sábado, 17 de julho de 2010

SÃO JOÃO DEL REI/MG:CIDADE LINDA PRECISA SER LIMPA

A MINHA CIDADE É LINDA!
TEM HISTÓRIA FORTE!
TEVE SANGUE
E GLÓRIA.

PRECISAMOS TER MUITA CONSCIÊNCIA DOS CUIDADOS QUE ELA PRECISA.
CUIDAR DAS FONTES, DAS CASCATAS
DAS CACHOEIRAS
PONTES
DO LIXO
DAS SERRAS
DOS MONTES
E DA SUA ALMA.

VANDA




Mist in São João del Rei, Minas Gerais, Brazil - Amanhecer em São João Del-Rei, Minas Gerais, Brasil


AMANHECER EM SÃO JOÃO DEL REI ( FOTO DE KIKO NETO)http://www.baixaki.com.br/usuarios/imagens/wpapers/386087-64578-1280.jpg

O TRENZINHO "MARIA FUMAÇA"( FOTO:A.FIDELES)


The Ponte da Cadeia - São João del Rei - Minas Gerais, Brazil

PONTE DA CADEIA ( FOTO DE KIKO NETO)






São João del Rei (also spelled São João del Rey or São João del Rei) - Mg Capital Brasileira da Cultura 2007 foto - kiko neto

IGREJA EM ESTILO GÓTICO ( CAPELA DA SANTA CASA) : FOTO DE KIKO NETO





















IGREJA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS
FOTO WEBMASTER BENIJR



























IGREJA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS
FOTO JOSÉ ANTÔNIO DA ÁVILA










ANTIGO PAVILHÃO DO MATOSINHOS














PONTE DA CADEIA





















Memorial Tancredo Neves

Encontra-se em um casarão do final do século XVIII. No memorial o visitante poderá encontrar tudo sobre a vida de Tancredo Neves, desde a infância até sua morte.



















Igreja Nossa Senhora do Carmo

É um dos monumentos mais marcantes da cidade de São João Del Rei. As primeiras referências sobre a sua construção datam de 1734, no entanto, sabe-se que foi lenta a obra e que veio a ser concluída em 1879.

São João Del Rei - Minas Gerais


DO BLOG DO EULER: NEM SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM


sexta-feira, 16 de julho de 2010
Nem só de pão vive o homem...








Começo o meu final de semana fazendo uma reflexão e um desafio para todos os educadores mineiros e demais pessoas que visitam este blog. A nossa maravilhosa "Revolta dos 47 dias" - nome mais apropriado do que uma greve de 47 dias -, entre outras questões, como a salarial, teve o mérito de balançar as estruturas de poder em Minas Gerais.

Durante os quase oito anos de reinado absoluto do faraó e seu afilhado não deve ter acontecido um momento semelhante de confronto com o poder faraônico e seus tentáculos espalhados nos demais poderes e na mídia domesticada. O faraó ficou literalmente nu, além de mudo, pois nada pode dizer diante das realidades que foram se revelando.

O silêncio imposto pelo faraó e seu grupo aos cidadãos mineiros durante quase oito anos se voltou contra ele, que permanece mudo até o momento. Nem uma palavra sequer sobre os problemas da Educação e do reposicionamento dos servidores. Enquanto isso, o afilhado é exposto às multidões para receber sozinho as pedras, quando ele teve um papel de coadjuvante com o faraó, que pretende sair imune nessa história. Mas, foi ele, o faraó, com o auxílio direto do seu afilhado, quem implantou a política de choque de gestão em Minas, que se traduz no achatamento salarial dos servidores e no total controle da mídia e dos demais poderes constituídos, que abriram mão da autonomia relativa que deveriam ter, para se ajoelhar perante o projeto neoliberal de dominação do faraó e seu grupo.

Não vou dizer que no Brasil a coisa seja muito diferente dessa realidade mineira, não. A imprensa nacional é toda ela dominada por poucas famílias (Civittas, Frias, Marinhos, e suas filiais regionais), que têm o golpismo enraizado até as entranhas. Os poderes constituídos em escala nacional, STF e Congresso Nacional, também não inspiram credibilidade, pelas atitudes na maioria das vezes ligadas aos interesses dos de cima. Em suma, o Brasil não respira uma verdadeira democracia, embora os representantes das elites encham a boca para falar em liberdade de opinião, respeito aos direitos dos cidadãos e democracia.

Na nossa maravilhosa revolta-greve dos 47 dias nós sentimos na pele o abismo existente entre o que está na lei e o que é praticado. A greve foi indecentemente considerada ilegal, quando a ilegalidade deveria ser submeter uma categoria como a dos educadores a níveis tão baixos de salários e condições de trabalho. E retiramos dessa experiência a compreensão de que se quisermos garantir nossos direitos e nossos espaços enquanto assalariados e cidadãos vamos ter que arrancá-los na luta.

Não podemos de maneira alguma continuar respirando ares de terror, de um clima de medo, de submissão dos de baixo, pois isso contraria a natureza humana, que nunca se curvou, nunca, em nenhum momento da história, aceitou passivamente a escravidão e outras variantes de exploração.

A insubmissão perante a exploração e a opressão é parte social, cultural e estrutural de todos aqueles que não perderam minimamente a capacidade de pensar e de sonhar. Os educadores de Minas tornaram-se uma fonte de inspiração para todas as demais categorias de assalariados de Minas e também do Brasil.

