terça-feira, 29 de junho de 2010

BLOG DO EULER: EDUCADORES MUNICIPAIS DE IPATINGA PODEM CONQUISTAR PISO DO MAGISTÉRIO E OUTRO TEXTO: " MINAS, OH MINAS, QUE VERGONHA!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Educadores de Ipatinga podem conquistar piso do magistério


O jornal Hoje em Dia, de hoje, 29.06, traz a seguinte notícia, que reproduzo abaixo. Reparem que para a jornada de 20 horas semanais, o salário (vencimento básico) de um professor com curso superior será de R$1.968,00:

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Ipatinga pode ser primeira a pagar piso integral a professores

Aumento dos servidores será de 13,75% e será pago de forma gradativa até novembro de 2011

Ipatinga, no Vale do Aço, pode ser o primeiro município no Estado a pagar integralmente o Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN) aos profissionais da rede municipal. Está previsto para a tarde desta terça-feira (29) a segunda votação, na Câmara Municipal, do Projeto de Lei 106/10, de autoria do Executivo.

Os 13 vereadores da cidade adiantaram que manterão o voto da primeira votação, quando a proposta foi aprovada. O Projeto de Lei deve ser enviado para sanção do prefeito Robson Gomes (PPS), ainda na terça.

Motivo de duas greves no município, o reajuste é reivindicado desde que a Lei Federal de julho de 2008 entrou em vigor. O aumento será de 13,75% e será pago de forma gradativa até novembro de 2011. Os novos salários devem ser pagos já em julho e também serão estendidos aos cargos contratados e em comissão.

O piso proposto pela categoria é de um vencimento inicial, sem inclusão das vantagens, de R$1.312,85 para nível médio e de R$1.968,00 para formação superior em jornada de 20 horas semanais. O reajuste vale somente para os profissionais da rede municipal. Os professores do Estado continuam recebendo o piso estadual de R$ 935.

O anúncio deixou a categoria satisfeita. Segundo a coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas em Ipatinga (Sind-UTE), Feliciana Saldanha, a implantação deste piso é uma conquista política inédita. “Ipatinga será a primeira do Brasil a implantá-lo. Desde que foi aprovado, em 2008, buscamos essa efetivação com diálogo e duas paralisações. Inicialmente, a prefeitura nos informou que seria impossível arcar com o piso nacional. A ideia de instituí-lo de forma gradativa surgiu durante as negociações”, detalha.

Segundo a Secretária Municipal de Educação de Ipatinga, o município já pagava o valor do piso, mas proporcional às horas trabalhadas. A lei propõe que valor deve ser pago de retroativo a 1º de junho de 2010. Para cobrir as despesas serão utilizadas dotações orçamentárias em vigor e as dos anos subsequentes. Com o aumento, o impacto orçamentário na folha passa para 45,56% do total. Para o secretário de Governo de Ipatinga, Francisco Lemos, a medida prova o compromisso firmado com o sindicato. “Agimos como países de primeiro mundo, que investem em Educação, prevenindo problemas de segurança e de saúde”, afirma."

Fonte: Hoje em Dia

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Minas, oh Minas, que vergonha!


Acho que hoje foi a minha última ida este ano, pelo menos, nas galerias daquela que deveria ser a Casa do Povo. Me sinto melhor no pátio, ou na praça, ou nas ruas, ao lado das pessoas com as quais travo os mais belos combates cotidianos. Mas, nas galerias daquela casa, na última semana, presenciei e participei de gestos de grande e corajosa resistência.

Não foi surpresa para mim, que vivi 47 dias de greve ao lado de pessoas que eu vi crescer politicamente, vi alçar vôos mais altos, enxergando horizontes antes limitados pelas paredes da escola ou da casa. O suor do nosso corpo misturou-se ao pó das ruas de BH e de cada canto de Minas, formando uma argamassa em quantidades mil vezes maiores do que todo o concreto dos castelos e viadutos construídos nos últimos anos.

Nas galerias daquela Casa, estranha para nós, embora seja cantada aos quatro ventos como a Casa do Povo, eu vi e ouvi, um mar de gente gritando, cantando, dançando, formando olas, xingando, de pé, sem medo de olhar para as sombras, apontando para baixo e dizendo: "a maioria de vocês, que diz nos representar, toma bênção ao faraó e diz amém ao governante de plantão".

Pelo menos da minha parte, proclamo aqui, em alto e bom tom: vocês não me representam, não falem em meu nome, eu não lhes dou este direito!

Enquanto as horas se passavam, de uma enrolação sem fim por parte de parlamentares sem inspiração, movidos a negociatas e serviçais dos poderosos, nossos bravos guerreiros não se entregaram, não esmoreceram, não se renderam.

