sexta-feira, 20 de maio de 2011
Sindicato promove espetáculo, talvez para não discutir seriamente os problemas da categoria
Sindicato promove espetáculo, talvez para não discutir seriamente os problemas da categoria
A reunião do conselho geral do Sind-UTE, que se realizará amanhã, dia 21, tinha tudo para ser uma reunião produtiva e objetiva, voltada para os problemas da categoria dos educadores. Seria o momento para analisarmos com detalhe as negociações com o governo, a nossa pauta de reinvindicações e bandeiras de luta, corrigindo os erros e construindo uma necessária unidade na luta. Mas, ao que parece, a direção sindical não quer que isso aconteça.
Pela pauta da reunião indicada no site do sindicato, percebe-se claramente que está sendo montado um palanque político, um espetáculo, como cortina de fumaça para engessar a categoria. Vamos passar o dia todo ouvindo discursos políticos de dirigentes sindicais e deputados da oposição, com pouquíssimo tempo reservado para que a base da categoria se pronuncie, com o tempo e com a profunidade de análise necessária para a construção da nossa luta.
O primeiro ponto de pauta indica a discussão da conjuntura de Minas. Ali vamos "aprender" que Minas está crescendo e que o governo mantém os salários dos servidores arrochados; que contratou centenas de pessoas através de leis delegadas; e que mantém e renova a sua política de choque de gestão, iniciada no governo do faraó. O que mais será dito, que já não sabíamos, nesta primeira parte da manhã?
Se era para montar um espetáculo, deveriam chamar também alguém para falar da conjuntura nacional, na qual o governo federal impôs uma política de choque de gestão quase idêntica ao do governo de Minas, com direito a congelamento salarial e à manutenção de um valor do piso do magistério muito aquém do que merecemos.
Aliás, poderiam convidar também alguém para falar do cenário internacional, que é marcado, de um lado, pela crise mundial nos países ricos; e de outro, pela revolta dos povos árabes, e com a intervenção imperialista em vários países.
Por mais que reconheçamos a importância de todos estes e outros temas, não podemos deixar de dizer que a reunião do conselho sindical, às vésperas da nossa assembléia do dia 31, e tendo em vista a fragilidade nas negociações entre a comissão sindical e o governo de Minas, deveria ter outro foco.
O centro nervoso desta reunião tinha que ser, necessariamente: a reflexão sobre a forma de negociação com o governo e a rediscussão da pauta de reivindicações, a qual inclui exigências que extrapolam às conquistas legais que obtivemos com a lei do piso - e que podem escapar das nossas mãos, graças à conduta da direção sindical.
Deveríamos amarrar, nesta reunião, o nosso programa mínimo, de exigência ao governo e de ação junto à categoria e à comunidade. Era o momento para sairmos dali com força, com um discurso único, construído para convencer a todos, especialmente para contar com amplo apoio da base da categoria e da comunidade - e nos prepararmos, se necessário, para uma prolongada greve geral por tempo indeterminado.
Mas, vamos talvez desperdiçar essa oportunidade, para dar guarida à estratégia político-eleitoral do grupo que comanda o sindicato, o mesmo blocão que reúne o PT-CUT-CNTE.
Por isso estou escrevendo agora não mais para "sensibilizar" a direção sindical, mas para um chamamento à base da categoria: vamos acordar e tomar as rédeas desse jogo nas nossas mãos.
Temos tudo para conquistar os nossos direitos, do programa mínimo que temos repetidas vezes publicado aqui, mas podemos perdê-lo, por conta dos interesses convergentes entre o governo e a oposição.
Não estou sugerindo a desfiliação em massa do sindicato, e muito menos o abandono da luta. Pelo contrário: sugiro que passemos a nos encontrar e a nos articular para não aceitar mais estas manobras que vão nos conduzir ao fracasso. O governo não leva mais a sério a nossa categoria, já que percebeu que a direção sindical faz um jogo que lhe agrada.
Esta direção fez corpo mole para entrar na campanha pelo retorno da categoria para o antigo regime remuneratório; depois fez corpo mole na pressão ao STF, tanto para a aprovação do piso enquanto vencimento básico, quanto para a questão do terço de tempo extraclasse. Sequer tiveram a coragem de assinar e indicar no site do sindicato o abaixo-assinado que promovemos para pressionar o STF. E vem encampando reivindicações da CNTE, como o piso de R$ 1.597 para o professor com ensino médio para a jornada de 24 horas, que sequer é reconhecido pelo MEC. Tem dado prioridade à eleições para diretores de escola, deixando escoar o tempo de opção para o antigo regime remuneratório. Isto sem falar no silêncio cúmplice da direção após as reuniões com o governo, só divulgando um relatório resumido após enorme pressão aqui no blog.
É hora, portanto, de deixarmos bem claro para a direção sindical: ou eles mudam esta postura, ouvindo a categoria, estabelecendo um diálogo horizontal, ou vamos começar a propor a mudança geral no sindicato, inclusive da direção. Não se trata aqui de nenhum golpe, mas do direito legítimo, de classe, da categoria reagir em defesa dos seus (nossos) interesses.
Não dá para combater o tempo todo em duas frentes: contra o governo e contra a direção sindical. Contra o primeiro, a luta é permanente; contra o outro, depende da categoria, se quer manter esse quadro de desconfiança eterna, ou se quer construir um outro tipo de sindicalismo, combativo, autônomo, não atrelado aos partidos e aos governos. Um sindicalismo de classe, enfim.
Amanhã eu quero estar na reunião do conselho geral, nem que seja para, mais uma vez, me sentir agredido pela prática do espetáculo. Mais um na nossa vida, a nos iludir, a construir cortina de fumaça para que não discutamos as coisas que nos atingem. Mais um momento de fazer curva na conversa, que deveria ser direta, reta, em torno das bandeiras comuns que envolvem os interesses de toda a categoria.
Depois eu trarei aqui a percepção do que eu vi. E até onde minha paciência aguentar.
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