Não tenham dúvida de que o próximo governante, seja ele quem for, vai jogar pesado para desarticular e quebrar este movimento, como aliás tentaram fazer o faraó e seu afilhado nos quase oito anos de governo. E de certa forma haviam quase conseguido. Na proprrogação do segundo tempo, nós, os educadores, demos o troco, sacudindo Minas Gerais e mostrando que com a força organizada de mais de 200 mil trabalhadores não se brinca.

Por isso, para além das necessárias conquistas salariais e de melhores condições de trabalho, precisamos também conquistar e consolidar os espaços e os direitos de uma democracia que mereça este nome, mesmo nos marcos de um estado burguês. O direito de greve, o não corte de ponto dos grevistas (outro dia me disseram que quem inaugurou em Minas esta canalhice de cortar ponto de professores em greve foi um personagem que não vou citar aqui porque não confirmei a inacreditável informação que recebi, ainda), a democratização dos meios de comunicação - inclusive com a proibição de anúnicos governamentais em jornais, rádios e TVs que se recusarem a abrir espaços para os movimentos sociais -, a não criminalização dos movimentos sociais e a discussão pública dos orçamentos dos poderes constituídos, entre outras coisas.

As bandeiras democráticas, que eram muito comuns na época da ditadura militar, precisam ser retomadas, pois vivemos a continuação daquela ditadura sob outras formas. A absoluta privatização dos cofres públicos, por exemplo, cujos recursos estão voltados para beneficiar empreiteiras, banqueiros, latifundiários do agronegócio, etc, precisa acabar. No lugar disso, maior investimo na Educação pública - principalmente no ser humano-educador -, na Saúde pública, no saneamento e na moradia popular, pelo menos.

Um bom exemplo da má utilização do dinheiro público foi a construção das pirâmides do faraó, que custou em torno de R$ 1,5 bilhão de reais. Quantas milhares de casas populares, hospitais e clínicas médicas, obras de saneamento e salários mais justos para os servidores poderiam se fazer com estes recursos?

Não se pode mais continuar convivendo com uma situação onde um grupo de políticos, seja em que esfera for - federal, estadual ou municipal - decida sozinho, ao sabor dos interesses de uma minoria, o que fazer com os recursos públicos. Não me venham dizer que essas obras faraônicas foram aprovadas na "Casa do Povo" - o parlamento -, pois, com este parlamento prostituído e afastado do povo que temos não se pode falar em uma verdadeira representação. Um sistema em que as pessoas não têm o controle direto sobre aqueles nos quais votaram - inclusive com o direito de cassar este mandato caso não corresponda às expectativas criadas -, não é uma representação verdadeira, mas uma farsa. Um engodo.

Portanto, colegas educadores, é bom que tenhamos em mente esse grande desafio, de estar lutando ao mesmo tempo por melhores salários e condições de trabalho e pela real democratização da sociedade e do cotidiano em que vivemos - inclusive nas escolas, onde, em alguns locais, prevalecem práticas ditatoriais e autoritárias que reproduzem o que se vive na realidade política em Minas e no Brasil.

E nós, educadores de Minas, tornamo-nos fonte de inspiração e depositários desse desafio para com a população mineira e brasileira. E temos que corresponder a isso, para o nosso bem e para o bem de todos os de baixo, assalariados-explorados como a gente. Numa batalha que transcende a importante e necessária luta cotidiana pelo pão, que alimenta o nosso corpo, mas que precisa também alimentar a sede de justiça e de liberdade que acompanha a alma humana.

* * *


Links e temas relacionados:

- Blog da Cris
- Diário de Classe - Intersindical
- Blog do COREU
- Blog Em Busca do Conhecimento
- Site oficial do Sind-UTE
- S.O.S. Eudcação Pública
- Proeti no Polivalente
- Sind-RedeBH - Blog do Coletivo Fortalecer
- Movimento Classista dos Trabalhadores em Educação

Visitem também os blogs e sites recomendados pelo nosso blog.
Postado por Blog do Euler às 08:06
4 comentários:

Dinha disse...

Adiada - Ficou para o segundo semestre, a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 61/10, do governador, que determina que os servidores da área da educação sejam remunerados por subsídios. A proposição teve a discussão encerrada, mas ainda aguarda votação em 1º turno.
Euler , tudo bem, tirei isto da ALMG vc sabe falar sobre isso? Podemos ter esperança?
Abraços Dinha.
16 de julho de 2010 10:57
polivanda@gmail.com disse...

EULER,
BRAVO, BRAVÍSSIMO PARA O SEU TEXTO!

