quinta-feira, 15 de março de 2012

EULLER:"A nossa categoria vai renascer para novas conquistas... Apesar das aparências."

QUINTA-FEIRA, 15 DE MARÇO DE 2012

A nossa categoria vai renascer para novas conquistas... Apesar das aparências


A nossa categoria vai renascer para novas conquistas... Apesar das aparências


Se alguém tirasse um retrato do cenário atual dos educadores de Minas Gerais poderia pensar que a categoria está fragilizada, desunida, desencantada com a profissão, com o presente e com o futuro. A expressão desta aparência momentânea não deve ser medida pela baixa adesão à greve de três dias, que, como dissemos aqui, já era previsto. Saímos de umconfronto de 112 dias contra a poderosa máquina do estado, envolvendo todos os poderes, que se uniram para nos massacrar. Esperar que em tão pouco tempo, com as perdas que tivemos - materiais e emocionais - a categoria se levantaria em massa para aderir a esta paralisação de três dias, apenas, é algo um pouco fora da realidade, pelo menos da de Minas Gerais. Teria sido mais sensato declarar que este não é o melhor momento para realizarmos uma nova paralisação e convocar a categoria para atividades de protesto, sem pressioná-la para que ela aderisse à paralisação convocada pela entidade que se omitiu durante a nossa greve de 112 dias.

Por isso, não considero que a baixa adesão a este movimento reflita a real disposição de luta e combatividade da nossa categoria. Quem apostou no tudo ou nada em relação a esta paralisação precisa repensar a forma de agir e de interagir com o movimento dos educadores.

A nossa principal luta foi travada no ano passado, com a greve de 112 dias, ainda no início do novo governo - com o forte apoio do NDG. Era inevitável travar aquela luta, se não quiséssemos pelo menos tentar conquistar e manter nossos direitos, que estavam - e foram - sonegados. Infelizmente, dadas às condições que conhecemos - a força da máquina do estado, somada à baixa organização e unidade da categoria, entre outros fatores, - fomos derrotados nos nossos objetivos, embora tenhamos dado prova da nossa combatividade e da nossa capacidade de resistência.

Mas tivemos muitas perdas materiais e emocionais. Perdemos o piso, a carreira, tivemos nossos salários reduzidos, a reposição ainda não foi paga, o governo alterou a forma de escolha de turmas sem consultar a categoria, etc. Tem havido, na sequência, práticas que não deveriam existir, como a pressão psicológica de algumas inspetoras sobre os profissionais da Educação nas escolas; a proibição de que os professores possam lanchar e tomar café em algumas escolas; a não contratação de professores; a superlotação em algumas unidades educacionais, a volta das turmas multiseriadas no ensino regular, etc. São práticas que denotam um governo pouco preocupado com a Educação pública, e menos ainda com as realidades dos profissionais da Educação. O governo continua tratando os educadores com descaso, não dialogando seriamente, não ouvindo as críticas, e apostando na divisão da categoria.

É um jogo perigoso por parte do governo, porque seguramente não será possível manter a panela sob essa forte pressão o tempo todo. Em algum momento, ela vai explodir, caso o governo não crie mecanismos sérios de diálogo com a categoria. Como e quando ocorrerá essa explosão? É impossível prever, mas é certo que a categoria dos educadores não aceitará eternamente este processo de pressão.

E isso coloca para a categoria o desafio de repensar o movimento. Se de um lado estamos diante de governos - estadual, federal - com baixa sensibilidade para com a Educação, de outro, estamos com problemas internos, na categoria, para nos organizar, nos unir, nos preparar para travar o bom combate contra os governos.

É preciso retomar a confiança em nós mesmos, na nossa capacidade de resistir, de nos organizar e lutar, de forma criativa. Mas, isso não se faz repetindo os erros do passado recente. A estratégia da direção sindical é a de realizar atividades meioespetaculosas, tipo congresso ou paralisações-relâmpago. Nesta forma de agir, tenta-se provar que a categoria está viva. Mas é preciso ter cuidado para não se provar o inverso, ainda que seja só na aparência.

A nossa categoria precisa retomar o trabalho de base, nas escolas, nos recreios - como bem lembrou a nossa combativa colega Marly Gribel em um dos seus textos - e realizar um trabalho mais intenso com a comunidade. A nossa mais poderosa arma será a adesão da comunidade escolar à nossa causa. Envolver os alunos, os pais de alunos, os moradores da região da escola, para este debate sobre o papel da Educação pública, a necessidade de uma política de valorização dos educadores como parte integrante de um ensino de qualidade, e o descaso dos governos para com a população pobre.

A nossa categoria não pode ser vista como um grupo corporativo, isolado da sociedade, que só pensa nos próprios interesses; é preciso que a comunidade nos veja como portadores de uma causa, de uma luta que é para o bem de todos, inclusive como parte da luta de toda a população pobre, que reivindica moradia, saúde pública, saneamento, transporte público de qualidade, etc.

