sexta-feira, 16 de julho de 2010
Nem só de pão vive o homem...
Começo o meu final de semana fazendo uma reflexão e um desafio para todos os educadores mineiros e demais pessoas que visitam este blog. A nossa maravilhosa "Revolta dos 47 dias" - nome mais apropriado do que uma greve de 47 dias -, entre outras questões, como a salarial, teve o mérito de balançar as estruturas de poder em Minas Gerais.
Durante os quase oito anos de reinado absoluto do faraó e seu afilhado não deve ter acontecido um momento semelhante de confronto com o poder faraônico e seus tentáculos espalhados nos demais poderes e na mídia domesticada. O faraó ficou literalmente nu, além de mudo, pois nada pode dizer diante das realidades que foram se revelando.
O silêncio imposto pelo faraó e seu grupo aos cidadãos mineiros durante quase oito anos se voltou contra ele, que permanece mudo até o momento. Nem uma palavra sequer sobre os problemas da Educação e do reposicionamento dos servidores. Enquanto isso, o afilhado é exposto às multidões para receber sozinho as pedras, quando ele teve um papel de coadjuvante com o faraó, que pretende sair imune nessa história. Mas, foi ele, o faraó, com o auxílio direto do seu afilhado, quem implantou a política de choque de gestão em Minas, que se traduz no achatamento salarial dos servidores e no total controle da mídia e dos demais poderes constituídos, que abriram mão da autonomia relativa que deveriam ter, para se ajoelhar perante o projeto neoliberal de dominação do faraó e seu grupo.
Não vou dizer que no Brasil a coisa seja muito diferente dessa realidade mineira, não. A imprensa nacional é toda ela dominada por poucas famílias (Civittas, Frias, Marinhos, e suas filiais regionais), que têm o golpismo enraizado até as entranhas. Os poderes constituídos em escala nacional, STF e Congresso Nacional, também não inspiram credibilidade, pelas atitudes na maioria das vezes ligadas aos interesses dos de cima. Em suma, o Brasil não respira uma verdadeira democracia, embora os representantes das elites encham a boca para falar em liberdade de opinião, respeito aos direitos dos cidadãos e democracia.
Na nossa maravilhosa revolta-greve dos 47 dias nós sentimos na pele o abismo existente entre o que está na lei e o que é praticado. A greve foi indecentemente considerada ilegal, quando a ilegalidade deveria ser submeter uma categoria como a dos educadores a níveis tão baixos de salários e condições de trabalho. E retiramos dessa experiência a compreensão de que se quisermos garantir nossos direitos e nossos espaços enquanto assalariados e cidadãos vamos ter que arrancá-los na luta.
Não podemos de maneira alguma continuar respirando ares de terror, de um clima de medo, de submissão dos de baixo, pois isso contraria a natureza humana, que nunca se curvou, nunca, em nenhum momento da história, aceitou passivamente a escravidão e outras variantes de exploração.
A insubmissão perante a exploração e a opressão é parte social, cultural e estrutural de todos aqueles que não perderam minimamente a capacidade de pensar e de sonhar. Os educadores de Minas tornaram-se uma fonte de inspiração para todas as demais categorias de assalariados de Minas e também do Brasil.
Não tenham dúvida de que o próximo governante, seja ele quem for, vai jogar pesado para desarticular e quebrar este movimento, como aliás tentaram fazer o faraó e seu afilhado nos quase oito anos de governo. E de certa forma haviam quase conseguido. Na proprrogação do segundo tempo, nós, os educadores, demos o troco, sacudindo Minas Gerais e mostrando que com a força organizada de mais de 200 mil trabalhadores não se brinca.
Por isso, para além das necessárias conquistas salariais e de melhores condições de trabalho, precisamos também conquistar e consolidar os espaços e os direitos de uma democracia que mereça este nome, mesmo nos marcos de um estado burguês. O direito de greve, o não corte de ponto dos grevistas (outro dia me disseram que quem inaugurou em Minas esta canalhice de cortar ponto de professores em greve foi um personagem que não vou citar aqui porque não confirmei a inacreditável informação que recebi, ainda), a democratização dos meios de comunicação - inclusive com a proibição de anúnicos governamentais em jornais, rádios e TVs que se recusarem a abrir espaços para os movimentos sociais -, a não criminalização dos movimentos sociais e a discussão pública dos orçamentos dos poderes constituídos, entre outras coisas.
