sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Euller :"A categoria que emerge da nossa luta pela conquista do piso."

sexta-feira, 26 de agosto de 2011



Presença de educadores mineiros na marcha unificada que aconteceu no dia 24/08 em Brasília. De acordo com os organizadores, havia cerca de 20 mil pessoas no manifesto, entre profissionais de diversas categorias, trabalhadores do campo e das cidades. Essa grande manifestação denuncia o que as categorias estão sofrendo com a política do Governo Federal e as praticadas em diversos estados que também se faziam presentes na manifestação. Alunos, Professores e Funcionários Públicos ligados à educação representaram a Ala dos Educadores. A subsede do sind-UTE de Vespasiano e São José da Lapa marcou presença no evento, representada pelos combativos colegas Edeney, Maria Helena e Kerolay.

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A categoria que emerge da nossa luta pela conquista do piso



Dizia o filósofo Heráclito que “a mesma água nunca passa duas vezes por baixo da mesma ponte”. Assim são (somos) os educadores de Minas após os embates travados em 2010 e em 2011, especialmente. Em 2010 não tivemos força para arrancar os nossos objetivos, embora tivéssemos conseguido realizar uma maravilhosa revolta-greve de 47 dias, dando um tom diferente ao final da gestão do faraó e ao início da nova gestão.

Agora em 2011, uma nova realidade foi estabelecida após a aprovação, pelo STF, da constitucionalidade do piso salarial nacional dos educadores, no dia 06 de abril. Foi um marco para a nossa luta, pois representou uma mudança radical nas perspectivas até então desenhadas pela categoria. A partir de então, ao contrário do governo, que não se curvou ao novo cenário, a categoria dos educadores manteve-se firme em torno de um objetivo central: a conquista do piso, e com ele, a salvação da carreira ameaçada pelo subsídio. É possível dizer, hoje, após 80 dias de uma heroica greve, que estamos próximos da nossa vitória.

Mas, como bem lembram muitos/muitas dos nossos ilustres visitantes, a conquista do piso neste momento representa a vitória de uma batalha. Importantíssima, sem dúvida alguma. Digna de todas as comemorações. Mas, é uma batalha, numa longa guerra pela valorização dos educadores, pela educação pública de qualidade para todos, e pela permanente busca de um mundo melhor para todos.

Considero que muitas coisas estejam acontecendo conosco nesses dias que marcam a nossa luta pela conquista do piso salarial. Reparem que o alvo central da luta: o piso - na verdade uma mísera soma em dinheiro -, ganhou outra dimensão, houve uma transmutação do objeto piso em muitos outros significados e valores. De repente, lutar pelo piso virou também sinônimo de lutar contra a ditadura civil instalada em Minas; contra a censura na imprensa, contra a justiça pró-governo, contra a omissão do ministério público, contra o papel negativo do legislativo mineiro; e em favor de mais democracia nas escolas, de mais solidariedade, da busca pela união interna (na categoria) e com outros movimentos e grupos sociais.

Então nós podemos dizer que o saldo da nossa luta de 80 dias (até o momento), além do valor monetário materializado no piso que estamos próximos de conquistar - e que é muito importante, porque dependemos dele para sobreviver -, é expresso também nas conquistas políticas que estamos arrancando ou construindo com a nossa luta.

Não somos mais os mesmos, poderíamos dizer. Ou então, talvez, devêssemos dizer: somos exatamente os mesmos, por mantermos a nossa essência, porém somos ao mesmo tempo uma outra pessoa, ou um nós mesmos melhorados. Adquirimos, através do rico e variado contato com muitos valorosos colegas das mais diferentes regiões de Minas e até do Brasil e do mundo, conhecimentos, experiências, aprendizados que no dia a dia da nossa rotina talvez não conseguíssemos.

Daí emerge a necessidade de não colocarmos tudo a perder, com uma dispersão imposta pela dureza do cotidiano comum a um educador. O dia a dia em sala de aula cria sempre muitas possibilidades, mas quando nos fechamos no universo de uma escola, apenas, ou de um pequeno grupo, podemos perder as perspectivas de um universo maior, mais amplo, com um alcance superior àquele a que a realidade diária nos impõe.

Isso acontece muito com vários colegas que não aderiram à greve. Em parte, reflete a falta de visão, de compreensão política e comprometimento com o coletivo. É comum que o universo do capitalismo no qual estamos todos submetidos (em todo o planeta, sem exceção), reproduza pessoas egoístas, voltadas para o seu pequeno mundo, como reflexo da disputa cega criada pelo mercado. Claro que não conseguiremos abolir nem nos outros, e nem em nós mesmos, tudo aquilo que consideramos politicamente equivocado. Mas, podemos avançar, podemos aprimorar, podemos ficar melhores.