Ali, bem ali, do outro lado da galeria, uma voz de um combatente, sem microfone nem nada, salta potente da garganta de um colega, que declama: "Minas, oh Minas..." destacando a vergonha de ver de joelhos aqueles que prometeram representar com dignidade a população mineira. Quão diferente a fala espontânea do colega com aqueles discursos decorados e ocos dos políticos profissionais que servem aos poderosos.

Lembrei-me de quando, numa praça, em frente à rodoviária de BH, no comício das diretas-já, lá pelos anos de 1984, nos escombros de uma ditadura militar já quase morta, uma voz gritava nos microfones: "Mineiros, o primeiro compromisso de Minas, é com a liberdade". Frase bonita, mas oca, porque dita por quem, avô do faraó, não legou como prática a liberdade, o respeito aos servidores de baixa renda, aos assalariados, enfim.

E ali das galerias, ouvindo o combatente gritando: "Minas, oh Minas...", seguido de um poema que nasce da alma do lutador, senti que a nossa batalha produziu e inspirou uma gente diferente. Ou talvez tenha apenas despertado em cada um de nós aquele tesouro que estava guardado no mais íntimo da nossa alma.

No último encontro, ali nas galerias daquela casa estranha, que não é a nossa, ainda, haviam poucos educadores. A maioria dos combatentes estão guardando energia para os novos embates. Apenas alguns poucos, que vieram buscar as últimas sementes das épicas batalhas, lá estavam para testemunhar estes momentos finais de resistência.

Ao meu lado, uma senhora, policial civil, cercada por uma galeria praticamente toda tomada por outros policiais, estranhou a ousadia daquele pequeno número de educadores, valentes, intrépidos, incansáveis. Eles, aos montes, centenas, comportavam-se de forma ordeira, silentes; nós, uns poucos, ao contrário, colocávamos abaixo o prédio daquela casa estranha. A senhora chegou a me indagar: vocês não têm medo de falar estas coisas não, heim? Respondi secamente: Não, nenhum, nenhum. E continuamos a formar um coral de vozes a chamar pelo nome adequado aqueles que dizem nos representar, mas que lá estão para cumprir ordens do governador e do faraó. Gente sem personalidade, sem brilho, sem caráter, até.

Após a votação, saimos, todos nós, de cabeça erguida, com o sentimento misto de frustração, mas também de vitória. Nem tanto pelas questões salariais em si. Claro que elas são importantes. Mas, a vitória maior é a nossa vitória moral. Não nos deixamos enganar pelas mentiras e preservamos intacto o nosso espírito de luta, o nosso compromisso com a luta pela Edcuação de qualidade e por um cotidiano melhor. E um cotidiano melhor se constrói com gente melhor. Todo mundo que participou da nossa luta sabe o que estou dizendo. Acho que nessa altura, até quem se omitiu aprendeu alguma coisa.

Por isso, ali, das galerias onde talvez eu não pise mais este ano, celebrei cada momento de luta, de ternura, de medo e de coragem, de decepção e de esperança, que afinal prevaleceu. Num dado momento, alma generosa que tenho, tive até dó daquele punhado de gente que diz representar o povo - tirando aqueles da oposição que realmente cumprem este papel -, mas que não passam de um punhado de imbecis, ridículos e pau mandados. É a degeneração moral de um ser. E isso dá dó. Jamais gostaria de interpretar tal papel. Prefiro muito mais o meu minguado salário e minha labuta diária, onde posso encarar cada pessoa que passa por mim de cabeça erguida, olhar nos olhos e expressar o que sinto, sem rodeios, sem hipocrisia.

Todos estes momentos foram uma aula para todos nós. De coragem, de ousadia, de ternura, de ser... humano. Talvez ali se aplicasse aquela famosa passagem bíblica, quando Jesus, provocado, diz: "A César, o que é de César". Naquela casa estranha, que não é a nossa casa, e por não ser nossa, só poderíamos mesmo colher muito pouco, ou nada. Pelo menos por enquanto, aquela é a casa do governador e dos poderosos. Por isso é para eles que os ditos representantes do povo dão os seus votos. A nossa casa é aquela onde indivual ou coletivamente decidimos os rumos da nossa vida.

Ali, das galerias daquela casa estranha, eu vi tudo isso. E estando, meus colegas e eu, em casa alheia, nada mais podíamos fazer senão gritar, e gritar, e gritar: Minas, oh Minas, que vergonha!

Leiam também:

O artigo do colega Wladmir Coelho
" Tremei-vos deputados"

O Blog da Cris

O site oficial do Sind-UTE

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