As bandeiras democráticas, que eram muito comuns na época da ditadura militar, precisam ser retomadas, pois vivemos a continuação daquela ditadura sob outras formas. A absoluta privatização dos cofres públicos, por exemplo, cujos recursos estão voltados para beneficiar empreiteiras, banqueiros, latifundiários do agronegócio, etc, precisa acabar. No lugar disso, maior investimo na Educação pública - principalmente no ser humano-educador -, na Saúde pública, no saneamento e na moradia popular, pelo menos.
Um bom exemplo da má utilização do dinheiro público foi a construção das pirâmides do faraó, que custou em torno de R$ 1,5 bilhão de reais. Quantas milhares de casas populares, hospitais e clínicas médicas, obras de saneamento e salários mais justos para os servidores poderiam se fazer com estes recursos?
Não se pode mais continuar convivendo com uma situação onde um grupo de políticos, seja em que esfera for - federal, estadual ou municipal - decida sozinho, ao sabor dos interesses de uma minoria, o que fazer com os recursos públicos. Não me venham dizer que essas obras faraônicas foram aprovadas na "Casa do Povo" - o parlamento -, pois, com este parlamento prostituído e afastado do povo que temos não se pode falar em uma verdadeira representação. Um sistema em que as pessoas não têm o controle direto sobre aqueles nos quais votaram - inclusive com o direito de cassar este mandato caso não corresponda às expectativas criadas -, não é uma representação verdadeira, mas uma farsa. Um engodo.
Portanto, colegas educadores, é bom que tenhamos em mente esse grande desafio, de estar lutando ao mesmo tempo por melhores salários e condições de trabalho e pela real democratização da sociedade e do cotidiano em que vivemos - inclusive nas escolas, onde, em alguns locais, prevalecem práticas ditatoriais e autoritárias que reproduzem o que se vive na realidade política em Minas e no Brasil.
E nós, educadores de Minas, tornamo-nos fonte de inspiração e depositários desse desafio para com a população mineira e brasileira. E temos que corresponder a isso, para o nosso bem e para o bem de todos os de baixo, assalariados-explorados como a gente. Numa batalha que transcende a importante e necessária luta cotidiana pelo pão, que alimenta o nosso corpo, mas que precisa também alimentar a sede de justiça e de liberdade que acompanha a alma humana.
* * *
Links e temas relacionados:
- Blog da Cris
- Diário de Classe - Intersindical
- Blog do COREU
- Blog Em Busca do Conhecimento
- Site oficial do Sind-UTE
- S.O.S. Eudcação Pública
- Proeti no Polivalente
- Sind-RedeBH - Blog do Coletivo Fortalecer
- Movimento Classista dos Trabalhadores em Educação
Visitem também os blogs e sites recomendados pelo nosso blog.
Postado por Blog do Euler às 08:06
4 comentários:
Dinha disse...
Adiada - Ficou para o segundo semestre, a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 61/10, do governador, que determina que os servidores da área da educação sejam remunerados por subsídios. A proposição teve a discussão encerrada, mas ainda aguarda votação em 1º turno.
Euler , tudo bem, tirei isto da ALMG vc sabe falar sobre isso? Podemos ter esperança?
Abraços Dinha.
16 de julho de 2010 10:57
polivanda@gmail.com disse...
EULER,
BRAVO, BRAVÍSSIMO PARA O SEU TEXTO!
ESTOU EM CASA ,DE PÉ ENGESSADO, LENDO SEU BLOG E PENSANDO: TIVE QUE PAGAR CONSULTA PARA O ORTOPEDISTA(PEDI UM DESCONTO)E PAGUEI O GESSO TAMBÉM PARA NÃO TER QUE ENFRENTAR FILA NO INSS. O NOSSO PLANO DO ESTADO, AQUI EM SÃO JOÃO DEL REI, NÃO COBRE O CONVÊNIO MÉDICO COM ALGUNS PROFISSIONAIS DA SAÚDE, INCLUINDO ORTOPEDISTA.
