segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Euller:" Sindicato e governo retomam hoje discussão sobre o piso dos educadores."

SEGUNDA-FEIRA, 24 DE OUTUBRO DE 2011

Sindicato e governo retomam hoje discussão sobre o piso dos educadores


Olha aí a turma de luta de PORTO FIRME. Quem comenta sobre os bravos colegas é a professora Maria Joselayde Ribeiro, após o texto de abertura do post.



Sindicato e governo retomam hoje discussão sobre o piso dos educadores

Hoje, às 15h, acontece a quarta reunião da comissão Tripartite, composta por representantes do sindicato, por parlamentares e pelo governo de Minas. Na pauta, o ponto central: o piso salarial nacional dos educadores, que é lei federal aprovada em 2008, e que até o momento não está sendo cumprida em Minas Gerais.

Após a nossa heroica greve de 112 dias pelo pagamento do piso, a comissão tripartite tem agora a incumbência de discutir e aprovar uma proposta de implantação do piso salarial nas carreiras dos profissionais da Educação de Minas Gerais.

Já havia sido acordado, de acordo com os informes do sindicato, que o governo pretende pagar o piso proporcional do MEC a partir de janeiro de 2012. E que levaria em conta o reajuste que será aplicado pelo MEC ao novo valor do piso para2012. Este reajuste será ainda definido, mas deve ser o de 16,6% - percentual que parece interessar mais ao governo federal -, ou o de 22%, que acompanha o custo aluno ano de acordo com a lei federal. Como o MEC em outros momentos não seguiu a lei, poderá agora repetir a dose, indicando o percentual mais baixo de reajuste (16,6%). Mas, ainda assim será bem melhor do que a política remuneratória do governo de Minas, que prevê no máximo 5% de reajuste para abril de 2012.

É bom que fique claro que a Lei do Piso é uma lei federal, com política de reajuste própria, não subordinada às políticas de choque dos estados e municípios, e que possui fonte própria de financiamento, compartilhada entre os entes federados. Daí porque eu tenha dito anteriormente, que considero o piso, aplicado na sua integralidade, uma forma de embrião para a federalização da folha de pagamento dos educadores.

No momento em que a Comissão Tripartite inicia ou retoma a discussão sobre o piso, alguns eixos precisam ficar claros neste debate:

a) o piso salarial nacional tem assegurado o seu financiamento comrecursos do FUNDEB, acrescidos de recursos da União, caso o governo comprove não poder pagar o montante dos investimentos que serão feitos para implantar o piso. É bom salientar que o governo de Minas, a partir de 2012, receberá aporte financeiro da União de cerca R$ 1,2 bilhão - e com isso se inscreve na condição de ente federado apto a pedir mais ao governo federal, de acordo com a Lei do Piso e a regulamentação adotada pelo MEC;

b) o piso salarial é para todas as carreiras dos profissionais da Educação de Minas, conforme pude detalhar em post específico sobre este tema. Ou seja, a Constituição Federal, combinada com a Lei do Piso e com o Plano de Carreira dos profissionais da Educação em Minasasseguram o pagamento do piso para todas as carreiras da Educação.

Em tese, até que a constitucionalidade do subsídio seja decidida pelo STF, o governo poderá se recusar a pagar o piso para quem ficou naquele sistema - pois os seus valores nominais atingem os valores proporcionais do MEC. Mas, aos 153 mil educadores das diversas carreiras da Educação que optaram pelo sistema de Vencimento Básico o governo não pode tergiversar: terá que pagar o piso, tal como manda a legislação federal, combinada com a legislação estadual (do Plano de Carreira);

c) o governo tem falado noescalonamento do piso, que é uma tentativa de parcelar o pagamento integral do piso até 2015. O sindicatonão deve aceitar esta proposta, pois, como dissemos no item A, o piso tem fonte própria de financiamento, não carecendo de propostas de modulação dos efeitos da lei para o seu pagamento. O piso deve ser implantado nas carreiras, obedecendo os diferentes níveis e graus existentes, com a diferença percentual de 22% entre cada nível e de 3% entre cada grau;