Precisamos discutir e envolver a comunidade, mostrando-lhe o quanto a nossa luta não é apenas por um salário mais justo - mesmo sendo esta luta legítima - mas, que é parte da busca por uma escola pública que ofereça o melhor para os filhos da população de baixa renda, como principal porta de saída da situação de exploração, ou de miséria, ou de exclusão social.

Acredito que este trabalho se realize no cotidiano, diante das realidades de cada escola, e da discussão coletiva que podemos estabelecer, impulsionada pelas redes sociais da Internet. Mais importante, hoje, do que fazer uma paralisação apressada, com baixa adesão, é conseguir dialogar com a categoria. Sem imposição, sem personalismos, sem hierarquias, até.Um diálogo horizontal, verdadeiro, no qual todas as vozes que queiram participar assumam o seu protagonismo, construindo umaproposta comum, que se torne o nosso programa comum de luta.

A nossa categoria tem um número muito grande de lideranças que podem contribuir com este diálogo. Inclusive as pessoas que estão fora da categoria, pessoas da comunidade, podem contribuir com o debate, já que precisaremos de todos para essa luta.

Já imaginaram, por exemplo, os 190 mil professores discutindo, num mesmo dia, um mesmo texto com os 3 milhões de alunos? Ou os 2 milhões de professores em todo o Brasil? Já imaginaram a força que tal prática provocaria? Tudo em sala de aula, no horário sagrado para o professor e para o aluno, no espaço onde outros sujeitos não podem intervir, a menos que queiram colocar um vigia em cada sala de aula.

Citei esse exemplo apenas de forma ilustrativa, para mostrar o quanto podemos lançar mão de mecanismos criativos para discutir a nossa realidade e buscar soluções coletivas. Nada que venha de cima para baixo, num passe de mágica. Não será o Blog do Euler, nem alguma entidade sindical ou partidária, ou algum ser alienígena quem dirá como e o quê devemos fazer. O importante é que a gente comece a discutir, a botar pra fora o que cada um pensa, até que essa discussão provoque um crescimento de qualidade na nossa compreensão das coisas.

Como consequência desse trabalho, pode ser que a categoria realize umagreve geral, estadual ou nacional, quefaça o chão de Minas e do Brasil tremer como nunca antes na história desse país (já ouvi isso em algum lugar, rsrs). Mas, como consequência, a médio prazo, e não como fim em si mesmo.

Além disso, é preciso repensar as nossas formas de luta e mobilização. Não se trata de negar a importância do papel da greve na nossa luta. Mas de não utilizá-la a toda hora, sem uma prévia organização e envolvimento da base da comunidade. Há outras formas de mobilização que podem conseguir resultados imediatos, sem que a categoria tenha que realizar uma greve. Um exemplo? Uma determinada superintendência manda cortar o café e o lanche dos professores. Que tal convocar os pais dos alunos para expor o problema? Explicar-lhes que o estado não paga vale-refeição, e que com o salário que recebemos, menor que o piso nacional, não dá para comprar lanche; e que os deputados, vereadores, e todos os demais da alta cúpula dos três poderes têm verbas de representação altíssimas para alimentação, enquanto os educadores não podem sequer tomar um café e lanchar nas escolas. Não duvido que alunos, pais de alunos, associações comunitárias, lideranças locais, além dos educadores, consigam organizar caravanas para pressionar o governo, seja diretamente na porta das superintendências, ou na Cidade Administrativa, o que não seria nada bom para a imagem do governo. A própria imprensa costuma abrir espaço para este tipo de protesto. Que poderia ocorrer também na Câmara de Vereadores, ou na porta do Ministério Público, por exemplo.

Na questão do nosso piso, estou convencido, como já disse aqui, que o governo federal precisa entrar em cena. Podemos e devemos entrar com ação na justiça, apresentar representação junto ao MPF, etc., mas, se desejarmos conquistar o piso na carreira num tempo mais curto, o caminho que me parece mais viável é o de pressionar o governo federal. A presidenta Dilma prometeu em campanha investir na valorização dos educadores; a maior fatia dos impostos arrecadados está nas mãos do governo federal. E uma pressão mais direta sobre o governo federal poderia forçá-lo ou a resolver a questão com afederalização da folha de pagamento dos educadores, ou a cobrar dos estados o cumprimento da lei do piso. O governo federal dispõe de poder de barganha e mecanismos para fazer essa cobrança. Só não o faz por uma questão de prioridade - ou de não prioridade da Educação. Com as bênçãos da CNTE e da CUT, que focam a cobrança do piso apenas nos estados e municípios, levando-nos à derrota.

Enfim, colegas de luta, eram essas as considerações, neste início de madrugada, que desejava trazer para a reflexão. Quero concluir dizendo o seguinte: de maneira alguma a nossa categoria está derrotada, tendo como recorte ou referência apenas essa paralisação de três dias. Somos um exército poderoso, um pouco adormecido e machucado, momentaneamente, mas que pode e deve se erguer, e marchar novamente, como em outros tempos, arrancando dos governos nossos direitos sonegados.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!

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