segunda-feira, 14 de março de 2011
Japão, revolta árabe e o nosso piso-teto salarial
Foi uma semana marcada por uma grande tragédia, com o terremoto e o tsunami no Japão. No Oriente Médio e no norte da África, continuam as mobilizações e protestos de rua contra governos ditatoriais, quase todos aliados dos EUA e sua geopolítica de domínio estratégico da região, principalmente em função do petróleo.
No Brasil, para os professores, as atenções se voltam para o possível julgamento da lei do piso do magistério, que até hoje não se sabe bem se se trata de um piso mesmo, ou de um teto. Para a maioria dos governantes, pagar um piso-teto de R$ 1.187,00 para uma jornada de 40 horas semanais é mais do que suficiente para os professores. O país não precisa de professores. Não precisa de gente pensante, mas de mão-de-obra barata, para fazer os trabalhos pesados para as nossas elites. E este negócio de proporcionar uma formação de qualidade para toda a população de baixa renda é coisa para países ricos, de primeiro mundo. Nossa elite leva a vida de primeiro mundo, mas o povão tem que sobreviver mesmo com os padrões de povos de colônias ocupadas. No lugar de escolas, cadeias; no lugar de professores bem remunerados e com formação adequada, tropa de choque para ocupar os becos das favelas - ou milícias ou congêneres.
O tsunami no Japão teve um efeito devastador, destruidor de centenas de vidas, de lares, de tudo. Desastre natural, dizem. Riscos de explosão nuclear, num solo castigado anteriormente pela ganância do império norte-americano, que testou sua então nova arma de destruição - a bomba atômica - em Hiroshima e em Nagazaki. O de agora, foi o maior desastre ocorrido após a Segunda Guerra mundial, dizem as autoridades japonesas.
Mas, que os desastres naturais, alguns nem tão naturais assim, têm ocorrido com maior frequência, isto tem. Ou será isso apenas a vulgar percepção de um mortal num pequeno espaço de tempo? Uma coisa, contudo, deve ser repensada: a construção de usinas nucleares. Não há padrão de segurança que tenha se revelado confiável até agora, seja no Brasil, na Rússia, nos EUA ou no Japão. Energia limpa e boa mesmo, até agora, só aquela movida pelo vento e pelo sol. E que o povo japonês, especialmente os de baixo de lá, consiga se recuperar e reconstruir suas vidas, quem sabe com novos horizontes.
Mas, enquanto do outro lado do planeta as placas tectônicas se movimentam e causam explosões; enquanto os povos árabes se mobilizam e exigem mais liberdade e democracia; aqui, nós professores, comodamente esperamos as coisas cairem do céu, além da chuva. Devíamos estar nos concentrando para ocupar Brasília e exigir respeito e dignidade à carreira dos educadores. E onde estão as entidades sindicais que dizem nos representar? Ah, sim, não estamos em épocas de eleições, e Brasília não é o alvo. É lá que fica o Congresso Nacional, que votou a esdrúxula lei do piso-teto de R$ 950 reais por 40 horas semanais de trabalho; é lá também que fica o STF, que acolheu o mais esdrúxulo ainda pedido de inconstitucionalidade da lei do piso, por cinco governadores - e que será, supostamente, julgado no mérito no próximo dia 17; e é lá também, em Brasília, onde fica a sede do governo federal, que não é dos demos e dos tucanos, mas do PT e seus aliados, há oito anos e alguns meses no poder, e que até agora pouco fizeram para mudar de forma substancial a realidade da Educação pública no ensino básico do país. Apesar das promessas.
Os tsunamis brasileiros não são naturais, mas construídos socialmente, na roubalheira de governantes e parlamentares, nos desvios de verbas públicas para o bolso de grandes empresários e banqueiros e políticos corruptos; nos superávits primários que são arrancados do suor do rosto dos trabalhadores assalariados para enriquecerem ainda mais algumas poucas dezenas de famílias abastadas, enquanto a Saúde pública e a Educação de qualidade continuam na promessa. Para a infelicidade de milhões de famílias de baixa renda.
As mobilizações dos árabes, infelizmente, podem não resultar numa real libertação daqueles povos, subjugados por elites hipócritas e igualmente corruptas, aliadas dos EUA, que usa o estado-terrorista de Israel para envenenar ainda mais o complexo tabuleiro do Oriente Médio.
