quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Andrei Moreira: " O espírito é "assexuado e livre."

ENTREVISTA
O espírito é "assexuado e livre"
Andrei Moreira Médico e espírita
Publicado no Jornal OTEMPO em 21/02/2012
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[TEXTO_ASSINA]ANA ELIZABETH DINIZ
Especial para O Tempo
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FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Foram 15 anos de pesquisa e coleta de material científico e doutrinário antes que Andrei Moreira, 32, médico com especialização em homeopatia e presidente da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais, aventurasse-se na seara editorial com os livros "A Homossexualidade sob a Ótica do Espírito Imortal" e "O Mundo dos Bonecos de Papel", que estimulam a cultura inclusiva e amorosa.

Como surgiu a ideia de explorar a temática? O livro "A Homossexualidade sob a Ótica do Espírito Imortal" é fruto de 15 anos de pesquisa e coleta de material científico e doutrinário na visão espírita sobre a homossexualidade. (A ideia) surgiu devido à falta de material espírita com embasamento científico na área. Senti necessidade de apresentar uma reflexão e uma abordagem inclusivas, em sintonia com a proposta de acolhimento integral do Evangelho, daquilo que o espiritismo se propõe a reviver e que nós, espíritas e cristãos, em geral, precisamos aprender a praticar.

São dois livros, um para o público adulto e o outro para as crianças. Como foi o processo de criação? Em "Homossexualidade sob a Ótica do Espírito Imortal", apresento um entendimento da sexualidade como patrimônio da alma, que se expressa na diversidade ao longo do fenômeno reencarnatório, de acordo com as necessidades do espírito e seu momento evolutivo. Proponho uma visão da homossexualidade e da diversidade sexual à luz da reencarnação e da imortalidade da alma para a compreensão do papel e do significado dessa orientação sexual na vida dos homossexuais, de suas famílias e comunidades, numa perspectiva evolucionista. Aliam-se na obra conhecimentos científicos e reflexões à luz dos ensinamentos da doutrina espírita, incentivando o desenvolvimento de uma cultura inclusiva e amorosa, de alteridade e promoção humana. "O Mundo dos Bonecos de Papel", destinado a crianças e adolescentes, é uma contribuição para pais, educadores e evangelizadores que se propõem a trabalhar com as diferenças que se apresentam nas questões sexuais e afetivas, particularmente a homossexualidade.

Uma abordagem lúdica para crianças e educadores? Sim. Essa abordagem vem se somando aos textos infantojuvenis voltados para o tema, promovendo, através de metáforas, a inclusão e a alteridade, por meio da aceitação e da valorização dos diferentes e das diferenças. É um texto que fala à razão e ao coração e pode ser lido individualmente ou em grupo, permitindo inúmeras intervenções pedagógicas, como o teatro, o desenho, a narrativa de vida e os jogos educacionais. Ao fim, segue um jogo cooperativo proposto para o trabalho com os temas da obra, que pode ser montado pelas crianças e utilizado em momentos lúdicos e educacionais. Espero que as crianças (as que moram nos adultos também) divirtam-se educando-se.

A doutrina de Allan Kardec faz referência à homossexualidade e à diversidade sexual? Allan Kardec não tratou da temática especificamente, mas, sim, da energia sexual de forma genérica, como fonte de vida, criação e realização para o espírito. A homossexualidade, segundo a ciência, é uma orientação afetivo-sexual normal. Por se tratar de um tema polêmico, não há uma visão consensual sobre o assunto no movimento espírita, mas há excelentes textos dos espíritos André Luiz e Emmanuel, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, nos direcionam o pensamento e a reflexão para respeito, acolhimento e inclusão da pessoa homossexual, entendendo a homossexualidade como uma condição evolutiva natural, decorrente de múltiplos fatores, sempre individuais para cada espírito.

Esses fatores estariam relacionados com que tipo de experiências? Essa condição, quando exclusiva ou predominante na vida do espírito, é construída ou escolhida em função de tarefas específicas ou provas redentoras, incluindo-se as condições expiatórias e reeducativas devido a abusos afetivo-sexuais no passado, que parecem ser a causa determinante da maior parte das condições homossexuais, segundo a literatura espírita. O homossexual é entendido no mesmo nível de dignidade das pessoas heterossexuais e incluído nos mesmos direitos e deveres que lhe garantam cidadania, afeto e realização na vida.

A condição sexual teria a ver com a trajetória de uma vida pregressa do espírito? Em geral, sim. O espírito Emmanuel esclarece, em "Vida e Sexo" (psicografia de Chico Xavier), que o espírito é portador da bissexualidade psíquica, em função de ser assexuado em sua natureza e vivenciar as duas polaridades (masculino e feminino) de forma alternada, ao longo das múltiplas vivências encarnatórias. A atração sexual e afetiva da experiência presente é resultado da interação de fatores biológicos e psicológicos do passado espiritual e do presente, que varia enormemente de indivíduo para indivíduo, tanto na encarnação quanto em suas fases. Dessa forma, encontraremos pessoas predominantemente homossexuais, que são convidadas à autoaceitação e à dignificação pessoal pela vivência do autoamor e da parceria afetiva legítima, e também pessoas vivenciando experiências homossexuais, sem que essa seja a identidade predominante, caracterizando uma série de vivências que necessitam de individualização para serem compreendidas à luz da reencarnação.

A discriminação existe apenas no mundo da matéria? A discriminação e o preconceito existem onde existe o ser humano. Na vida espiritual, continuamos a ser o que fomos durante a vida. O indivíduo não se torna santo da noite para o dia devido à experiência da morte biológica. Ele prossegue em sua trajetória evolutiva, levando a herança de si mesmo, feliz ou infeliz, de acordo com as escolhas que tenha tido durante a vida. No mundo espiritual, encontramos espíritos de variadas naturezas e níveis evolutivos. No entanto, dentre os espíritos felizes ou mais evoluídos vigoram o acolhimento e o respeito incondicional a todas as criaturas, espelhando o amor incondicional do Pai por seus filhos.

Como você define a homoafetividade? A homossexualidade é uma condição natural da experiência humana e, independentemente de sua origem na experiência do sujeito, pode perfeitamente ser um campo de encontro e parceria afetiva e sexual profunda, de comunhão de almas em projetos e propósitos comuns, no estabelecimento de uma vida conjugal amadurecida, onde o amor seja o elo vitalizador para uma vida social física e espiritualmente produtiva.

Como vê a relação entre Deus e a homossexualidade? Na visão espírita, as orientações sexuais são apenas pano de fundo de uma história passageira de filhos de Deus que evolucionam guiados e mergulhados, no mar do amor divino, em direção à casa paterna ou à revelação de Deus no interior de si mesmos. Ser homossexual, heterossexual, bissexual ou transgênero é apenas um detalhe insignificante para um Deus perfeito que vê a sua presença perfeita em cada um de seus filhos amados.

Informações sobre os livros: (31) 3332-5293 e 33347841.

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