>Mais um e-mail que recebi e que tem que ser lido por todos nós da área da educação ou não, como brasileiros e seres humanos é necessário refletirmos sempre e o caso do prof. Kássio não pode ser esquecido.É história que não pode ser repetida!
Vanda sandim
>
>
> Amigos,
>
> Embora há muito tempo desligado daquela instituição, como ex-professor
> do Instituto Metodista Izabela Hendrix, fiquei profundamente
> consternado com o caso do universitário que, revoltado com suas notas
> baixas, cravou uma faca no coração de seu professor, na cantina, em
> pleno horário escolar, à frente de todos.
>
> Escrevi um desagravo e, em minha opinião, a pérfida ilusão vendida a
> muitos alunos despreparados, sobre a escola (e a vida) como lugares
> supostamente cheios de direitos e pobres em deveres, acaba por
> contribuir para ambientes propensos à violência moral e física.
>
> Espero que, se concordarem com os termos, repassem adiante, sem
> moderação. A divulgação é livre.
>
> Abs
>
> Igor
>
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>
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>
>
> J’ACUSE !!!
> (Eu acuso !)
>
> (Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes)
>
> « Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice.
> (Émile Zola)
> Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. (...)
> (Émile Zola)
>
> Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos,
> desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um
> estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas,
> alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para
> a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante
> foi ter que... estudar!).
>
> A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes.
> Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O
> ápice desta escalada macabra não poderia ser
> outro.
>
> O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu
> futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas
> de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem
> tomando conta dos ambientes escolares.
>
> Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção
> do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à
> autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência
> supostamente democrática.
>
> No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era
> proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A
> coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis,
> pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova
> não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos
> avaliar o aluno. Pensando bem, “é
> o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando...
>
> E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral
> epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo
> vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos
> que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter
> conhecimento é ser ‘crítico’.”
>
> Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e
> burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização
> desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina
> é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno
> – cliente...
>
> Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos
> cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os
> problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com
> conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo
> lhes deve algo”.
>
> Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com
> dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor.
> Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter,
> sentir, amar.
>
> Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos
> que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla
> defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do
> que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido
> processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo
> Ministério Público. A acusação penal a o autor do homicídio covarde
> virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre
> texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo
> da faca:
>
> EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e
> todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;
>
> EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta
> dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se
> sentem vítimas;
>
> EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente
> correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico
> escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar
> e cometer crimes em outras escolas;
>
> EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado,
> muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem
> tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a
> avaliação ao perfil dos alunos”;
>
> EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de
> estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a
> proliferação de cursos superiores completamente sem condições,
> freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;
>
> EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e
> títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo
> e formação dos alunos, bem como de suas futuras
> missões na sociedade;
>
> EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos
> exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não
> sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito
> mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;
>
> EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as
> quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do
> IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo
> cresceu “tantos por cento”;
>
> EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela
> massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali
> chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e
> moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito”
> de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o
> desespero de seus futuros clientes-cobaia;
>
> EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “
> nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA
> cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e
> do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do
> conhecimento;
>
> EU ACUSO os “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é
> “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,
>
> EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram
> templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em
> troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;
>
> EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos,
> mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que,
> vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida
> punição.
>
> EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os
> professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os
> professores sejam “promoters” de seus cursos;
>
> EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas
> desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua
> omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela
> ocorrência dos incidentes maiores;
>
> Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão
> despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e
> totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício
> da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e
> decepções do dia a dia.
>
> Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes
> jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que
> é lidar com aquele ser complexo e imprevisível
> que podemos chamar de “o outro”.
>
> A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na
> cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa,
> a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do
> patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a
> culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O
> opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua
> vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva.
> Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora,
> fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”
>
> Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em
> qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no
> professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte
> não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e
> abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de
> paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é
> fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade,
> responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.
>
> Igor Pantuzza Wildmann
>
> Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário.
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