segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Euller:" A fala maldita da bela atriz."

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
A fala maldita da bela atriz


Há muito se tem discutido sobre a realidade de ficção, ou a não realidade, que se tem assistido nos dias atuais. No universo da propaganda, por exemplo, tudo é perfeito, em contraste com a realidade real. Recentemente, uma atriz "global" (global = da TV Globo, bem explicado), colocou o seu rosto e sua voz para divulgarem uma peça publicitária do governo de Minas sobre a Educação pública no estado. Tem sido uma prática recorrente dos diversos governos lançarem mão de artistas famosos para divulgarem a imagem dos seus governos.

Todos estes governos, na prática, contrariam a lei federal, com uso indevido de verbas públicas para fins de publicidade dos seus governos. Uma propaganda honesta teria tido outro teor. Teria dito, por exemplo, que Minas não paga o piso salarial nacional dos educadores, que criou um outro sistema remuneratório, o subsídio, justamente para escapar da Lei do Piso. E para isso, destruiu o plano de carreira dos educadores e tornou essa carreira sem perspectiva de presente e de futuro. Carreira destruída e congelada até 2016. Um professor com curso superior e 10 anos de estado recebe de salário bruto não mais que dois salários mínimos.

Mas, na propaganda mal dita pela fala da bela atriz, os professores recebem até 85% a mais do que o piso salarial nacional. É só fazermos as contas: o piso, em 2012, não fosse a lentidão pusilânime do governo federal em anunciar o reajuste de 22% em janeiro deste ano, teria o valor de R$ 1.450,00. Isto para um professor com formação em ensino médio. Oitenta e cinco por cento a mais resultariam em R$ 2.682,50. Mas, para o professor com curso superior, que é aquele que o governo diz que paga 85% a mais do que o piso, o valor seria de R$ 3.150,27 pela tabela do subsídio (que burlou a lei do piso), ou R$ 3.992,63 pela tabela original do nosso plano de carreira. Valor este bem diferente dos R$ 1.320,00 de remuneração total que é pago para a grande maioria dos professores de Minas Gerais.

Uma coisa é a realidade real; a outra, bem diferente, é a realidade da fantasia, da ficção, muito apropriada para os dias de carnaval, mas não para a vida real, que atinge a vida de milhões de pessoas. Por isso a fala da bela atriz, em troca de muitos 30 dinheiros, aparece em descompasso com a vida real, e toma a forma de fala maldita. Tanto assim que ganhou força nas redes sociais, especialmente no Facebook, campanhas com frases, como: "Cala a boca, Débora!", ou: "Débora, você colocaria os seus filhos nas escolas públicas de Minas?", entre outras.

Tanto no quesito qualidade de ensino, como no da valorização da educação - que estão intimamente ligados e são indissociáveis - a realidade da Educação em Minas não é aquela pintada pelo governo. São inúmeras as denúncias de formação de turmas multiseriadas no ensino regular, escolas sem quadra de esporte, sem sala de leitura, sem laboratórios de informática ou de Ciências, etc. E a própria greve dos educadores, de 112 dias - praticamente um terço de ano - em 2011, cobrando a aplicação de uma lei federal, demonstra que algo não vai bem no reino da Educação em Minas. E no Brasil também, já que o governo federal e os demais governos estaduais e municipais são cúmplices na sonegação ao povo, especialmente aos mais pobres, do direito ao ensino público de qualidade.

Sequer estes governos pagaram a Lei do Piso. E no lugar disso, detonaram as carreiras, alterando as leis estaduais para burlar a norma federal, que manda aplicar o piso no plano de carreira existente, e pagar o piso enquanto vencimento básico, e não como remuneração total. Isso é a lei, isso foi confirmado pelo STF. Mas os governos estaduais - e o federal também - não respeitam as leis e fazem o que bem entendem, quando se trata de sonegar aos de baixo os seus direitos. Negam aos de baixo o direito a um salário mínimo decente; negam aos de baixo o direito à moradia digna; negam aos de baixo o direito à saúde pública decente e à Educação pública de qualidade para todos.

Mas o fato é que agora, com o advento das redes sociais virtuais, onde o cidadão comum se torna sujeito, não sujeito às mordaças que as muitas entidades burocratizadas impõem, as máscaras vão caindo. Em pleno carnaval, e depois também. A da bela atriz, por exemplo, revelou-se portadora de uma fala maldita. Todo mundo sabe que a Educação em Minas não é aquilo que se tentou vender. E que o governo, se quiser melhorar a sua imagem, terá que gastar menos em propaganda e investir mais e melhor na Educação, a começar por pagar o piso corretamente na carreira e devolver cada centavo que tirou dos educadores em 2011.

O desmonte da fala mal dita da bela atriz trouxe ainda uma outra consequência: que todos os artistas estejam avisados. Emprestar ou alugar a imagem para governos não faz bem para a imagem do próprio artista. São muitos 30 dinheiros mal pagos, e por isso malditos, posto que usados para iludir, enganar, distorcer realidades que afetam a vida de milhões de pessoas simples, gente do povo, que contribuiu para fazer a imagem dos próprios ídolos midiáticos, que hoje se voltam contra os de baixo.

É fato que temos uma camada de artistas profissionais - sem generalizar, claro - absolutamente alienada da realidade social brasileira. A exemplo da elite política profissional, que também faz pouco caso dos de baixo, enquanto se lambuza nas fartas ceias das elites, bancadas com o suor de milhões de trabalhadores explorados.

Essa realidade, contudo, não vai durar para sempre. Os de baixo, a despeito do monopólio da grande mídia enganadora e vendida, constroem seus próprios instrumentos e formas de organização e de luta. As redes virtuais, por exemplo, tornaram-se um mecanismo ágil e horizontal de comunicação e divulgação de ideias entre os de baixo. E isso incomoda. Até mesmo os dirigentes sindicais acostumados ao comodismo do controle de máquinas burocráticas enferrujadas a serviço dos seus partidos ficam incomodados. Muitos movimentos de protestos são organizados hoje em dia através da rede virtual, que ganham vida nas ruas e enfrentam os de cima e seus aparatos repressivos e de manipulação.

Nós, os educadores de Minas, não estamos alheios a estas mudanças. E estamos fazendo uso desses importantes instrumentos para manter e fazer crescer a nossa unidade e luta pelos nossos direitos. A começar pelo piso e pela carreira, respectivamente sonegado e destruída. Que o mau exemplo da bela atriz sirva para desestimular outras práticas semelhantes, de falas que, antes de belas, tornaram-se malditas.

Um forte abraço a todos, um bom descanso e força na luta! Até a nossa vitória!

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Postado por Blog do Euler às 11:35 22 comentários

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