ESTOU EM CASA ,DE PÉ ENGESSADO, LENDO SEU BLOG E PENSANDO: TIVE QUE PAGAR CONSULTA PARA O ORTOPEDISTA(PEDI UM DESCONTO)E PAGUEI O GESSO TAMBÉM PARA NÃO TER QUE ENFRENTAR FILA NO INSS. O NOSSO PLANO DO ESTADO, AQUI EM SÃO JOÃO DEL REI, NÃO COBRE O CONVÊNIO MÉDICO COM ALGUNS PROFISSIONAIS DA SAÚDE, INCLUINDO ORTOPEDISTA.
E FICO PENSANDO QUE ESTUDAMOS TANTO PARA NÃO TERMOS DIREITO A UM PLANO DE SAÚDE DECENTE! E QUANDO PAGAMOS CONSULTA PARA UM MÉDICO, TEMOS QUE "CHORAR" DESCONTO PORQUE O QUE GASTAMOS EXTRA FAZ FALTA EM NOSSO ORÇAMENTO. O EXTRA É GASTO COM A NOSSA SAÚDE! E DEPOIS TEM OS REMÉDIOS...ENFIM: ENQUANTO MUITOS LAVAM E ENXUGAM SEUS MILHÕES, OU MELHOR, NOSSOS MILHÕES ( DINHEIRO PÚBLICO ), FICAMOS CONTANDO NOSSO DINHEIRO PARA PODER ATÉ MESMO PRESERVAR E CUIDAR DA NOSSA SAÚDE. E, COM CERTEZA, ESSES MEUS GASTOS EXTRAS NÃO VIERAM DO MEU SALÁRIO DO ESTADO ( ESSE ACABA EM DOIS DIAS!)!!!
TODOS MERECEMOS RESPEITO E DIGNIDADE E É POR ISSO QUE ASSINO EMBAIXO DO QUE VC ESCREVEU: PRECISAMOS MANTER ACESA ESSA CHAMA DE UNIÃO, MESMO QUE MUITOS AINDA NÃO ACREDITEM NESSA NOSSA LUTA, NEM NOS SINDICATOS OU SIND-UTE/MG.
ABRAÇÃO E BOAS FÉRIAS!
16 de julho de 2010 15:57
vander disse...

Euller, sou um leitor assíduo do seu blog, e lendo sua reflexão não posso deixar de comentar que aqui, em São Joãoo del Rei, na "terra do avô" do famigerado faraó, ele começou seu estágio de dominação dos meios de comunicação. Aqui, na "terra da liberdade" como dizia o velho, ele comanda com mão de ferro uma rádio AM, 2 FMs, um jornal impresso e a rede de TV local. São 24 horas por dia de lavagem cerebral. Vou sobrevivendo sem nenhum arranhão. Euller continue com suas reflexões e comentários sensacionais. Abraços, Vander São João del Rei Ps. imagine o inferno que vivo aqui KKKKKKKKK
16 de julho de 2010 17:17
Blog do Euler disse...

Olá, colegas de luta Vander, Vanda e Dinha!

Graças a meu bom e generoso Deus, a encantadora cidade de São João Del-Rei, se de um lado produziu o faraó e seu avô, por outro equilibrou, presenteando a população com o Vander e a Vanda, que são mil vezes mais importantes do que aqueles.

Além da nossa ida e ocupação da cidade de São João durante a nossa maravilhosa revolta-greve dos 47 dias, estive nesta cidada pelo menos duas vezes, anteriormente; uma delas, participando de um seminário sobre Patrimônio Cultural Imaterial. Cidade bonita, aconchegante. As badaladas dos sinos das igrejas formam um diálogo maravilhoso - há um ou mais documentários sobre este tema, que aliás virou patrimônio nacional.

Vanda, espero que se recupere rapidamente.

Vander, nem toda a lavagem cerebral que tentam fazer através das mídias vai abafar a nossa voz.

Dinha, vamos aguardar o desfecho da novela do subsidio. De qualquer forma, nossa posição é clara: em janeiro de 2011 queremos receber as novas tabelas salariais e vamos lutar para aprimorá-las, com o posicionamento por tempo de serviço, quinquenios para todos, reajuste com indice especificado, etc. Se o novo governante vai manter o subsídio ou pagar em forma de vencimento básico é uma questão a ser discutida.

Um abraço a todos e um ótimo final de semana!

Euler
17 de julho de 2010 07:52


polivanda@gmail.com disse...

