sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Informações do blog do Euller Conrado


SEXTA-FEIRA, 21 DE OUTUBRO DE 2011

Campanha de ajuda mútua tem início com os primeiros resultados. Povo amigo da Comunidade Dandara realiza marcha em BH.

A Comunidade Dandara recebeu o abraço de milhares de moradores e apoiadores no último domingo. Entre os presentes, nossos colegas educadores Denise, Flávio, Diógenes e André.



Campanha de ajuda mútua tem início com os primeiros resultados. Povo amigo da Comunidade Dandara realiza marcha da resistência em BH. Na ALMG nosso papo principal foi com os acampados do Anonymous.Por trás da morte de Kadafi, a destruição de mais um país pela disputa imperialista de mercado.Prossegue o debate no blog sobre o piso, as negociações com o governo, a demissão dos substitutos, e questões como reposição, cortes e redução de salários, faltas greves e comuns, etc.


Comecemos o nosso relato de hoje. Vida de blogueiro não é fácil não. O blog se torna uma espécie de redação de jornal, diário pessoal - e neste caso um diário coletivo, feito por muitas mãos - e trincheira de resistência. Nós alimentamos o blog e somos alimentados por ele, pelos desafios que cada navegante amigo nos coloca - ou coloca para qualquer outro colega responder. É um espaço coletivo, de informação e de crítica. Diante de umamídia que é quase toda manipulada e manipuladora, as formas alternativas, como as redes sociais, acabam ocupando os espaços do diálogo horizontal, ágil e com múltiplos pontos de vista.

O dia de hoje foi marcado por muitos acontecimentos. Vamos enumerar alguns:

1) A nossa campanha de solidariedade teve início e já rendeu os primeiros bons frutos: várias pessoas começaram a contribuir e já vou repassar valores, modestos, obviamente, para outras pessoas. Ou seja: está funcionando! Conforme combinado aqui, não darei nomes, e ao invés de divulgar valores diariamente, como pretendia fazer, vou publicar o extrato a cada semana. Para contato por e-mail: (euler.conrado@gmail.com). Agradecemos a cada um dos colegas que estão colaborando com a campanha de ajuda mútua. Agradecemos aos que não podem contribuir financeiramente, mas estão apoiando através da divulgação ou do levantamento de dados direcionados para os colegas mais necessitados. É uma iniciativa simples a que estamos realizando coletivamente - deveríamos ter feito isso há mais tempo, mas, tudo bem. Na próxima greve nós já teremos uma experiência a mais para poder aprimorar. Quem sabe criando um fundo de greve, como faziam os operários nos primórdios do movimento sindical com o advento da industrialização?

2) A marcha da resistência dos moradores da Comunidade Dandarae apoiadores foi coberta de sucesso, pelo visto. Durante o dia publicamos um relato dando conta de que a partir de 4h da madrugada cerca 800 pessoas saíram da Dandara e atravessaram a longa distância entre o bairro Céu Azul, onde fica a Comunidade Dandara, e o Centro de BH, até o Fórum, na Rua Gonçalves Dias. A marcha (e a causa) dos irmãos da Dandara, contra o despejo imposto por decisão judicial arbitrária, desumana e inconstitucional, ganhou a simpatia e o apoio de movimentos e pessoas de várias partes do Brasil e do mundo. A marcha contou ainda com o reforço de estudantes da UFMG, além do apoio das entidades sindicais e movimentos sociais. Sem falar no apoio de peso do Frei Gilvander, que teve destacada participação na nossaheroica greve de 112 dias. Construir este elo permanente de apoio e solidariedade entre os que lutam,entre os de baixo, entre os movimentos sociais, é uma tarefa essencial para todos nós, queenfrentamos os mesmos inimigos do povo. Todo apoio à Comunidade Dandara na manutenção do espaço coletivo de moradia e de vida ali construído.

3) Na ALMG estava previsto um atode protesto por ocasião da entrega do título de cidadania honorária para a cantora baiana Ivete Sangalo, que receberia também medalha dos dragões da Inconfidência. Não seria propriamente um ato contra a cantora, claro, mas contra o governo que a homenageia, enquanto trata com descaso a Educação pública e os educadores de Minas. Mas, pouca gente apareceu. O que é compreensível: nossa turma, além da "ressaca dos 112 dias da nossa heroica greve", está em pleno ritmo de aulas diárias, a maioria com dois cargos, reposição nos finais de semana, além da "falta de dinheiro, que é fatal", como diz a bela canção do saudoso cantor e compositor Taiguara. Diz a música: "E que as crianças cantem livres sobre os muros. E ensinem sonho ao que não pode amar sem dor. E que o passado abra os presentes pro futuro. Que não dormiu e preparou o amanhecer...". Grande Taiguara. Cantor romântico, prestista (de Luis Carlos Prestes) de carteirinha, sonhador. Morreu jovem, mas produziu uma bela obra musical e poética. Então, como o ato na ALMG não deu quorum, como definiu bem o capitão NDG Rômulo, fomos nós três, que sobraram (sobramos) por lá -Rômulo, Diógenes e eu, sendo que o Diógenes fora condecorado ali mesmoAspirante NDG por mim e pelo Rômulo - conversar com o pessoal doacampamento Anonymous.