Hoje mesmo pela manhã, visitando uma escola de Vespasiano, numa conversa aberta que travei com vários alunos que estão recebendo aulas dos substitutos, uma delas me disse, após ouvir a minha crítica à prática da substituição dos grevistas: "Mas, professor, você não acha justo que estas pessoas, mesmo sem formação, sejam respeitadas também? Afinal, elas estão procurando uma forma de sobrevivência. Isso faz parte da luta pelo mercado".

Foram mais ou menos essas as palavras sinceras da aluna. Respondi de imediato que escola não pode ser equiparada ao mercado. Que as pessoas tinham todo direito de trabalhar para sobreviver, mas não dessa forma, furando greve, contribuindo com o governo para prejudicar a carreira dos educadores, especialmente por parte de pessoas que não são sequer habilitadas. Disse-lhe que estamos sem salário e que as pessoas contratadas serão demitidas assim que voltarmos, sendo usadas justamente para prejudicar o nosso movimento.

E como o tempo era curto, pois estávamos no recreio e a direção da escola começava a chamar os alunos para dentro das salas, não pudemos aprofundar mais aquele importante diálogo. Mas, eu comentei com alguns colegas grevistas que compunham nosso NDG (núcleo duro da greve) ali presente: que concepção de cidadania muitos dos nossos alunos estão aprendendo em sala de aula? Ou então: que concepção estão aprendendo fora da escola, e que infelizmente não temos sido capazes de desconstruir tais concepções em sala de aula?

Mas, claro que, para que isso ocorra, nós, educadores, temos que mudar. Nas escolas onde existe um NDG atuando o ano inteiro é muito comum que tenha havido uma grande adesão ao nosso movimento. Ao contrário, nas escolas onde prevalecem concepções egoísticas, cada qual cuidando do seu interesse pessoal, observa-se uma baixa adesão à greve.

Agora com a coquista do piso, que seguramente virá - e por isto temos que manter a greve até a nossa vitória - será possível demonstrar o quanto foi a nossa luta coletiva que produziu aquela conquista. Muitos que inclusive optaram pelo antigo sistema não participam da nossa greve. Tinham ciência de que o subsídio era pior, mas não tiveram coragem de lutar por aquilo que era melhor para todos, inclusive para eles. Se todos nós tivéssemos essa mesma atitude egoísta, voltada para o nosso mundo pessoal, sem correr nenhum risco, sem ter os salários cortados, sem passar pelas dificuldades que estamos passando, seguramente o piso não seria implantado em Minas. Mesmo com o acórdão do STF publicado. Não haveria nenhum esforço para esclarecer as vantagens do piso sobre o subsídio; não haveria nenhuma campanha pelo retorno ao antigo regime remuneratório; não haveria nenhuma pressão social movida pela greve e pela nossa atuação cotidiana em muitas frentes de ação contra os ataques diários do governo e da sua máquina de poder. Teríamos sido esmagados facilmente, tendo que sobreviver com o subsídio, uma categoria desunida, submetida a todo tipo de pressão psicológica, além dos muitos confiscos salariais que teríamos.

A luta pelo piso não ganhou força por razões ideológicas, abstratas, complexas, não. Pelo contrário. O piso era (é), no exato momento em que confirmara-se enquanto vencimento básico, um mecanismo concreto de conquistar melhores condições salariais e de trabalho. As lutas sociais, quando não se deixam perder pelos promessas ocas dos políticos profissionais, são um pouco assim, ou seja, são a expressão de necessidades concretas de sobrevivência. É assim com os sem-terra, com os sem-teto, com os educadores, com eletricitários, guardadas as diferenças específicas de cada movimento.

Mas, temos em comum a disputa com os de cima pelas fatias daquilo que produzimos, e que, na forma como a sociedade está organizada, tendem a se concentrar nas mãos dos de cima. Aos de baixo, somente através de muita luta, organizada e unida, será possível pelo menos diminuir essa diferença social, até que uma outra forma social seja repensada como solução para superar a forma atual. Mas, claro que isso através de um longo processo de lutas.

Por ora, contentamo-nos com o nosso piso, que está muito aquém do que merecemos, mas que é a expressão de uma conquista, e por isso mesmo vem embalado de um conteúdo simbólico todo especial. É conquista dos que lutam. É conquista da nossa luta, de todos os que tiveram a coragem de entrar em greve e se unir aos demais colegas para travar as mais bonitas batalhas que pudemos observar nos últimos anos.