OBRIGADA EULER, INCLUSIVE POR ADICIONAR O ENDEREÇO DO MEU BLOG NO SEU.
O MEU AMIGO VANDER "TÁ NA FITA"! TRABALHAMOS JUNTOS NA MESMA ESCOLA; ELE É UMA PEÇA RARA: BOM PROFISSIONAL,BOM AMIGO,UMA PESSOA INTERESSADA EM REFLETIR, SE POSICIONAR E MELHORAR AS INJUSTIÇAS, SEJAM ELAS EDUCACIONAIS OU NÃO.
ALÉM DE TUDO É UMA FIGURA ESTILO TÍMIDO- MINEIRO-COME-QUIETO, QUE VIRA E MEXE SE DESDOBRA EM ALTAS GARGALHADAS E FICA TODO MUNDO QUERENDO SABER O QUE É, VISTO QUE, NA MAIORIA DAS VEZES ELE TEM UM PERFIL CALADO; MUITO CONTRÁRIO AO MEU QUE SOU "À TRÊS MIL POR HORA", FALADEIRA,INQUIETA E FAÇO BARULHO ONDE CHEGO.
ESPERO QUE TENHAMOS OPORTUNIDADE DE NOS ENCONTRAR, SEJA EM B.H. OU AQUI EM S.J.DEL REI.
ESSA CIDADE É MARAVILHOSA, EU AMO TUDO AQUI E SOU GRATA À DEUS POR TER NASCIDO NESTA HISTÓRICA E ACOLHEDORA CIDADE.A MÍDIA LOCAL É COMPRADA SIM, HÁ POUCO INVESTIMENTO NA ÁREA DA SAÚDE, NA ÁREA AMBIENTAL ( PELO POUCO QUE SEI) E VAMOS LEVANDO.
HÁ COISAS MARAVILHOSAS AQUI QUE DINHEIRO NÃO ALCANÇA E UMA VIDA QU MUITOS DESCONHECEM, EMBORA VENHAM À PASSEIO E MAL OLHEM PELA CIDADE.
HÁ UM PROJETO DE UMA PROFESSORA DA UFSJ PARA O ANO QUE VEM, DE CUIDAR DO NOSSO CÓRREGO, QUE É O CÓRREGO DO LENHEIRO, QUE ESTÁ UM HORROS. O PREFEITO ATUAL AINDA FEZ O FAVOR DE FAZER UM DESASSOREAMENTO HÁ UNS MESES ATRÁS, O QUE CONTRIBUIU PARA NÃO OCORRER ENCHENTES COMO ESTAVA ACONTECENDO.MAS A QUESTÃO PASSA TAMBÉM EM EDUCAR A POPULAÇÃO E OS TURISTAS QUE ACABAM POLUINDO O CÓRREGO QUE PASSA NO CENTRO DA CIDADE.TRABALHO NA ESCOLA DO MUNICÍPIO COM EJA E ATRAVÉS DESSA ESCOLA PRETENDO FAZER PARTE DESSE PROJETO DE CUIDAR DO NOSSO CÓRREGO.
HÁ UM PROJETO TAMBÉM, DA ESCOLA MUNICIPAL ONDE TRABALHO, QUE É "TOMBAR" COMO PATRIMÔNIO A SERRA DO LENHEIRO QUE É ENTORNO DESSA ESCOLA. FIZEMOS UMA CAMINHADA ECOLÓGICA ( ACHO QUE FOI EM MAIO) E FOI MARAVILHOSO! CASO QUEIRA VER AS FOTOS É SÓ DAR UMA OLHADA NO MEU BLOG: VEJAVANDANOEJA.BLOGSPOT.COM
ABRAÇÃO E DESCULPE SE ME ESTENDI MUITO.
VANDA

Blog do Euler disse...

Vanda,

Visitei o blog que vc indicou. Parabéns pelo belíssimo trabalho que desenvolve. Fotos e textos que dão um belo livro. E que lugar bonito aquela Serra do Linheiro. Num lugar daquele eu nem lembraria da existência do faraó e do seu avô! Pena que Vespasiano não tenha um lugar assim (snif! snif!...). Quase tudo aqui já foi desmatado. Temos um ribeirão que eu canso de propor que se faça um parque ecológico, mas sai prefeito e entra prefeito e a idéia dos infelizes é só a de canalizar e construir duas vias às margens do ribeirão. Será por que motivo os governantes adoram tanto assim fazer obras faraônicas? País de corruptos!

Bom, mas o que importa mesmo é que São João del Rei, como eu havia dito acertadamente, tem você, Vanda, tem também o prof. Vander, o prof. Luciano, tem seus colegas e alunos, tem a Serra do Lenheiro... enfim, tem pessoas e coisas boas demais. Quem vai se lembrar do faraó num lugar assim? (kkk)

Um abraço,

Euler



vander disse...

Olá Euler, concordo com você nada vai abafar nossa voz,além do mais aqui em São João temos conterrâneos que me deixa orgulhoso, o nosso Tiradentes, a nossa Bárbara Heliodora e muitos outros anônimos que lutaram e lutam ainda hoje por liberdade, e é nesse ideal de liberdade que me espelho sempre e vou em frente fazendo da coragem meu escudo e da humildade minha lança.
Ps. sábado a Rita Lee fez um show, bom de mais, aqui, no mesmo local da votação da nosa greve histórica e fiquei de novo com vergonha, pois, aquela frase do faraó ainda continua no mesmo prédio. Obrigado por nos considerar pessoas importantes, eu e minha amiga Vanda, mas como diz a Rita Lee acho que estou mais pra "ovelha negra da família" KKKKKKKk Abraços!!!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

CLARICE LISPECTOR: ACHO QUE A LOUCURA É A PERFEIÇÃO

Severino Francisco

“Acho que loucura é perfeição. É como enxergar. Ver é a pura loucura do corpo”. Logo na entrada da exposição Clarice Lispector — a hora da estrela, o espectador é fulminado por um daqueles relâmpagos poéticos reveladores da escritora. Mesmo os que conhecem muito bem a obra de Clarice ficam com a impressão de entrar em contato pela primeira vez com o seu universo, marcado pelo desejo de tocar no mistério, dizer o indizível, entrar em sintonia com o coração selvagem da vida.” …E descobri que não tem um dia-a-dia. É um vida-a-vida. E que a vida é sobrenatural”. A exposição traduz Clarice em artes plásticas, cenografia, arte contemporânea e videoarte, jogando a sua obra em um espaço onírico, surreal, fantasmagórico. É para sonhar acordado, revisitando a cabeça, o cotidiano e a alma de Clarice.