d) o sindicato deve deixar claro também que não aceita qualquer corte, redução ou adiamento no pagamento das promoções, progressões e gratificações a que os educadores fazem jus. Pelo contrário: é preciso que se paguem tais direitos inclusive de forma retroativa, pois o governo não tem publicado estes direitos no devido tempo em que o servidor os adquiriu;

e) o sindicato não pode embarcar nas tentativas do governo de desviar o foco das discussões com coisas que não fazem parte do cenário da legislação vigente. Por exemplo: existem projetos no Congresso propondo a alteração da data base para o reajuste do piso e até para o critério deste reajuste. Tais projetos não foram ainda nem aprovados pelo Congresso e muito menos sancionado pela presidência da República. Logo, não se deve perder tempo com essas discussões de possibilidades.

No que tange ao subsídio, o sindicato deve cobrar do governo a abertura da porta de saída deste sistema, já que até agora o governo só admitiu abrir a porta de entrada para o mesmo. O sindicato deve cobrar do governo o direito de opção de sistema remuneratório para os designados e também para os novos concursados;

f) no que tange ao valor retroativoem relação ao piso, seguramente a comissão tripartite não conseguirá arrancar nada do governo, já que este vai alegar que aguarda o julgamento final dos embargos de declaração à ADI 4167, em fase final de tramitação no STF - o sindicato deve lembrar ao governo o correto posicionamento da PGR. O mais provável é que tenhamos que ingressar na justiça para receber nossos direitos anteriores ao piso que será aplicado em janeiro de 2012.

Mas, o sindicato tem a obrigação de cobrar do governo a devolução da diferença entre o reajuste aplicado em janeiro de 2011 e a redução feita na remuneração de 153 mil educadores em julho de 2011, como castigo por terem optado pelo sistema de vencimento básico. O sindicato deve cobrar do governo uma resposta formal acerca deste ponto, já que, na prática, houve, além da redução ilegal, uma suspensão, no meio do ano, de um reajuste que já havia sido aplicado desde janeiro para todos os educadores - e que estava inclusive previsto no orçamento deste ano.

Em linhas gerais, estes são os eixos que considero mais importantes na discussão sobre a questão do piso salarial nacional. Claro que outras questões acerca da vida funcionaldos colegas que participaram da nossa greve continuam pendentes, e o sindicato precisa cobrar do governo, como:

a) os colegas que não quiserem repor, que não sejam punidos financeiramente e na vida funcional. Já receberam (recebemos) o corte de salário, não havendo motivo para nova punição, seja com novos cortes, ou com qualquer prejuízo para a vida funcional. Portanto, deve-se cobrar a total anistia dos colegas que participaram da greve;

b) o sindicato precisa cobrar do governo também a não demissão dos designados que participaram da greve, inclusive não aceitando a desculpa de redução de turmas e extensão de aulas. A justificativa para isso é simples: a redução de turmas foi provocada, em parte, pela intransigência do governo em nãopagar o piso; e em parte por conta de evasão que acontece com um percentual de alunos durante o segundo semestre. Mas, nenhuma destas ocorrências tem qualquer impacto na receita do estado, especialmente no FUNDEB, cujo valor mensal é assegurado segundo outros critérios. Tanto que, apesar dessas reduções ocasionais de turmas e evasões de alunos, não há correspondência em relação aos repasses mensais do FUNDEB (já conferi isso em outros anos e a tendência é que se aumente a arrecadação do estado no final do ano). Logo, que se aproveite o designado que participou da greve na mesma escola ou em outra, mas que este não seja demitido com a desculpa de redução de turma; outros pontos, como férias-prêmio, podem inclusive ser considerados como meio de aproveitamento dos designados que participaram da greve, assegurando aos efetivos o direito de usufruírem das férias-prêmio a que fazem jus.

c) por último, o sindicato deve cobrar do governo o pagamento imediato do prêmio de produtividade. Depreferência ainda em outubro, até como forma de reduzir, em parte, apenas, os enormes prejuízoscausados pelo governo aos educadores de Minas Gerais.