Enquanto isso, no meu modesto mundo, vou me recuperando de uma diarréia que durou três dias, mas não foi o suficiente para abalar a minha rotina de final de semana pós-carnaval. Vespasiano, no carnaval, descobri agora, é a melhor cidade do mundo, para quem não curte muito a festa do Momo nos moldes atuais. Nossa rotina volta agora ao leito do dia-a-dia de trabalho, pão e conspiração contra os de cima. De Vespá, de Minas, do Brasil e do mundo.
P.S. Na cobertura jornalística pela TV do que acontece no mundo, destacamos a atuação das TVs Al Jazeera e Telesur, que podemos acompanhar de graça pela Internet. Mesmo não entendendo nada da língua árabe, as imagens, a contextualização, combinadas com outras informações colhidas pela Net, nos proporcionam outros olhares. No Brasil, não temos canais de notícia abertos para o grande público. O mafioso monopólio que domina a mídia brasileira precisa ser quebrado. O que não acontecerá enquanto a população continuar esperando as coisas caírem do céu, além da chuva.
***
"José Alfredo Junqueira:
Grande análise,Euler,e voce sabe que a maioria de nossos alunos nem sabem que podem ver os jornais do mundo todo,assim como escutar rádios,de graça pela internet. E os que sabem,nem se interessam. Mas voce não atendeu ao meu pedido de comentar e divulgar a possível cassação do mandato do Anastasia pelo TSE. "
Comentário do Blog: Caro José Alfredo, de fato a Internet abriu um amplo leque de possibilidades para pesquisas e buscas de informações alternativas. E boa parte das mobilizações e dos protestos que acontecem hoje, no mundo real, está, de alguma maneira, ligada ao intercâmbio de informações pela rede.
Quanto à notícia veiculada por um jornal de Minas sobre o processo que tramita na Justiça contra o governador Anastasia - feita pelo então candidato Hélio Costa - não há muito o que comentar. A população mineira fez a sua escolha nas últimas três eleições, elegendo os tucanos em Minas e o PT no plano federal. Para a Educação básica, que é aquilo que mais nos interessa neste blog, a situação mudou muito pouco - perdemos direitos em Minas e não ganhamos nada por iniciativa do governo federal.
Portanto, para além dos trâmites judiciais movidos pelos concorrentes aos pleitos eleitorais, há que se reclamar aqui a falta de cobrança por parte da população, e dos trabalhadores assalariados especificamente. Governantes e parlamentares deveriam ter que prestar contas anualmente daquilo que prometeram e não fizeram, e não de quatro em quatro anos. Além disso, enquanto a eleição de representantes for essa coisa nebulosa, envolvendo o financiamento por grupos privados e o uso da mídia e das máquinas de estado em favor de alguns candidatos, a democracia vigente será sempre um arremedo de democracia. Seria preciso que a população fosse às ruas cobrar reformas políticas, mas não com esses personagens que aí estão - senadores e deputados federais -, que são, na sua maioria, a imagem daquilo que se deseja negar.
"Marcos:
Caro Euler,
Ao que parece, as entidades sindicais não são afeitas a críticas. Fiz uma crítica ao SIND-UTE, CNTE E CUT e não foi muito bem aceita. Parece que pisei no "calo".
Se quiserem ver entrem no link: http://mdfnoticias.blogspot.com/2011/03/educacao-caixa-preta-da-entidades.html "
"Anônimo:
Caro Euler:
A impressão que eu tenho é que tanto o Estado quanto o sindute estão torcendo pra que os professores permaneçam na nova carreira com o subsídio.
Minha dúvida é sobre esse julgamento do Piso que ocorrerá no dia 17, será que se julgarem que piso é piso mesmo, vamos ser prejudicados nesse subsídio que não tem nenhuma gratificação em cima desse valor final?
Outra coisa, como andam as negociações de melhorar a nova carreira nas reuniões que a Beatriz teve com a Secretária? Teve avanços?
Ou teremos que esperar mesmo o dia 17 para termos essas respostas e o parecer do nosso sindute?
Um abraço! "
"Anônimo:
EULER , AFINAL DE CONTAS VAI SER, OU NÃO, JULGADA A ADI DO PISO DIA 17? ESTOU AGUARDANDO ANSIOSAMENTE ESTE DIA. AGORA ESTÃO FALANDO QUE NÃO VAI SER JULGADO. TAMBEM ACHO QUE O SINDUTE CNTE QUEREM QUE FIQUE ASSIM QUANTO PIOR PARA OS PROFESSORES MELHOR PARA ELES, ASSIM CONTINUAM COM ESTE PALANQUE POLITICO AS NOSSAS CUSTAS. "
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