Clarice Lispector — a hora da estrela já passou por Rio de Janeiro e São Paulo, foi vista por mais de 50 mil pessoas e chega agora a Brasília para uma temporada no Centro Cultural Banco do Brasil, até 14 de março. A exposição tem curadoria de Ferreira Gullar e Julia Peregrino, com cenografia de Daniella Thomas e Felipe Tassara. O projeto surgiu a partir de um convite do Museu da Língua Portuguesa de São Paulo no sentido de ampliar uma mostra que Júlia havia organizado em 1992, no Rio, na passagem dos 15 anos da morte de Clarice. “Convidei o Gullar porque queríamos um olhar de poeta e a Daniela para conseguirmos uma cenografia inovadora. Não pretendemos esgotar o que a Clarice escreveu. A proposta é provocar o espectador para que ele vá atrás das obras para ler. E, para quem já conhecia, que queira saber mais”.

Ao longo de toda a exposição, Clarice nos mira com os seus olhos felinos, detrás de fotos e transparências, e nos atinge com suas frases fulminantes, que batem direto no coração. A sua figura ampliada em fotos e impressa em filó preto provoca a mesma inquietação que seus textos. Ela é uma estrela com luz própria, não depende da mídia ou do marketing para brilhar: “Oh, Deus, que faço desta felicidade ao meu redor que é eterna, eterna, eterna, e que passará daqui a um instante porque o corpo só nos ensina a ser mortal?”

Uma das salas parece um pesadelo de Kafka, com 1.165 gavetas, sendo que só 55 se abrem de fato. Em algumas, o espectador poderá manusear documentos originais de Clarice. O acervo pertence ao filho da escritora, que zela pelo material com cuidado e discrição: “Ele é um exemplo de como cuidar da obra de um gênio”, comenta Júlia. Ela conta que alguns visitantes abrem as gavetas com documentos e, literalmente, choram: “As novas gerações estão acostumadas a fazer navegações virtuais. Elas precisam aprender a preservar determinadas coisas. Por isso, fizemos questão de apresentar os documentos originais. Todos os documentos que estão ali têm vida, têm alma”.

Em um outro ambiente é possível assistir a uma entrevista de 21 minutos, a uma emissora de televisão, a última que concedeu, oito meses antes de morrer. As perguntas do entrevistador foram apagadas e Clarice fala solitariamente em um quarto escuro como se fosse uma voz de outro mundo. Parece que ela está viva: “Não sou triste, estou triste”, diz, a certa altura, Clarice.

No Rio, um pai levou o filho cego, de 10 anos, para ver a exposição. Ele ia irradiando as frases para que o filho acompanhasse. Júlia foi conversar com o menino. Ele contou que havia lido em braille todos os livros de Clarice para crianças. Júlia colocou uma cadeira para que ele pudesse ler as frases de Clarice em alto relevo numa das salas da exposição: “Quer dizer, mesmo sem visão você pode ler Clarice, pois como ela mesma diz: “Olhar é a pura loucura do corpo”.

Guimarães Rosa dizia que se interessava por alguns autores em razão do valor da literatura que produziam. Mas que lia Clarice por causa da vida: “Ave, Maria!”, comenta Júlia. “Eu fico tocada ao entrar em contato com Clarice. Ela sempre mexe fundo com a gente. Ela consegue fazer um texto de multiuso. A gente não sabe onde está batendo mais. Ela é talvez a maior escritora que o Brasil pôde criar”.

Quem é…

Pernambucana da Ucrânia

Clarice Lispector (1920-1977) nasceu na Ucrânia, na cidadezinha de Tchetchelnik, mas mudou-se com a família para o Recife, quando tinha dois anos, e, apesar de escolher o Rio para morar, se considerava pernambucana. Desde muito cedo, Clarice revelaria a singularidade do seu talento: os contos que ela enviou, aos 11 anos, para a seção infantil do Diario de Pernambuco foram recusados porque ela tratava menos de fatos e mais de sensações. O seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, recebeu críticas favoráveis de Antônio Cândido, Sergio Milliet e Lúcio Cardoso.

Clarice escreveu contos, romances e crônicas à sua maneira, quer dizer, preocupada menos em contar uma história do que em realizar reflexões existenciais desconcertantes, rompendo com a lógica e tentando dizer o indizível. “A resposta de um mistério é sempre outro mistério”, escreveu. No romance A paixão segundo G.H., ela extrai transcendência da relação de uma mulher com uma barata no quarto da empregada. A liberdade com que Clarice escreveu seus textos embaralha os gêneros literários e aproxima sua linguagem das iluminações da poesia. O impressionante é que a sua literatura de meditação radical sobre a existência, sem nenhuma concessão ou complacência, conquista a cada dia mais leitores.

Fonte: Correio Braziliense

CLARICE LISPECTOR EM NÁPOLES


Foto: Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal
A escritora, em seu apartamento em Nápoles, na Itália, onde viveu entre 1944 e 1946. Esta e outras fotos do arquivo da família estarão à mostra no Museu da Língua, em SP
Ler uma carta impagável de Clarice Lispector para o amigo Lúcio Cardoso - em que ela responde às próprias perguntas, em protesto




Clarice Lispector descartou influência de Virginia Woolf e Sartre

publicado em

Clarice Lispector“Clarice,” (Cosacnaify, 648 páginas), de Benjamin Moser, é uma biografia do balacobaco. Clarice Lispector, a mulher e a escritora, sai maior. Ou com a estatura devida. Apesar da simpatia confessa do pesquisador americano, não se trata de hagiografia. Uma das vantagens da biografia é que Moser recolhe as melhores interpretações (esquecendo algumas) da obra da autora e oferece ao leitor as próprias leituras, quase sempre pertinentes e originais. Ele escarafuncha a vida e, paralelamente, a obra. Muitas vezes, o envolvimento com a obra é muito superior à apreensão da vida de Clarice.