Vamos aguardar, então, as negociações de hoje, para sabermos quais os encaminhamentos serão adotados. E que o sindicato seja ágil na divulgação das negociações.

Um forte abraço a todos e força na luta!

- Todo apoio aos moradores daComunidade Dandara e demaiscomunidades de ocupação ameaçadas pela truculência dos governos de BH e do estado de Minas, com o respaldo da justiça, do MP e da força policial, todos em agressão à Carta Magna do país e aos Direitos Universais da humanidade, que colocam a vida humana como prioridade, e não os interesses de mercado e do estado. O direito à moradia digna, à alimentação, à Educação pública de qualidade, está acima dos lucros e da especulação financeira de construtoras e dos projetos neoliberais dos governos a serviço das elites dominantes.

***

"Joselayde Ribeiro:

Permita-me homenagear meus colegas da E.E. Imaculada Conceição (greve parcial) e Coronel Amantino de Porto Firme e também uma conterrânea da E.E. Padre Álvaro de Viçosa (somos todos de Porto Firme, zona da Mata) que comigo participaram dessa luta, sem enfraquecer um minuto.

Como todos os companheiros da grande Minas Gerais, tivemos verdadeiros momentos de tortura. A desunião entre colegas da mesma escola, cada um com sua DESCULPA para não aderir ao movimento... Algumas destas até compreensíveis, mas o mais difícil era quando voltávamos à escola para repassar as novidades sobre a greve e alguns nos tratavam com descaso: alguns de nós com mais de 25 anos de serviço naquela escola, outros com 16, 17... muitos anos que haviam nos tornado uma FAMÍLIA. E aquela nossa adesão à luta por todos que ali estavam, era pra ser motivo para nos unir ainda mais!

Mas não foi isso que aconteceu: Começaram a chegar notícias de que saíam comentários maldosos, irônicos, na sala dos professores tipo "Agora vou pra casa descansar porque os nossos HERÓIS estão lá em BH lutando por mim", entre outros.

Então paramos de ir à escola, para evitar confrontos. Quando ficávamos sabendo que algum colega estava meio "inclinado" a entrar em greve, então íamos até a casa dele e o trazíamos para o movimento. Isso fora da escola. Lá havia uma campanha "do contra", dos não politizados... É claro que alguns ficavam na sua, não se manifestavam, outros "amigos" nos respeitavam e até nos defendiam, realmente não podiam ficar sem pagamento (empréstimos a juros altos, etc). A gente sempre deixou clara nossa posição: ninguém é obrigado a entrar em greve, mas "pelo menos não atrapalha o nosso movimento", né?

Até que, com os editais de designação dos substitutos, tivemos que voltar a frequentar a escola para tentar impedir as designações. Foi então que a escola se dividiu mesmo: uma colega teve a coragem de "furar o olho da outra" com quem trabalhava na mesma secretaria, pegando seu 2º cargo na biblioteca... alguns colegas nossos começaram a "recrutar" candidatos de toda a região para pegar nossos cargos. Teve colega que nem trabalhava mais, o tempo todo pendurada no celular ligando pra todo mundo que conhecia... Soube que foi até nas turmas de Licenciatura da UFV.

Por falta de informação, as opiniões se dividiam dentro de nossa escola. Vários nos criticavam por irmos conversar com os candidatos. Diziam que era direito deles, que podiam estar precisando do dinheiro... poucos se colocavam nos nossos lugares. Não entendiam que aquelas pessoas estavam atrapalhando o movimento de greve, atrapalhando a nossa luta fazendo o jogo do patrão, desestabilizando os efeitos de nossa greve, nossa luta pela conquista que seria para todos. Eram nossos cargos, pô! Era nosso dinheiro que Anastasia estava tirando de nossos bolsos para pagar aqueles TAMPÕES. Tanto que hoje, nem que quiséssemos poderíamos repor tais aulas. É um dinheiro irrecuperável, gasto com traíras.

