QUINTA-FEIRA, 8 DE SETEMBRO DE 2011
Educadores de Minas decidem, por unanimidade, manter a greve geral
Olá pessoal do combate, turma do NDG, amigos e amigas de luta de toda Minas Gerais,
Acabo de chegar no bunker, e como de costume, trarei o relato e as análises da nossa realidade. A nossa assembleia geral, como sempre lotada, com milhares de valentes educadores/as de todas as cidades de Minas, decidiu, por unanimidade, pela manutenção da greve geral por tempo indeterminado.
A avaliação que pude colher das pessoas com as quais conversei é a de que não podemos recuar agora. Mas, ao mesmo tempo, temos que avançar na nossa luta, para forçar uma negociação por parte do governo.
Na semana que vem haverá queima simbólica do projeto do subsídio em frente a todas as SREs, quando os grupos do NDG e demais educadores em greve estarão participando desta atividade. Além disso, haverá atividades regionais, incluindo a caça ao governador fora da lei, esteja ele onde estiver.
O projeto do governo só começa a tramitar na semana que vem. E seguramente nós faremos um acompanhamento pesado, visitando todos os gabinetes e marcando presença nas galerias.
De novidade, na assembleia de hoje, o que surgiu foi uma informação trazida pelo colega Gilbert, de Uberlândia, segundo o qual, o deputado Gilmar Machado teria informado sobre o encontro entre o governador de Minas e o ministro Fernando Haddad, do MEC. Segundo a informação atribuída ao referido deputado, o ministro teria dito que se o governo apresentar o Plano de Carreira de MG, demonstrando que precisa de recursos, o governo federal faria a complementação necessária.
Ora, não acreditei nessa informação(não por culpa do Gilbert, que apenas relatou o que ouviu). Primeiro porque parece muito fantasiosa. Afinal, nenhum dos dois personagens envolvidos apresentou qualquer resultado concreto após a citada reunião. Então, caso seja verdade que o tal deputado tenha feito tal afirmação, que ele seja chamado a provar o que disse. Pois, neste caso tem alguém nos enganando. ***
Aliás, tem muita gente nos enganando: o governo de Minas, o MP, o Legislativo de MG, o judiciário, a imprensa mineira, o governo federal, o MEC, enfim, muita gente.
Mas, vamos em frente com a nossa análise. Quero insistir num ponto. Conversei com gente de toda parte de Minas, pois o nosso blog se tornou uma referência inconteste para os educadores mineiros. Muitos me disseram que o nosso blog é responsável pela manutenção da greve e por ter envolvido muita gente na nossa luta. Sempre acho que isso é um exagero, mas não vou negar, pelo número diário de acessos (em média, em torno de 10 a 15 mil) e de comentários, já passando de duas centenas diariamente, que este espaço tem contribuído sim, para a formação e para o diálogo horizontal entre os guerreiros e as guerreiras da nossa greve.
E quando eu falo do blog, falo no coletivo: ele já não é mais uma obra individual, pessoal, do Euler, não. Há muito que o blog se tornou uma propriedade coletiva de todos os que aqui frequentam e lutam pelos interesses comuns, de classe. É o mesmo processo que vem acontecendo com o NDG (Núcleo Duro da Greve), que de uma designação dada por mim enquanto análise do setor mais resistente da greve, tem assumido uma forma simbiótica de auto-organização, horizontal e sem nenhuma centralização. A luta, a ação e o diálogo de quem está na greve são os pontos de unidade doNDG. Hoje na assembleia sugeriram que eu chamasse uma reunião de lideranças do movimento para discutir com mais profundidade o movimento e as nossas linhas de ação. Achei a ideia interessante e vou amadurecê-la com vocês durante a semana.
