sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Educadores mineiros dão aula pública de resistência ante ao despotismo de um governo robotizado
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Educadores mineiros dão aula pública de resistência ante ao despotismo de um governo robotizado
Aos 73 dias de corajosa resistência aos ataques diários da máquina governamental mineira, os educadores de Minas em greve resistem heroicamente e merecem o título de pós-graduação em cidadania, em humanismo, em tudo, emfim, de melhor que a humanidade esclarecida produziu nos últimos séculos.
Estamos diante da luta de duas forças antagônicas. De um lado, um governo despótico, que lança mão de uma máquina azeitada para destruir seres humanos, com o respaldo de uma mídia comprada, que renunciou ao papel de agente de informação com ética, de investigação isenta e de compromisso com o seu público; além dessa mídia vendida, o governo de robôs recebe o amparo também de uma justiça dócil às conveniências políticas dos governantes, atropelando as leis e interpretando-as por critérios pessoais. E para completar esse quadro, um legislativo inoperante, serviçal e canalha. Com raras exceções nestes poderes citados, eis a face da máquina de moer seres humanos construída em Minas Gerais.
Opondo-se corajosa e ousadamente a este monstrengo encontram-se os valentes educadores mineiros. Em 73 dias ininterruptos temos sido vítimas dos mais diferentes ataques. Já cortaram e reduziram ilegalmente nossos salários; já enfrentamos a tropa de choque da polícia com seus cassetetes e gás de pimenta; estamos sendo vítimas dessas contratações vergonhosas de "qualquer um" que se apresente para assumir o papel de "mestre", numa tentativa desesperada de um governo ilegal de tentar mostrar para a sociedade que está preocupado com os alunos - vítimas, estes, de um sistema educacional que não recebe investimento adequado, pois a grana disponível neste país, fruto do nosso suor, é usada para as negociatas de salão entre as elites dominantes.
Os educadores enfrentaram (enfrentam ainda) a chuva, o sol, o frio, a fome, a repressão, as ameaças de diretores capachos, a canalhice da imprensa que distorce os fatos para criar uma situação de fato inexistente; a omissão dos podres poderes que deveriam proteger os mais fracos, mas se tornaram algozes da grande maioria pobre da população.
Considero a nossa greve uma grande escola que desenvolve na prática a interdisciplinaridade, que educa de forma crítica a centenas de milhares de pessoas, pela força da palavra, do exemplo, da paixão com que centenas de guerreiros e guerreiras educadores mineiros se envolvem na defesa dos nossos interesses de classe, da nossa carreira ameaçada, do nosso piso salarial.
Eu ouço os tambores de Minas, que nunca se calaram, nunca. Da rica herança da nossa mãe África, com tudo o que de melhor produziu para a humanidade; da nossa conspiração e resistência mineira à Coroa Portuguesa, influenciada pelos sonhos iluministas; das milhares de lutas sociais, que se ligam aos sonhos de lutadores de todo o mundo, da América Latina, da Europa, da África, do Oriente Médio... Somos herdeiros dessa brava gente guerreira, que através da luta arrancou conquistas históricas que hoje estão ameaçadas pelas máquinas de destruir seres humanos.
Quando olho para este governo, não vejo seres humanos, com sensibilidade para o diálogo, para o cumprimento dos direitos assegurados em lei. Eu vejo robôs, vejo máquinas frias, capazes de destruir a tudo e a todos em nome de interesses mesquinhos, menores, de grupos poderosos que disputam as maiores fatias das riquezas que todos os mineiros e brasileiros produzem.
O que estão fazendo com a Educação em Minas é um ato de vilania, de torpeza vil da pior espécie. Um sistema que envolve 400 mil educadores, entre trabalhadores na ativa e aposentados; 2,3 milhões de alunos e o dobro deste montante de pais de alunos. O que eles fazem conosco? Tentam nos humilhar, destruir, dividir, enfraquecer, diminuir para que não tenhamos mais força sequer para sonhar.
O modelo ideal de educador para este governo de robôs é justamente o de seres levados à míngua, resignados, prostrados, incapazes de reagir às ordens dos capitães do mato travestidos de diretores de escola, com o perdão daqueles bravos diretores e diretoras que não se submetem a este pusilânime papel.
O governo de Minas, suas secretárias, seus diretores das SREs, seus diretores capachos, a mídia vendida, o judiciário dócil, o legislativo servil, todos, com raras exceções, dão a Minas e ao Brasil o anti-exemplo da cidadania e do legado humanista e solidário conquistados com muito suor e sangue pelos de baixo, ao longo de muitos séculos de luta.
Os educadores mineiros em greve, e o seu núcleo duro em especial, são a encarnação viva do que de melhor a humanidade produziu. Somos herdeiros das melhores tradições de luta, da paixão, da sensibilidade, da coragem, e até do medo, que mostra que somos humanos, e por isso mesmo estamos dispostos a continuar a nossa batalha, até o final.
Cada um de nós que está em greve, seja por mais tempo, seja os que estão aderindo agora, carrega nas costas a responsabilidade pela salvação dos melhores princípios e heranças morais e éticas humanistas e solidárias. Somos a esperança de que a educação pública de qualidade para todos, universal e libertária, cumpra-se de fato, e não apenas nos discursos ocos dos políticos profissionais.
Nossa luta é pelo piso salarial, garantido em lei, e sonegado pelo governo robotizado; e pelo piso será a nossa luta até a nossa vitória final. Mas, a nossa luta transcende também os limites dessa importante conquista, quando ela se torna a principal força a se opor ao monstro de moer gente consubstanciado nessa máquina governamental arquitetada nos últimos anos.
Minas não pode continuar assim. O Brasil também não pode continuar assim. E os educadores estão, na prática, assumindo o protagonismo da libertação de Minas e do Brasil das garras das muitas máquinas de destruir seres humanos.
Por isso continuamos em greve; por isso resistimos, apesar de todas as dificuldades; por isso cultivamos aquilo que parecia morto: o sonho de um mundo melhor para todos.
Eles podem arrancar quase tudo de nós: salário, emprego, comida, moradia. Mas, não vão arrancar a nossa dignidade, a nossa coragem de lutar, a nossa voz, a nossa disposição de travar este bom combate, desigual - pelo poderio da máquina governamental -, mas incapaz de nos fazer render.
Somos o povo da luta! Somos o povo da resistência! Somos o povo do combate! Somos o povo que sonha! Somos, enfim, com muito orgulho, os educadores de Minas Gerais!
Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória, com o piso salarial implantado no nosso vencimento básico!
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