Em 1919, quando tentava escapar das perseguições dos comunistas na Ucrânia, a mãe de Clarice, a judia Mania Lispector, foi estuprada e contraiu sífilis. Aparentemente para tentar se curar, ficou grávida e, na fuga pelo território ucraniano, nasceu Chaya Pinkhasovna Lispector, em 10 de dezembro de 1920 (na época, pensava-se que uma mulher doente, com certas doenças, poderia se curar se ficasse grávida. Recentemente, em busca de informações sobre a família Lispector, Moser visitou a Ucrânia e descobriu que a crença persiste entre as mulheres do povo). Chaya significa “vida” em hebraico. No Brasil, o nome foi trocado para Clarice. Os pais, Pinkhas (mudou o nome para Pedro) e Mania (virou Marieta), chegaram ao Brasil, em 1922, com as três filhas, Elisa (o nome era Leah), Tânia e Clarice. Moraram em Maceió, Recife (paixão de Clarice) e Rio de Janeiro.

Aos 23 anos, Clarice publicou “Perto do Coração Selvagem” — obra de gênio (sua prosa não me entusiasma tanto, mas tenho de reconhecer a magnitude da escritura da autora) que entortou a cabeça dos críticos — os prós (menos) e os contras (mais). A recepção foi positiva, mas houve quem, como Álvaro Lins, atacasse com certa fúria. Talvez não tenha compreendido a “forma” do romance.

O escritor português Lobo Antunes, possivelmente numa leitura redutora, disse, numa entrevista publicada no livro “Uma Longa Viagem com António Lobo Antunes” (Porto Editora, 496 páginas), que a escritora surrupiou trechos da obra da inglesa Virginia Woolf. Lobo Antunes não diz quais são os trechos. A versão de Clarice, morta em 1977, aos 47 anos: “As críticas não me fazem bem. A do Álvaro Lins [...] me abateu e isso foi bom de certo modo. Escrevi para ele dizendo que não conhecia Joyce nem Virginia Woolf nem Proust quando fiz o livro, porque o diabo do homem só faltou me chamar ‘representante comercial’ deles”. Mais tarde, voltou ao assunto: “Não gosto quando dizem que tenho afinidade com Virginia Woolf (só a li, aliás, depois de escrever o meu primeiro livro): é que não quero perdoar o fato de ela se ter suicidado. O horrível dever é ir até o fim”.

Moser relata que “A irmã de Shakespeare”, texto de Clarice, é uma “reelaboração de um conto de Virginia Woolf sobre a hipotética Judith Shakespeare. ‘Quem’, Clarice citava a célebre frase de Woolf, ‘poderá calcular o calor e a violência de um coração de poeta quando preso no corpo de uma mulher?’”.

Clarice também rejeitava a comparação com a literatura de Jean-Paul Sartre, o de “A Náusea”. “Minha náusea é diferente da náusea de Sartre, porque quando eu era pequena não suportava leite, e quase vomitava o que tinha que beber. Pingavam limão na minha boca. Quer dizer, eu sei o que é a náusea no corpo todo, na alma toda. Não é sartriana”, frisou a autora de “O Lustre”. Ao comentar este romance, Moser escreve: “... o mundo exterior, para Virgínia [personagem do livro], não existe. A propósito, essa é outra razão pela qual as comparações de Clarice Lispector com Sartre são tão descabidas: o mundo da política, do ‘novo homem’, da revolução e da ideologia, é totalmente alheio a ela. (...) A liberdade de Virgínia vem somente de dentro.” Clarice, por sua própria história, não era, não tinha como ser stalinista ou engajada. Seu engajamento, se se pode assim, era mais literário, embora não fosse afeita a correntes estéticas. Não era missionária. Ou, se era, integrava uma “igreja” de um único membro. Era uma rebelde cuja causa era sua literatura.

Mesmo uma crítica positiva, feita pelo amigo Lúcio Cardoso, recebe reparos: “Gostei tanto. Fiquei assustada com o que você diz — que é possível que meu livro seja o meu mais importante. Tenho vontade de rasgá-lo e ficar livre de novo: é horrível a gente já estar completa”.

Na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial, quando seu marido era vice-cônsul em Napoles, Clarice atuou, ao lado da célebre enfermeira Elza Cansanção Medeiros, no auxílio aos pracinhas. “Visito diariamente todos os doentes. Dou o que eles precisam, converso, discuto com a administração pedindo coisas”, escreveu Clarice para Lúcio Cardoso.

O suposto interesse de Clarice por mulheres não é objeto de estudo do nem sempre discreto Moser. Há uma referência velada, quando Moser se refere à paixão de Clarice pela literatura de Katherine Mansfield. A brasileira leu “Felicidade”, livro da neozelandesa, e disse: “Este livro sou eu”. A Lúcio Cardoso, escreveu de Nápoles: “Não pode haver uma vida maior que a dela, e eu não sei o que fazer simplesmente. Que coisa absolutamente extraordinária que ela é”. A versão de Moser: “... a declaração ‘Não pode haver uma vida maior do que a dela’ levanta a questão sobre o que Clarice queria dizer a respeito de uma vida que incluía amantes de ambos os sexos, doença venérea, depressão, tuberculose e morte aos 34 anos”.