De qualquer forma, está claro para muitos colegas, que precisamos forçar uma negociação com o governo. O primeiro passo para isso é manter e fortalecer a greve. Os outros passos ocorrerão com estratégias de ação que não se limitem às passeatas na Capital de BH. Claro que as manifestações no interior de Minas são importantes, e muito; aliás, todas as manifestações - na Internet, nas ruas, nas escolas, etc - são importantes. Mas temos que avançar qualitativamente nessas manifestações, especialmente asvoltadas para atingir os centros do poder, em BH ou em Brasília.
Nas conversas que tenho com os colegas, está claro também que ninguém quer recuar e voltar a trabalhar, depois de quase 100 dias de greve, tendo passado por tudo o que nós passamos: corte e redução de salário, pressão do governo, contratação de substitutos, perseguição de colegas, arapongagem, mentiras acerca do nosso piso, etc.Não temos o direito de recuar quando temos nas mãos uma lei federal - a lei do piso -, e uma lei estadual - o plano de carreira -, que dão sustentação legítima e legal ao nosso pleito.
O ilegal, nessa história, é o governo, que confisca, que rouba, os nossos sonhos, os nossos direitos, os nossos salários, a nossa carreira, e um pouco da nossa vida, até. É um governo que está destruindo a Educação pública em Minas e criando uma situação de impasse, de desfecho imprevisível.
Um recuo agora seria a morte anunciada da nossa categoria. Seria uma derrota para todos os movimentos sociais de Minas Gerais e até do Brasil, que assistem e apoiam, solidários, à nossa luta. Não temos o direito de decepcioná-los, pois estaremos enterrando os sonhos de muitos, que acreditam que a luta, a resistência, é capaz de combater e vencer inimigos que usam e abusam do poder contra os de baixo.
Muita gente pediu que eu falasse durante a assembleia. Tenho que me justificar aqui. Depois de um entrevero que houve com a direção do sindicato logo no início da greve, eu disse que não mais usaria os microfones do sindicato, até que percebesse mudança na forma de conduzir as assembleias. Ainda não percebi essas mudanças, no que tange à utilização do microfone pelos da base. E vou me explicar. Na região onde eu moro, quando realizamos assembleias e outras atividades, o microfone fica aberto para quem deseja falar. Fui educado assim, a não ter que enfrentar fila para ter que falar e sem saber sequer se fui inscrito entre os escolhidos a dedo. Isso para mim é humilhação que não deveria existir numa entidade que se diz representante dos trabalhadores. Já sou humilhado pelo governo, pelos de cima; não aceito este tipo de humilhação por parte do sindicato. O dia que colocarem regras decentes para quem deseja falar - seja através de sorteio, ou de uma lista onde todos terão assegurada a palavra, mesmo que seja em horário anterior ao início formal da assembleia -, pode ser que eu me apresente para falar.
Bom, mas isso é o de menos importante. O que importa é que a categoria vive a seguinte situação. O NDG tem pique para resistir por muito mais tempo, até o final, até quando for necessário. Mas, nem todos têm esse pique, a maioria por razões financeiras, de sobrevivência material.
Mas, é preciso levar em conta que, um pouco mais de resistência se faz necessário por parte de todos, antes que retornemos ao trabalho. Não estamos distantes da possibilidade de conquistarmos o piso. E essa conquista está diretamente associada à nossa capacidade de resistir e de continuar em greve. É simples assim. O governo não tem muito o que fazer a não ser pagar o piso, caso continuemos em greve. E mais: ele terá que devolver o que nos tirou.
O contrário disso seria retornar sem o piso e sem aquilo que nos foi tirado. E isso nós não podemos aceitar. Já disseram aqui que essa luta, como qualquer outra, não seria fácil. Muita gente que está entrando em greve agora, traz o fôlego novo e tem mais condições de fortalecer a greve. Mas,os mais experientes e que resistiram por mais tempo devem fazer um esforço grande para não recuar agora. Se o problema for o de sobrevivência, reúnam-se com os colegas e discutam formas de arrecadar cestas básicas e meios essenciais de sobrevivência.