Confesso que quando cheguei próximo a este acampamento com algumas barracas, no final do pátio da ALMG, sabia que era um protesto, mas não imaginava do que se tratava. Vi faixas sobre saúde, sobre democracia, sobre ecologia. Pensei: uma nova seita? Não. Logo que nos aproximamos alguns jovens vieram se explicar ou explicar os motivos daquele acampamento, que já dura uma semana. Quando dissemos que somos professores que ficamos em greve 112 dias eles nos olharam com todo respeito. E puseram-se a falar dos seus projetos. Eles se identificam, segundo disseram, com os movimentos de protesto que acontecem na Europa e nos EUA e por dezenas de países. A ideia básica era ocupar a praça pública, coisa que eu defendo desde criancinha de colo. Aí o Rômulo interveio: mas, só ocupar a praça não resolve, e descreveu para eles todo o arsenal teórico marxista-leninista-stalinista-maoista. Um verdadeiro bombardeio. Os rapazes e moças olhavam assim meio que admirados e espantados. Após ter ouvido o rapaz do acampamento e o capitão NDG Rômulo, com as contraposições do Aspirante Diógenes, quis mostrar para os jovens ocupas que há sempre uma segunda, ou terceira, ou quarta opinião. E me pus a enfocar a revolução mundial com outros olhares, não poupando ninguém, bem ao meu estilo - de Marx a Fidel Castro, não sobrou pedra sobre pedra, rsrs. Claro que reconhecendo a magnífica contribuição,especialmente do primeiro. E ali passamos mais de uma hora resolvendo democraticamente os problemas da humanidade, conspirando contra todos os governos, enquanto no interior daquela Casa, que só é do povo quando nós a ocupamos, acontecia o ritual da honraria, que será cobrada certamente em troca de apoios eleitorais e trocas mútuas entre os agraciados e agraciadores. Entre nós, educadores sem-salário, realizamos a partilha do pão com nossos irmãos em luta; entre eles, ocorre a partilha do que roubam dos nossos bolsos. Numa certa altura da noite, fui escoltado por esta dupla de alta patente moral e política até o ponto de ônibus, onde me dirigi de volta ao bunker. Nosso próximo encontro, da turma de luta do NDG - uma pequena parte dela, lógico - será no dia 29, durante a reunião do comando estadual de greve.

4) A morte de Kadafi encerra mais um capítulo de destruição. Ao contrário do que propaga a mídia pró-discurso ocidental, não se trata meramente da eliminação de um ditador sanguinário. Há mais coisas nesse cenário apresentado, onde a OTAN, os EUA e os ditos rebeldes líbios aparecem como mocinhos lutando contra o ditador. Não é bem assim. Que Kadafi era um ditador ninguém pode negar. Estava no poder há 42 anos. Mas, no contexto do Oriente Médio e do Norte da África, a Líbia era um país cujo povo tinha razoável padrão de vida, até onde se sabe, com educação gratuita, saúde pública, etc. Claro que isso não justifica qualquer forma de ditadura. Mas, contrapor aquele sistema com a destruição do país pela OTAN não me parece a melhor solução. Ali não ocorreu propriamente a derrubada de um ditador pela maioria da população - o que seria legítimo - , mas sim, o massacre do povo líbio, cuja maioria das tribos apoiavam o governo de Kadafi - mesmo que em constante conflitos. A queda do sistema foi obra de um poder militar externo, a serviço de interesses econômicos de grupos de rapina. O país foi bombardeado pela OTAN dia e noite, que eliminou centenas de civis, destruiu fontes de sobrevivência, arruinou a economia, e pagou grupos de mercenários para completar o massacre sobre as forças leais ao ditador Kadafi. Portanto, não considero que se trate de uma libertação do povo líbio, mas da partilha das riquezas, especialmente do petróleo, entre os países ricos, que deixarão no poder um novo grupo de aliados. O próprio regime de Kadafi negociava com o Ocidente, assim como fez Sadam Hussein, ex-ditador do Iraque. Quando não interessou mais aos grupos econômicos e sua estrutura militar, hegemonizada pelos EUA, manterem estes personagens, eles foram eliminados. Em poucos anos assistimos ao massacre e à destruição de países como o Afeganistão, o Iraque e agora a Líbia, tudo em nome de uma suposta liberdade e democracia ocidental, voltada quase que exclusivamente para servir aos interesses dos de cima. A humanidade terá de fato que pensar alternativas de convivência que combinem formas realmente democráticas de controle, pelos de baixo, sobre as coisas públicas, com justiça social.

5) Os temas principais do nosso blog prosseguem: o nosso piso salarial, que ganhou nova força com o parecer da PGR, faltando somente a finalização do trânsito em julgado para que cobremos a fatura do governo; as negociações do sindicato em torno de vários pontos, como: reposição, demissão dos substitutos, falta greve e falta comum, anistia, pagamento dos cortes, entre outros. Um tema não discutido, mas que não abro mão de jeito nenhum é a redução salarial aplicada pelo governo mineiro contra quem optou pelo sistema de Vencimento básico. Considero absurda esta prática, que gerou um confisco próximo de R$ 360 milhões para o governo. Se somarmos ao que governo não nos pagou com a sonegação do piso e com os nossos cortes salariais, podemos dizer que os servidores da Educação estão bancando o reajuste que o governo pretende dar a todos os servidores (menos os educadores), e até mesmo o prêmio de produtividade, ainda sem data prevista. É através do confisco dos educadores que o governo mineiro está fazendo bancando despesas que ele criou, quando deveria ser o contrário: primeiro ele teria que investir na Educação, como didaticamente ensinou a procuradora-geral da República no parecer que analisamos ontem; somente depois ele faria os ajustes e cortes e gastos necessários. O governo de Minas inverte as coisas, pois não tem compromisso com a Educação pública de qualidade, e muito menos com a valorização dos educadores - descaso este que se estende ao governo federal e outros governos de igual pensamento e prática neoliberais. Amanhã, ou melhor, mais tarde um pouco continuaremos a discussão sobre estes e outros temas, pois o sono já me arrasta para a cama.

Um forte abraço a todos, força na luta, e até a nossa vitória!

E viva a luta dos educadores e demais movimentos sociais, de Minas, do Brasil e do mundo!

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