O interesse de Clarice por Spinoza e a influência do filósofo holandês em sua obra mostra uma autora muito mais densa do que habituei-me a pensar. “O romance que ela inicia em março de 1942, ‘Perto de Coração Selvagem’, torna óbvio que ela lera Spinoza com atenção”, sustenta Moser. “Eles compartilhavam certas similaridades biográficas importantes.”

Os amores de Clarice aparecem, em doses homeopáticas. O primeiro amor foi o escritor Lúcio Cardoso, o “Dostoiévski brasileiro”. A intensa paixão não foi correspondida, porque Lúcio Cardoso era homossexual juramentado. A escritora disse que iria “salvá-lo”, mas Francisco de Assis Barbosa (o grande biógrafo de Lima Barreto) pôs o pingo no i: “Ele nunca vai casar com você, é homossexual”. “Em tantas coisas éramos tão fantásticos que, se não houvesse a impossibilidade, quem sabe teríamos nos casado”, escreveu Clarice. “Mas eu vou salvá-lo. Ele vai gostar de mim”, replicou Clarice. Assis Barbosa estava certo.

O diplomata Maury Gurgel Valente, com quem Clarice se casou, parece ter sido o amor da acomodação. Gurgel era mais apaixonado do que ela. Pós-Gurgel, pai de seus filhos, Clarice apaixonou-se pelo poeta mineiro Paulo Mendes Campos (“Byron, aos 23 anos”). “Por um breve tempo, Clarice e Paulinho viveram uma grande paixão. (...) Formavam um estranho casal: Clarice, alta, loura e fascinante; e Paulinho, (...) baixo, moreno e, apesar do charme, fisicamente pouco atraente” (fico com a impressão de que Moser tem um estranho ciúme de Clarice). “Em termos de neurose, os dois foram feitos um para o outro”, disse Ivan Lessa.

Irritada com a traição de Campos, sua mulher, uma inglesa, ameaçou levar os filhos para a Inglaterra. O poeta recuou e abandonou Clarice. A escritora pediu o apoio do romancista Autran Dourado, que preferiu não se intrometer. “Ela o amou até morrer”, contou Rosa Cass, amiga da escritora.

Vários homens se apaixonaram pela “belíssima” e inteligente Clarice. Um deles, Ulysses Girsoler, terapeuta que trabalhava na Suíça, ficou loucamente apaixonado. Não há indícios de que tenha sido correspondido. Pelo contrário, teve de sair de Berna, por conta de sua paixão. Ulysses aplicou “um prolongado teste de Rorschach” e os resultados foram surpreendentes mas verdadeiros (páginas 257 e 258).

Os pequenos erros não invalidam o trabalho criterioso de Moser, de 33 anos. Uma falha é mais grave: a editora não publicou as notas do capítulo 8 — “Melodrama nacional”. A assistente editorial da Cosacnaify, Flávia do Lago, disse ao Jornal Opção e à Revista Bula que houve “um erro de revisão”, a ser corrigido na segunda edição. “Para corrigir a falha, a editora disponibiliza as notas faltantes para que sejam impressas ou baixadas no computador” (aqui). Numa edição tão cuidadosa, em que se fala excessivamente da beleza de Clarice, há apenas uma fotografia. Recomendo, para os aficionados, o livro “Clarice Fotobiografia” (Edusp e Imprensa Oficial, 652 páginas), de Nádia Battella Gotlib, também biógrafa da escritora. Há belíssimas fotos de Clarice, parentes e amigos.

O cachorro Dilermando

Quando morou em Nápoles, Clarice Lispector adotou o cachorro Dilermando, encontrado na rua. “Quanto a mim, foi só olhar que logo me apaixonei pela cara dele.”

O relato de Clarice: “Apesar de ser italiano, tinha cara de brasileiro e cara de quem se chama Dilermando. Paguei um dinheiro para a dona dele e levei Dilermando para casa. Logo dei comida a ele. Ele parecia tão feliz por eu ser dona dele que passou o dia inteiro olhando para mim e abanando o rabo. Vai ver que a outra dona dele batia nele [...] Dilermando gostava tanto de mim que quase endoidecia quando sentia pelo faro o meu cheiro de mulher-mãe e o cheiro do perfume que uso sempre. [...] Ele detestava tomar banho, pensava que a gente era ruim quando obrigava ele a esse sacrifício. Como dava muito trabalhar dar banho todos os dias e como ele fugia da banheira todo ensaboado, terminei dando banho só duas vezes por semana. O resultado, é claro, é que ele tinha um cheiro muito forte de cachorro e eu logo sentia com o meu faro, porque gente também tem faro”.

“Quando eu estava escrevendo à máquina, ele ficava meio deitado ao meu lado, exatamente como a figura da esfinge, dormitando. Se eu parava de bater por ter encontrado um obstáculo e ficava muito desanimada, ele imediatamente abria os olhos, levantava alto a cabeça, olhava-me, com uma das orelhas de pé, esperando. Quando eu resolvia o problema e continuava a escrever, ele se acomodava de novo na sua sonolência povoada de que sonhos — porque cachorro sonha, eu vi. Nenhum ser humano me deu jamais a sensação de ser tão totalmente amada como fui amada sem restrições por esse cão.” Em Napoles, Clarice teve depressão.