Se o problema for emocional, por pressão de família ou da direção da escola, procure conversar com as pessoas que estão mais firmes na luta e junte-se a eles, num diálogo coletivo. Este diálogo é fundamental para alimentar espiritualmente a cada um de nós. Além disso, a atuação organizada nas cidades, incluindo o apoio de alunos e de alguns pais de alunos, pode dar outra força renovadora para o movimento.
Da parte do governo, percebe-se que ele está num certo estado de desespero. Já não sabe mais o que fazer diante de tantas mentiras que produziu e de tantos estragos provocados nestes 93 dias de greve. Só uma coisa poderá diminuir este estrago que já arranhou gravemente a confiança no governo de Minas e no projeto de poder do seu padrinho faraó: se ele resolver cumprir a lei e pagar o piso.
Da nossa parte, temos que resistir. Temos que continuar lutando, buscando energias onde for possível, pois devemos isso a nós mesmos, aos nossos alunos, e a todos os de baixo, da atual e das próximas gerações. As perdas e sacrifícios que ora atravessamos serão recompensadas com a nossa vitória.
Por isso é preciso resistir, animar os colegas, levantar a moral de todos os bravos e bravas guerreiros/as que de forma ousada e destemida têm estado à frente desta revolta greve, que já seaproxima de 100 dias de um heroísmo e uma obstinação sem igual.
Vocês são meus heróis! São minha referência. É com vocês, e por vocês, que eu estou nessa luta, disposto a levá-la até as últimas consequências.
Um forte abraço e força na luta! Até a vitória!
P.S. Mais tarde, depois do banho, do chá e dos biscoitos, e de um rápido descanso, eu volto com novas análises!
P.S.2 - O posicionamento da AGU em Brasília não altera em nada o nosso direito ao piso no antigo sistema remuneratório. Além disso, o MP e os ministros do STF ainda não deram o seu parecer sobre o tema. Se conseguirem associar o subsídio à ADI 4167 - como eu sugeri aqui já há algum tempo - seguramente eles aprovarão a ADI 4631 e acabarão com o subsídio. Mas, antes disso, penso que resolveremos as coisas aqui em Minas. Mesmo que tenhamos que ir a Brasília.
*** Nossos visitantes guerreiros descobriram essa matéria, no blog do deputado Gilmar Machado:
" Greve dos Professores: Governo federal analisa complementação para cumprimento do Piso pelo governo de Minas
8 de setembro de 2011
O governo federal analisa a complementação financeira para que o Estado de Minas Gerais cumpra o Piso Salarial dos professores. Esta foi a definição, após reunião do governador Antônio Anastasia (PSDB/MG), com o ministro da Educação, Fernando Haddad, na presença do deputado federal Gilmar Machado (PT/MG). Durante o encontro, realizado na semana passada em Brasília, Fernando Haddad disse que o governo federal deve avaliar a situação financeira de Minas e averiguar a impossibilidade do Estado de cumprir o piso. Para receber a complementação, o governo estadual deve implantar o Plano de Cargos e Carreira para a Educação. Os trabalhadores da Educação no Estado estão em greve há 90 dias."
Comentário do Blog: pergunta-se: por que motivo nem o governador do estado e nem o ministro do MEC deram tal informação para a mídia? Pelo contrário. O ministro do MEC saiu apoiando as contratações dos substitutos e posteriormente disse que as greves pelo piso são legítimas, e que os estados deveriam ter se preparado para pagarem o piso. E o governo do estado nada disse a este respeito. Pelo contrário: encaminhou o projeto de lei do subsídio. Agora o deputado disse que testemunhou a reunião e que faltava apenas "implantar o plano de cargos e Carreira para a Educação". Ora, nós já temos um Plano de Carreira desde de 2004. O que o governo de Minas ainda não fez foi implantar o piso neste plano de carreira. Está na hora de cobrar respostas deste deputado e enviar para a mídia e para o MP para que eles cobrem do governo mineiro a sua versão. E que o MEC também dê a sua versão oficial.
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