E é claro que não podemos parar por aqui. Temos muito a conquistar. Queremos mais democracia interna (nas escolas, no estado) e externa (na mídia, na justiça, no legislativo, etc). Aprendemos que é preciso envolver os alunos e os pais de alunos nessas nossas lutas, pois a nossa causa - a educação pública de qualidade e a valorização dos educadores - é uma causa muito maior do que a luta isolada de uma categoria de trabalhadores. É uma causa de todos os de baixo, contra os ataques dos governos e dos setores que tentam privatizar cada vez mais a Educação; que tentam reduzir o papel do ensino à uma visão empresarial e tecnicista, apartada de um universo humanista e filosófico mais amplo. Temos um reajuste anual a garantir nacionalmente (e esta é uma luta nacional), não permitindo que nos roubem percentuais nas negociatas mafiosas dos partidos e governantes das mais diversas cores ideológicas, das três esferas de poder.

Enfim, colegas, enquanto tocamos as nossas atividades atuais para manter e fortalecer a nossa maravilhosa greve até a nossa vitória, que se aproxima, devemos pensar nesses pontos de reflexão que estão sendo levantados aqui por muitos combativos/as colegas. Não temos o direito de permitir que a nossa luta possa se esvair após a nossa importante conquista.

Que o nosso NDG - na luta pela base - se fortaleça, multiplique-se e transforme-se numa grande corrente de ação e de pensamento a produzir e reproduzir pessoas melhores e preparadas para lutar pelos interesses comuns dos de baixo, incluindo os educadores.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória! Atual e futuras!

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P.S.1 - Amanhã quero falar sobre o que esperamos que o governo faça para colocar um fim na greve.

P.S.2 - Um abraço
aos bravos e bravas colegas que conheci durante as últimas assembleias. Através dos relatos destes colegas, vou sabendo um pouco sobre as realidades de cada local, o que nos dá uma visão de como a nossa greve está forte em Minas Gerais. Mando aqui o meu abraço aos colegas de Governador Valadares, de Itabirito, de Montes Claros, de Varzelândia, Pedro Leopoldo, Confins, João Monlevade e tantas outras cidades, onde os valentes educadores estão presentes à nossa luta.

Escolas em greve
- Quero fazer aqui uma observação que já havia comentado antes: algumas escolas, tidas como referência na região, precisam entrar no mapeamento para a ação organizada do NDG da região. Vou dar cinco exemplos de escolas que são referência para suas respectivas regiões, claro que sem desprezar as demais, todas elas igualmente importantíssimas.

- E.E. Elias Issa
, em São José da Lapa - 100% parada - é referência para a região. Parabéns aos bravos educadores que lá trabalham. Nenhuma contratação realizada até o momento.

- E.E. Machado de Assis
, em Vespasiano - escola polo e referência para a região. Não fossem algumas poucas contratações de substitutos estaria 100% paralisada. O NDG precisa analisar esta situação e tentar mudar aquele quadro para a situação anterior, de 100% de paralisação. Á grande maioria que permanece firme na luta os nossos parabéns!

- Colégio Estadual Central, em BH: maior escola do estado e escola referência em BH - pelo que sabemos, e pelo que foi mostrado pela mídia -, está 100% paralisada. Parabéns aos educadores e aos alunos, que ao que parece tiveram importante papel na adesão de todos.

- E.E. Renato Azeredo
, Vespasiano: escola referência do Morro Alto e região. Estava 100% paralisada, mas houve algumas poucas contratações para a escola anexa. Mas, o NDG com o apoio dos estudantes - ou graças ao pedido dos alunos -, parece que vai reverter essa situação.

- E.E. Madre Serafina de Jesus
, em Itambacuri. Soube que se trata da maior escola e referência na região: 100% paralisada desde o dia 08/06. Estão de parabéns os bravos educadores que trabalham naquela importante escola e estejam seguros de que a persistência de vocês muito está contribuindo para um desfecho favorável à nossa luta.