Resultado: hoje em nossa escola está um clima insuportável. Muita provocação. Tem gente que fica até "vigiando" nossa reposição pra ver se damos motivo para denunciarem.

A escola é minha vida, minha família. Tenho dois cargos efetivos em Língua Portuguesa. Entrei na luta por acreditar no movimento, nos profissionais, também para recuperar minha DIGNIDADE.

E fiquei muito feliz por ter tido mais 17 colegas que, junto comigo, tiveram garra de aguentar o movimento até o fim (apesar de que um deles, Paulinho Passos, suicidou-se ainda na segunda semana da greve - mas não se sabe o motivo do enforcamento).

Entre estes companheiros de luta, posso citar um casal (os dois são casados e têm dois filhos), pagamento cortado em dobro; uma colega que é arrimo de família (sua mãe e marido fazendo pressão o tempo todo - ela até adoeceu e teve que tirar licença), outra com ex-marido também em greve, e com dois filhos e prestação de apartamento para pagar foi FAZER FAXINA pra fora: um exemplo de vida, de luta, de dignidade. Uma lição até para aqueles que não entraram em greve por causa de dinheiro "eu não, vai cortar o meu pagamento".

Fizemos panfletagem, corpo a corpo com alunos, pais... fomos a todas as assembleias em BH (5 horas de viagem), participamos de várias situações envolvendo polícia, seguranças, uma das nossas chegou até a tomar o microfone da mão de um repórter (ao vivo) quando ele cobria o caso da "bomba" , dizendo para ele "mostrar o lado bom também".

Foi muita luta, muita tortura, muita pressão...

E teve colega de nossa escola que disse que "quem sabe fazer greve é professor do Ceará que enfrenta polícia, deu no Jornal Nacional" Pelo amor de Deus!!! Globo!!! ALIENAÇÃO ! Sabe notícia do Ceará e não sabe de Minas, onde está lotado, em exercício.

Agora faço o balanço e sinto orgulho por ter participado de cada ato, de cada minuto, e agradeço a Deus por ter-nos dado forças e a OPORTUNIDADE de ter participado deste movimento que para mim foi realmente de muito aprendizado: hoje acredito que somos EDUCADORES, que nossa luta não foi apenas pelo Piso e depois pela Carreira... mas muito para termos a consciência de nossa Força, nosso Poder de Luta, de União (só entre os que querem).

Após toda a pressão moral, financeira, psicológica... hoje o saldo é muito positivo.

Foi neste movimento que conheci meus colegas e pude através dele distinguir, com segurança, quais deles são AMIGOS, HERÓIS, LUTADORES, EDUCADORES ... e quais são covardes, pequenos, fracos, traidores.

E me sinto honrada por ter participado da luta... de ter sido uma gotinha d'água no meio desse oceano que alagou tantas vezes o pátio da Assembleia, que foi exemplo para nossos alunos, para os mineiros, que com certeza tirou o sono do governador e ainda tira até hoje.

Agradeço muito a toda a categoria de todo o estado: aqueles que persistiram até o fim, ou até enquanto aguentaram, aqueles que se acorrentaram , os que receberam gás de pimenta nos olhos, bomba de efeito moral, tiros de borracha, ar condicionado em temperatura insuportável e se embrulharam em jornais, os que fizeram greve de fome, a você Euler que como a Beatriz, liderou todo nosso movimento, e continua liderando até hoje.

Obrigada aos meus colegas (em ordem alfabética): Bili, Eva, Clarete, Claudinho, Dalton, Danielle, Diego, Glória, João José, Kátia, Léscia, Malu, Marlene,Neide, Paulinho (in Memorian), Ronaldo, Roseli, Toninha e Zélia. (Gina, Ritinha e Antônia, apesar não estarem em exercício também lutaram conosco).

Hoje tenho orgulho de dizer e posso dizer: Sou PROFESSORA da rede estadual de Minas Gerais!
Para mim só estas conquistas já me realizam. O que vier agora é lucro.

MARIA JOSELAYDE RIBEIRO (professora da E.E.Imaculada Conceição - Porto Firme)".


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