SÁBADO, 14 DE ABRIL DE 2012
Reunião do NDG: um testemunho pessoal
Reunião do NDG: um testemunho pessoal
Como estava previsto, aconteceu hoje, dia 14, a esperada reunião delideranças do NDG de várias partes de Minas Gerais. Bravos e bravas guerreiros/as, profissionais da Educação, deslocaram-se de Montes Claros, Carangola, Divino, Fervedouro, Ouro Preto, Sabará, Vespasiano, Belo Horizonte, Santos Dumont e Juiz de Fora (será que esqueci alguma cidade?) para discutir, refletir sobre a realidade que vivemos na Educação básica de Minas Gerais. Éramos em torno de 40 colegas. E a reunião foi aberta com a apresentação de cada colega, que pode também manifestar sua expectativa ou narrar a sua história. Muitas histórias, ricas, belas, construídas com empenho, suor e lágrimas, numa teia que se encontra neste desencontro que se tornou a realidade cindida pela engrenagem do sistema, movida a golpes, manipulações e rasteiras.
Adorei ouvir cada colega que se apresentou, tenha falado um ou 10 minutos. Alguns e algumas eu conhecia apenas pela Internet e tive o prazer de conhecê-los/las pessoalmente. É o caso da Ivete, do Sebastião e da Marly, para ficarmos apenas nestes nomes. Posso dizer para todos que temos uma turma muito bonita, muito preocupada com a nossa realidade e disposta a contribuir para mudá-la. Não vou citar todos os nomes dos colegas presentes para não cometer o equívoco de esquecer algum. Todos são importantes demais para que alguém não seja lembrado.
Após a apresentação de cada colega,de forma horizontal, sem mesa, sem necessidade sequer de microfone, foi feita a mostra de dois vídeos, um sobre a realidade dos operários de Jirau, em Rondônia, e o outro sobre a greve dos profissionais da Educação do município de São Paulo, cujo desfecho se deu com a categoria querendo continuar a greve e a direção dando fim à mesma, e solicitando proteção policial contra a base da categoria.
Depois, falou como convidado o professor Fausto Arruda, dirigente da Liga Operária e Camponesa, que expôs a sua experiência enquanto dirigente sindical em Ceará, e depois como editor do jornal A Nova Democracia. Na sua fala, ele enfatizou a histórica relação entre o arrocho salarial praticado pelos governos e a ligação destes governos e respectivos partidos com os interesses da burguesia, do latifúndio e do Imperalismo - segundo as palavras dele.
Em seguida, foram abertas as inscrições e todos os que quiseram falaram para manifestar suas convicções, ou críticas, ou sugestões. Falei em duas oportunidades: na primeira delas, para dizer que era preciso construir aquele espaço, doNDG, como espaço plural, autônomo e pela base. Militantes de algumas correntes e partidos estiveram presentes: da Liga Operária, do PSTU/Conlutas, entre outros, e várias pessoas, como eu, não organizadas a nenhuma corrente ou partido.
E as falas continuaram, seguindo as inscrições. A realidade da Educação pública em Minas e no Brasil foi exposta ali: piso sonegado, carreira destruída, categoria dividida pelas políticas do governo, violência nas escolas, condições de trabalho cada vez piores, turmas multiseriadas e superlotadas, cobranças nas escolas para arrebentar com os educadores, categoria vivendo um momento de desânimo e desencanto com o presente e o futuro da carreira do magistério. E a cumplicidade entre os diversos governos dos diversos partidos para detonar a Educação pública básica.
Neste quadro, criticou-se a postura da direção sindical, da atual e anteriores, ligadas a uma mesma corrente, que com o monopólio da direção, encaminha somente o que interessa ao projeto partidário desta direção. Questionou-se sobre: os outdoors que não foram colocados; a atuação jurídica, que continua deixando a desejar; a atuação vinculada a interesses parlamentares na ALMG. Algumas falas analisaram as duas últimas greves, que somadas resultam em 159 dias, que infelizmente, em função da combinação de várias realidades, não lograram conquistar o piso e preservar nossos direitos. Fomos derrotados. A política neoliberal do governo de Minas, a subserviência de uma assembleia homologativa, um judiciário servil ao governo, e erros na condução do movimento, juntamente com a incapacidade de unir e envolver toda a categoria e a comunidade, resultaram na nossa derrota.
É preciso usar melhor as redes sociais - destacou a nossa combativa colega Marly Gribel, entre outras propostas que ela apresentou, todas bem fundamentadas. É preciso também realizar um trabalho de base nas escolas e junto à comunidade - disse a colega Berenice de Juiz de Fora. Neste ponto, erramos, nós, do NDG, em não saber explorar as experiências já construídas aqui mesmo, em Minas. Até mesmo na nossa reunião, exploramos pouco essas experiências.
Vivemos um processo em construção, e como tal, a nossa primeira reunião ampliada não poderia apresentar resultados que se pudesse considerar excelentes. Na minha segunda fala eu disse: sempre saio frustrado das reuniões. De maneira muito acentuada nas reuniões do sindicato, e de forma bem menor, aqui, na reunião do NDG. Qual a minha frustração? De não ver as coisas assumindo uma perspectiva mais clara e mais direta em relação aos nossos objetivos comuns. Vou me explicar melhor.