E FICO PENSANDO QUE ESTUDAMOS TANTO PARA NÃO TERMOS DIREITO A UM PLANO DE SAÚDE DECENTE! E QUANDO PAGAMOS CONSULTA PARA UM MÉDICO, TEMOS QUE "CHORAR" DESCONTO PORQUE O QUE GASTAMOS EXTRA FAZ FALTA EM NOSSO ORÇAMENTO. O EXTRA É GASTO COM A NOSSA SAÚDE! E DEPOIS TEM OS REMÉDIOS...ENFIM: ENQUANTO MUITOS LAVAM E ENXUGAM SEUS MILHÕES, OU MELHOR, NOSSOS MILHÕES ( DINHEIRO PÚBLICO ), FICAMOS CONTANDO NOSSO DINHEIRO PARA PODER ATÉ MESMO PRESERVAR E CUIDAR DA NOSSA SAÚDE. E, COM CERTEZA, ESSES MEUS GASTOS EXTRAS NÃO VIERAM DO MEU SALÁRIO DO ESTADO ( ESSE ACABA EM DOIS DIAS!)!!!
TODOS MERECEMOS RESPEITO E DIGNIDADE E É POR ISSO QUE ASSINO EMBAIXO DO QUE VC ESCREVEU: PRECISAMOS MANTER ACESA ESSA CHAMA DE UNIÃO, MESMO QUE MUITOS AINDA NÃO ACREDITEM NESSA NOSSA LUTA, NEM NOS SINDICATOS OU SIND-UTE/MG.
ABRAÇÃO E BOAS FÉRIAS!
16 de julho de 2010 15:57
vander disse...
Euller, sou um leitor assíduo do seu blog, e lendo sua reflexão não posso deixar de comentar que aqui, em São Joãoo del Rei, na "terra do avô" do famigerado faraó, ele começou seu estágio de dominação dos meios de comunicação. Aqui, na "terra da liberdade" como dizia o velho, ele comanda com mão de ferro uma rádio AM, 2 FMs, um jornal impresso e a rede de TV local. São 24 horas por dia de lavagem cerebral. Vou sobrevivendo sem nenhum arranhão. Euller continue com suas reflexões e comentários sensacionais. Abraços, Vander São João del Rei Ps. imagine o inferno que vivo aqui KKKKKKKKK
16 de julho de 2010 17:17
Blog do Euler disse...
Olá, colegas de luta Vander, Vanda e Dinha!
Graças a meu bom e generoso Deus, a encantadora cidade de São João Del-Rei, se de um lado produziu o faraó e seu avô, por outro equilibrou, presenteando a população com o Vander e a Vanda, que são mil vezes mais importantes do que aqueles.
Além da nossa ida e ocupação da cidade de São João durante a nossa maravilhosa revolta-greve dos 47 dias, estive nesta cidada pelo menos duas vezes, anteriormente; uma delas, participando de um seminário sobre Patrimônio Cultural Imaterial. Cidade bonita, aconchegante. As badaladas dos sinos das igrejas formam um diálogo maravilhoso - há um ou mais documentários sobre este tema, que aliás virou patrimônio nacional.
Vanda, espero que se recupere rapidamente.
Vander, nem toda a lavagem cerebral que tentam fazer através das mídias vai abafar a nossa voz.
Dinha, vamos aguardar o desfecho da novela do subsidio. De qualquer forma, nossa posição é clara: em janeiro de 2011 queremos receber as novas tabelas salariais e vamos lutar para aprimorá-las, com o posicionamento por tempo de serviço, quinquenios para todos, reajuste com indice especificado, etc. Se o novo governante vai manter o subsídio ou pagar em forma de vencimento básico é uma questão a ser discutida.
Um abraço a todos e um ótimo final de semana!
Euler
17 de julho de 2010 07:52