Às irmãs Elisa e Tânia, a autora de “O crime do professor de matemática” escreveu: “Você não sabe que revelação foi para mim ter um cão, ver e sentir a matéria de que é feito um cão. É a coisa mais doce que eu já vi, e cão é de uma paciência para com a natureza impotente dele e para com a natureza incompreensível dos outros... E com os pequenos meios que ele tem, com uma burrice cheia de doçura, ele arranja um modo de compreender a gente de um modo direto. Sobretudo Dilermando era uma coisa minha eu que não tinha que repartir com ninguém”.

Quando se mudou para a Suíça, teve de deixar Dilermando. “Para expiar a culpa por ter abandonado Dilermando, ela escreveu um conto, ‘O crime’, publicado num jornal do Rio em 25 de agosto de 1946. Ampliado e rebatizado de ‘O crime do professor de matemática’, esse é o mais antigo dos treze famosos contos de ‘Laços de Família’”, revela Benjamin Moser.

Trecho do conto “O crime do professor de matemática”

“Enquanto eu te fazia à minha imagem, tu me fazias à tua. Dei-te o nome de José para te dar um nome que te servisse ao mesmo tempo de alma. E tu — como saber jamais que nome me deste? Quanto me amaste mais do que te amei, refletiu. Nós nos compreendíamos demais, tu com o nome humano que te dei, eu com o nome que me deste e que nunca pronunciaste senão com o olhar insistente, pensou o homem com carinho. Lembro-me de ti quando eras pequeno, tão pequeno, bonitinho e fraco, abanando o rabo, me olhando, e eu surpreendendo em ti uma nova forma de ter minha alma. Eras todos os dias um cachorro que se podia abandonar”. (Do livro “Laços de Família”, de Clarice Lispector)



FOTOS DE CLARICE LISPECTOR: HOMENAGEM A ESSA GRANDE ESCRITORA



CLARICE LISPECTOR NASCEU NA UCRÂNIA, MAS VEIO AINDA BEBÊ PARA O BRASIL; SUA LÍNGUA MATERNA FOI O PORTUGUÊS E AO CONTRÁRIO DO QUE MUITOS PENSAVAM, ELA NÃO TINHA O PORTUGUÊS COMO SUA SEGUNDA LÍNGUA. CLARICE LISPECTOR TINHA ERA A LÍNGUA PRESA.
VANDA


Clarice Lispector por Dimitri Ismailovitch. Imagem faz parte do livro "Clarice Fotobiografia"


Clarice Lispector por Dimitri Ismailovitch. Imagem faz parte do livro












Imagem de Clarice menina, em Recife. Foto faz parte do livro "Clarice Fotobiografia"


Imagem de Clarice menina, em Recife. Foto faz parte do livro





Retrato a óleo de Clarice Lispector pintado por Giorgio de Chirico, em Roma, em 1945


Retrato a óleo de Clarice Lispector pintado por Giorgio de Chirico, em Roma, em 1945




Clarice e Maury Gurgel Valente no vulcão Vesúvio. Imagem faz parte do livro "Clarice Fotobiografia"


Clarice e Maury Gurgel Valente no vulcão Vesúvio. Imagem faz parte do livro






Clarice no período em que morava nos Estados Unidos. Foto faz parte do livro "Clarice Fotobiografia"


Clarice no período em que morava nos Estados Unidos. Foto faz parte do livro







Clarice na passeata contra a ditadura militar, no Rio de Janeiro, em 22 de junho de 1968


Clarice na passeata contra a ditadura militar, no Rio de Janeiro, em 22 de junho de 1968






Da esq. para a dir.: Fauzi Arap, José Wilker, Glauce Rocha, Clarice Lispector e Dirce Migliaccio


Da esq. para a dir.: Fauzi Arap, José Wilker, Glauce Rocha, Clarice Lispector e Dirce Migliaccio







Retrato de Clarice feito pelo pintor Carlos Scliar. Foto faz parte do livro "Clarice Fotobiografia"


Retrato de Clarice feito pelo pintor Carlos Scliar. Foto faz parte do livro

HOMENAGEANDO CLARICE:FOTOS DE LISPECTOR







CLARICE LISPECTOR MERECE SER SEMPRE LEMBRADA.

























A lucidez perigosa
CLARICE LISPECTOR

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.


Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.


Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.


Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.













































CLARICE E SEU FILHO

CLARICE LISPECTOR: " NOSSA TRUCULÊNCIA"

Nossa truculência

CLARICE LISPECTOR


Quando penso na alegria voraz
com que comemos galinha ao molho pardo,
dou-me conta de nossa truculência.
Eu, que seria incapaz de matar uma galinha,
tanto gosto delas vivas
mexendo o pescoço feio
e procurando minhocas.
Deveríamos não comê-las e ao seu sangue?
Nunca.
Nós somos canibais,
é preciso não esquecer.
E respeitar a violência que temos.
E, quem sabe, não comêssemos a galinha ao molho pardo,
comeríamos gente com seu sangue.


Minha falta de coragem de matar uma galinha
e no entanto comê-la morta
me confunde, espanta-me,
mas aceito.
A nossa vida é truculenta:
nasce-se com sangue
e com sangue corta-se a união
que é o cordão umbilical.
E quantos morrem com sangue.
É preciso acreditar no sangue
como parte de nossa vida.
A truculência.
É amor também.