quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Os sentidos da vida para o próximo ano
Antes de entrar propriamente no tema proposto anteriormente (fica para outro dia) - sobre as demandas da Educação -, quero aproveitar esse lapso de tempo sem nada o que fazer para pensar alto sobre os sentidos da vida para 2011. É fato que não se deve apontar um sentido único. São muitos os sentidos e sinais que recebemos e encontramos, e desencontramos e desencantamos, e nos encantamos novamente, também, a cada instante. Alguns objetivos alcançados em 2010, antes aparentemente vistos como uma quase impossibilidade, tornam-se agora parte do cotidiano, e como tal, quase imperceptíveis. Pequenas vitórias nem sempre são alcançadas pela percepção imediata.
O mundo se tornou uma imensidão aparente de possibilidades abertas pela propaganda e pela dinâmica cega do mercado, de realizações instantâneas e virtuais, quase sempre fugazes. É comum então que, neste redemoinho, deparemo-nos com a impressão de sentidos radicalmente opostos, quando tudo parece possível e de repente, nada parece fazer sentido. Fora dos contextos concretos, os acontecimentos são apresentados feito recortes sem lógica - quando a lógica de quem reproduz estes recortes midiáticos talvez seja exatamente a de fazer parecer que as coisas são tais como nos apresentam: um universo de retalhos desconectados, sem relação direta entre causa e efeito provocados pelo nosso fazer coletivo e individual cotidiano.
Não que tenhamos que justificar tudo de ruim que acontece no mundo por meio de uma visão totalizadora; ao mesmo tempo em que não devemos desconhecer a ligação estreita entre as ações individuais, especialmente a ação política, e os interesses que movem tais ações. O nosso momento será sempre de resistência e de reconquista, se considerarmos que estamos subordinados a um processo social no qual constantemente somos usados, manipulados, explorados, cuspidos e sacaneados, e etc.
Dentro destas considerações elementares, quais seriam os sentidos para a nossa vida em 2011? São muitos os sentidos e caminhos, dirão. Para alguns, quase sempre não há sentido algum para a maioria das coisas. Que pena! O poeta Pessoa intervem neste momento dizendo mais ou menos assim: tudo vale a pena, quando a alma não é pequena. Em seu auxílio, a sabedoria do filósofo, diante de realidades que aparentam o inferno, acrescenta: porque é, exatamente por ser tal como é, não poderá continuar assim.
Nem morto quero eu ter que carregar nas costas o sentimento de derrotismo e de desânimo em relação às coisas que me cercam. O próximo ano para mim será maravilhoso se eu puder participar das lutas dos educadores de Minas e do Brasil (mesmo que não conquistemos um centavo novo sequer); se eu puder participar de muitas passeatas - como me orgulho de ter atravessado as ruas e avenidas de BH e de Minas, ao lado de milhares de bravos e bravas combatentes educadores/as -, se eu puder estar ao lado da minha família e dos meus amigos nos momentos difíceis e alegres também. Estarei felicíssimo e realizado se puder ouvir as mais belas músicas do mundo (de preferência sem impor o meu gosto musical aos vizinhos) e se puder também continuar irritando os de cima com a mania de participar e questionar e não fugir da luta cotidiana contra aqueles que insistem em confiscar nossos direitos individuais e coletivos.
Minhas realizações materiais cotidianas são importantíssimas - quero comer bem, dormir bem, assistir a filmes, evitar filas de bancos, poder dizer o que penso e andar livremente pelas ruas e praças da cidade (duvido que muita gente famosa tenha essa liberdade). Mas, essas realizações pessoais não preenchem o vazio da alma quando ao meu redor muitas outras pessoas sentem fome, frio, sede e carências outras. E esse é um problema meu também, como parte dessa forma social na qual estou envolvido. Não serei eu a resolver isoladamente os problemas da humanidade - não tenho essa pretensão e não quero ter este peso nas costas -, mas posso dar a minha modesta parcela de contribuição, quando não me omitir, quando não fechar os olhos para os problemas comuns.
Quais são então os sentidos da vida, afinal? Minha resposta é pessoal, e na minha solidão de sentidos, quero estar próximo o mais que puder dos sonhos de uma grande parcela da humanidade. Nas lutas que misturam valores e objetivos imediatos com sonhos que transcendem o agora e buscam encontrar uma forma social onde todos, todos, sem exceção, possam (possamos) desfrutar das muitas possibilidades criadas coletivamente pela humanidade, especialmente pelos de baixo. Pequena não é a luta por um salário mais justo, ou a passeata dos sem-teto, que segundo a mídia burguesa atrapalhou o trânsito; ou a realização de um curso qualquer, ou a viagem planejada para outra cidade, ou qualquer outra realização pessoal ou coletiva. Pequena, para mim, é a esperteza e a canalhice de alguns poucos que usufruem do poder público para fins pessoais e de grupos privados; ou a ação daqueles que tudo fazem para servir aos poderosos em troca de uma bolsa-puxassaquismo muito mais onerosa do que quaisquer investimentos sociais.
Que 2011 traga real e simbolicamente o renascer, em mim e em quantos visitarem este blog, de muitos sonhos e utopias e sentidos para as nossas vidas!
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