A própria realidade da categoria, composta por colegas com diferentes formações políticas - e condições funcionais -, faz com que seja necessário um certo tempo para que se construam consensos em torno de propostas comuns. Num primeiro momento, eu vejo muita ideologia, onde deveria estar o real chão da fábrica. Eu vejo (e ouço) muita pregação em favor de um socialismo que ninguém sabe quando e como será (e se será), e pouco tempo dedicado à disputa do nosso tempo roubado pelo governo e pelos de cima. Salário de fome é tempo de trabalho apropriado pelos de cima, colegas. Não é mero economicismo como pensam alguns. Melhores condições de trabalho é disputa de poder, de quem realmente controla o espaço social onde convivemos. Quando se luta pelo piso, pela carreira, pelo terço de tempo extraclasse, por salas com poucos alunos, por espaços e tempos na escola para se descansar, estudar, pesquisar e discutir coletivamente os problemas da comunidade, estamos construindo um mundo diferente. Pode ser que daí, com essa construção coletiva, surjam possibilidades de outra forma de vida, principalmente com base na experiência prática, da luta cotidiana dos de baixo. Tudo o mais, na minha modesta opinião, é dogma. Claro que eu respeito as opiniões diferentes, mesmo não concordando com elas.
O ponto alto da nossa reunião, na minha opinião pessoal, foi a possibilidade do encontro entre diversas cabeças pensantes da nossa categoria. Mas ao mesmo tempo, penso que não soubemos explorar bem este encontro. Por isso me senti feliz, por um lado, e frustrado, por outro. Por não termos conseguido construir com os colegas uma proposta. Que proposta? Uma proposta que aglutinasse nossas reflexões e ações. Talvez todos os pontos tenham sido tocados durante a reunião: a importância da comunicação para se contrapor ao governo, do trabalho de base, da politização da nossa categoria, e até da disputa sindical. Mas estes pontos ficaram soltos. Não sei se pela dinâmica que demos à reunião, ou se pelo fato de se tratar de um primeiro encontro mais ampliado.
Mas acredito que isso pode ser recuperado na própria rede social virtual e fora dela, quando podemos expor as ideias detidamente, cada qual podendo acrescentar a sua visão e com isso construindo os consensos para as nossas ações. Temos muito chão pela frente - e os colegas que vieram do Interior de Minas sabem o que isso representa. Mas não temos outra alternativa a não ser construir estes consensos, que unifiquem a categoria e criem as melhores condições para recuperarmos nossos direitos: ao piso sonegado, à carreira destruída, ao terço de tempo extraclasse, às condições adequadas de trabalho, à real democratização dos espaços na escola e na comunidade. Este é o meu socialismo - pelo menos enquanto estiver enquanto educador.
Nos próximos dias e semanas e meses vamos dar sequência e consequências a essas - e outras - reflexões que aconteceram durante, antes e depois da reunião do NDG. Espero ter sido sincero no meu testemunho. Outros relatos são bem vindos. E viva a luta dos trabalhadores da Educação e de todos os de baixo!
Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!
P.S. O nosso bravo colega Petrus teve um mal-estar durante o envento, mas foi encaminhado para uma unidade de Saúde e já se encontra bem, segundo o informe dado até o final da reunião. Força e Saúde, bravo guerreiro Petrus!!!
P.S.2: Achei importante transcrever e incorporar ao meu relato este comentário da nossa combativa colegaEDUCADORA MINEIRA:
"Olá, Professor, já chegamos e todos muito bem! Quanto ao encontro, cremos que foi muito produtivo, inclusive saimos daquele espaço, mas continuamos a discutir o encontro durante o almoço e pelas 7h de viagem. Fizemos análise de tudo que ouvimos, concordamos, discordamos. E viemos pensando nas alternativas de trabalho. Também acredito que para lá das ideologias, que não deixam de ser importantes, precisamos retomar a tudo com mais ligeireza. E, mais, além dos alunos e da comunidade que foi a tônica da discussão dos trabalhos de base, precisamos, em primeiro plano, politizar os nossos próprios colegas que estão com os PÉS POSTOS NO CHÃO DA FÁBRICA. Conforme mencionou um dos integrantes do SINDICATO DOS TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL, cujo nome me falha no momento, uma obra, qualquer que seja ela, não é feita com um só tijolo e para ela se manter em pé, precisa de um alicerce bem feito. Essa metáfora coaduna com a nossa situação, primeiro precisamos reconstruir o alicerce que nos mantém, pois de umas décadas para cá ele vem ruindo, o tempo o desgastou. Então, de forma prática, temos que preparar primeiro os que estão ao nosso lado, com eles estenderemos nossas discussões aos alunos e à comunidade . Na viagem de volta, retomamos, ainda, à proposta do que no momento dará visibilidade a nossa luta. Se não nos for possível fazer os bonés, os adesivos, as blusas, as bolsas pelo menos o que nos for viável fazer neste momento. Penso que as subsedes deveriam estar envolvidas nessas atividades e na produção de material, até porque os professores são sindicalizados, logo há uma contribuição mensal que deve ser usada para esse fim.
No mais, ter podido conhecer os colegas e falar com cada um foi muito bom. Essa relação e essa interação criam laços e nos tornam mais fortes para seguirmos na luta.
Para não perder o costume:EDUCADORA MINEIRA"
P.S.3: Leiam também o testemunho da comandante Marly Gribel, no blogA pós-modernidade, clicando aqui, ou no Blog do NDG.
***
Nenhum comentário :
Postar um comentário