra. Já o candidato do PMDB-PT fez questão de enfatizar que é o candidato do Lula e da Dilma. E do Patrus. Haja padrinhos, kkk.
Enfim, o debate não acrescentou muito em matéria de compromissos com os servidores públicos em geral e com os da Educação pública em especial. Quero ouvir os candidatos dizendo e assinando um documento com o seguinte teor (isso para os educadores):
a) vou pagar as novas tabelas salariais em janeiro de 2011,
b) vou fazer o posicionamento de acordo com o tempo de serviço de cada um,
c) vou devolver e pagar o quinquênio a todos os servidores,
d) vou retornar com os índices de promoção e progressão do atual plano de carreira, e
e) vou realizar reajuste anual dos salários, em janeiro de cada ano, pelo menos com o índice da inflação.
Sem estes compromissos, entre outros, o discurso se torna oco. E o nosso instrumental de luta precisa mais do que nunca ser mantido lustrado, azeitado e escovado para os novos embates que travaremos, seja quem for o eleito. É neste debate - o da luta nas ruas, nas praças - que eu pessoalmente me envolvo de corpo e alma e coração. Amém.
Leiam também o artigo do nosso colega e amigo Wladmir Coelho, coordenador do Blog do COREU - O DEBATE FOI PATROCINADO POR LEXOTAN ?