Nos próximos dias
, vou trazer aqui novos informes das escolas que estão paralisadas, parcial ou totalmente, servindo de inspiração e de exemplo para toda Minas Gerais. Parabéns aos bravos educadores que constroem a nossa vitória com sua luta.
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Comentário do Blog: (como não estou conseguindo postar no modo tradicional, vou colocar aqui, manualmente, o comentário a seguir, às 13h12m)

Pessoal da luta, membros do NDG,

Vejam bem que situação ridícula a deste governo:

1) primeiro ele diz que pagava até mais do que o piso através do subsídio. Na TV, a secretária da Educação chegou a falar que pagava 85% a mais do que o piso proporcional do MEC;

2) agora que o STF determinou o pagamento do piso, não cabendo mais recursos e lorotas, o mesmo governo diz que não pode pagar sequer o piso proporcional do MEC. Ora, quando é o governo fala verdade para a população mineira? Ele pagava até mais do que o piso antes e agora diz que não pode pagar nem o piso proporcional do MEC?;

3) a mídia mimeira nos deve um direito de resposta pelas mentiras que vem publicando diariamente. Ela repercutiu essa fala do governo de que estaríamos em greve por razões políticas. Hoje mesmo, ao que parece, um jornalista imbecil teria dito que somos massa de manobra de um deputado. Exigimos direito de resposta!;

4) em abril deste ano o governo já sabia que teria que pagar pelo menos o piso proporcional do MEC. Mesmo assim concedeu aumento de 100% para a PM e mais 10% para todos os outros servidores do estado, menos para a Educação. Além disso, no início do ano realizou enorme contratação, através de leis delegadas, de centenas de cargos políticos fruto de compromissos eleitorais. E agora nos vem falar em limites da LRF? Não aceitamos esse argumento. Por que essa lei funciona somente contra os educadores de Minas? Que reduzam os salários dos de cima, que demitam os cargos de confiança, mas não nos imponham este argumento ridículo.

Aliás, o governo propôs aumento para diretores e vice-diretores, enquanto diz que não pode pagar o miserável piso de R$ 1.187,00, nem na sua forma proporcional, que é R$ 712,20 para o profissional com ensino médio. Ora, nos poupem!;


5) concordo com o Rômulo e com a Josélia, quando criticam esse rebaixamento da nossa luta tentando atribuir nossas conquistas a uma suposta ação do ex-presidente da república. Em oito anos de governo Lula o nosso piso não foi assegurado! Os banqueiros receberam em dia mais de 600 bilhões de reais; o agronegócio foi beneficiado, os grandes empresários tiveram lucros como nunca antes nesse país; mas nós, educadores estamos lutando por um piso miserável até o dia de hoje.

Então, na minha opinião, quando se trata dos interesses dos de baixo, tanto o governo FHC, quanto o governo Lula, guardadas algumas diferenças em favor deste (como o Bolsa Família e o Prouni) agiram com muito mais coisas em comum do que com diferenças. Nós, os de baixo, especialmente os educadores da educação básica, continuamos excluídos e prejudicados, tanto antes como atualmente.

Essa encenação de que Lula teria convocado o ministro Haddad para saber o porquê dos estados não pagarem o piso é algo ridículo e me assusta até que alguém leve a sério uma coisa dessas. Afinal, por que o Lula não chamou o Haddad para fazer tal pergunta enquanto ele era presidente da República? E por que a Dilma não faz isso agora, enquanto está na presidência?

Então, turma da luta pela base, eu confio na força da nossa luta, da nossa mobilização pela base e não nos conchavos de cúpula, quase sempre voltados para nos ferrar, literalmente!

Vamos manter a nossa unidade e mobilização pela base e não aceitar nenhuma desculpa para que o governo de Minas não pague o piso.

Vejam que coisa ridícula: o governo diz que não tem dinheiro para nos pagar o piso e ao mesmo tempo fala em ampliar as contratações de substitutos! Que ridículo! Que humilhante! Que descaso com os educadores, com os alunos e com a população mineira!

Não podemos aceitar uma coisa dessas! Temos que reforçar e ampliar a nossa greve e envolver toda a sociedade nessa luta! Estão querendo destruir a educação pública e nos incriminar pela ilegalidade que eles estão cometendo.

Não vamos aceitar isso! Exigimos respeito! Exigimos que o governo preste contas do que vem fazendo com os recursos da Educação! Exigimos que nos pague os nossos salários mesmo em greve e que nos pague o piso a que temos direito!

Se for necessário, que o governo reveja todos os gastos do estado e corrija e retire os privilégios existentes nos três poderes, mas não venham querer retirar o nosso direito ao piso e a todas as nossas conquistas!

Um forte abraço e desculpem o desabafo, pois tem hora que é duro ver e ouvir certas coisas sem desabafar!

P.S.: O direito de resposta à ofensa do jornalista da Rádio Itatiaia que nos chamou de "massa de manobra" de um deputado deve ser dado aos 150 mil grevistas, e não ao deputado. Nós é que fomos ofendidos.

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