terça-feira, 29 de novembro de 2011
Minas Gerais vive a janela para o inferno. Mas o padrinho-do-afilhado diz que a janela para o sonho é a Educação. Será isso um pesadelo?
"A janela para o sonho, a gente sabe, é a educação. Mas, para muitos de nossos jovens, a janela permanece fechada. Vejam o baixo nível de aprendizado, o alto grau de repetência e o abandono precoce dos estudos, os currículos esclerosados e as escolas pouco atraentes à verdadeira aventura que é o conhecimento." Aécio Neves - jornal Folha de São Paulo, 28/11/2011
Seguramente o senador pelo estado que ele diz representar não vem a Minas há um bom tempo. E certamente não deve estar a par do que acontece no estado. Talvez esteja lendo apenas os jornais de Minas Gerais, ou assistindo demais à TV Globo e outros canais de TVs, que vivem pendurados nas verbas fartas dos cofres públicos. Fato é que o senador, ao escrever a passagem acima, tomou realmente um porre de imaginação, para além da realidade mineira.
Por aqui, o que se assiste, não nas ricas propagandas pagas nos jornais, rádios e TVs, mas no chão das escolas, é o descontentamento dos educadores com a política de confisco levada a cabo pelo afilhado do senador. Se a janela para o sonho é de fato a educação, Minas Gerais vive hoje o seu maior pesadelo. E graças à política iniciada pelo autor destas frases, que se tornam ocas, quando ditas por aqueles que, uma vez no poder, pouco ou nada fizeram para torná-las reais. Verdade se diga, o senador não está sozinho nesta conduta de dizer uma coisa e fazer outra. E o pior exemplo vem da própria presidenta da República, que prometeu investir na valorização dos educadores, mas até agora nada fez, além de se omitir, enquanto os governantes de todos os estados sabotam a aplicação do piso salarial nacional.
Minas Gerais tem hoje uma categoria de educadores, próxima de 400 mil pessoas, profundamente desmotivada e desiludida com o presente e o futuro da Educação. No governo do senador da citação que abre este post, foi criado o Plano de Carreira das categorias dos servidores públicos, entre as quais as dos profissionais da Educação. Entre 2004 e 2005, o governo de Minas gastou muito dinheiro público para divulgar a criação destes planos, especialmente o dos educadores, quando o então governador e agora senador fez questão de mencionar as qualidades deste plano de carreira que acabara de ser criado.
Juntamente com a carreira, foram criadas as tabelas salariais, parte integrante deste plano, talvez até a parte mais importante, sem a qual não existiria um plano de carreira, mas uma mera carta de intenções. Lembro-me perfeitamente, lá pelos idos de 2006, quando um servidor da SEE-MG, visitando as escolas-polo da região para explicar o conteúdo do plano, dissera bem claro: olha, vou lhe confessar uma coisa. O plano de carreira de vocês é até razoavelmente bom, mas a tabela de salário...
Naquele instante, sabíamos que os educadores foram de fato premiados com o pior vencimento básico do país - o que permanece até a presente data, já que as alterações feitas à revelia da categoria entrarão em vigor somente em 2012. Mas, as tabelas de salário, por piores que fossem, tinham a vantagem de apresentar uma valorização do título acadêmico, através de diferentes níveis, na chamada evolução vertical na carreira. Entre um nível e outro da carreira haveria um reajuste de 22% no vencimento básico. Agora, com a aprovação do subsídio, cuja nomenclatura mudou para "modelo unificado de remuneração", este percentual caiu para 10% - ou seja, para menos da metade. E na progressão horizontal, com a mudança de letra (grau) a cada dois anos, o governo reduziu o percentual de 3% para 2,5%. Duas alterações que descaracterizam o plano de carreira e as tabelas que estão vinculadas ao mesmo.
E para completar a destruição criada na gestão do atual senador, que fala em sonho através da educação - enquanto se omite do inferno astral que acontece em Minas com a Educação e com os educadores -, o governo aboliu o vencimento básico e as gratificações conquistadas pelos profissionais da Educação. Agora, prevalece uma parcela única, sem vencimento básico. Justamente quando os educadores estavam próximos de alcançar o merecido sonho de uma política de valorização salarial, através do piso salarial nacional, o governo do afilhado do senador, com a clara aquiescência deste, destrói o sonho e o transforma em pesadelo.
Sem educador motivado, bem remunerado, não haverá educação de qualidade. Sem educação de qualidade, não haverá janela aberta para os sonhos de milhões de crianças, jovens e adultos, especialmente das famílias dos trabalhadores de baixa renda, que dependem da escola pública, inclusive para construírem os seus sonhos de um mundo melhor para todos. O sonho do senador continuará uma realidade para uma minoria rica da população, que não depende de escola pública, e que talvez nem dependam de escola, já que, bem nascidos em berços de ouro, podem se dar ao luxo de ascenderem a quaisquer cargos ou títulos, com a generosa ajuda da bolsa do clã a que estão ligados.
Mas as famílias de trabalhadores dependem, de fato, de uma escola pública de qualidade, para escaparem do crime organizado ou da exclusão social a que são frequentemente atirados pelos "moinhos satânicos" que movem a engrenagem torpe do sistema, que nos engole e nos tritura a cada instante. E esta escola, em Minas, está cada vez mais distante da realidade, graças especialmente à política de choque de confisco desenvolvida pelo atual governador, dando continuidade à gestão do seu padrinho e atual senador.
Portanto, as frases soltas sobre "janela para o sonho" através da educação, e "aventura para o conhecimento", não combinam com a realidade que tanto o governo de Minas, sob a inspiração destes dois personagens - padrinho e afilhado -, quanto o governo federal e os demais governos estaduais vêm impondo aos educadores. Uma realidade de choque de confisco; de sonegação do direito ao piso aprovado desde de 2008, e do direito ao plano de carreira sem alteração nas regras quando estas não favorecem aos governantes.
A escola pouco atraente a que o senador-padrinho-do-afilhado faz referência não nasceu do nada. Ela foi construída, ou melhor, foi destruída por governantes que não investem adequadamente na Educação pública e na valorização dos educadores. Que não tratam com o devido respeito aos educadores, assegurando o direito à autonomia e à democracia nas escolas; que não investem na formação continuada dos educadores; que não investem na estrutura técnica e de equipamentos das escolas, além da falta de segurança. Esta escola é resultado de desgovernos que se preocupam não com o ser humano, mas com obras faraônicas, com espetáculos midiáticos, tipo Copa do Mundo, e outros.
Por isso, mais do que falar em poucas linhas sobre uma janela para o sonho através da educação, seria um tanto quanto mais coerente que o senador visitasse o estado ao qual diz representar para conhecer de perto a realidade dos educadores, nos ombros dos quais está colocada a responsabilidade pela formação de milhões de mineiros e mineiras, brasileiros e brasileiras de muitas gerações.
Bem distante dos discursos encontra-se a realidade do chão da escola, marcada pela ausência de sonhos numa carreira decente, cada vez mais agredida pelas políticas de choque de confisco que os diversos governos realizam contra os educadores.
Se a Educação for de fato a janela para o sonho da juventude, podemos dizer que em Minas e no Brasil esta janela está fechada. Graças aos autores de frases ocas, que quando no governo, no lugar de sonhos, plantam pesadelos. Podendo, obviamente, com isso, colher tempestades...
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