sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Kléber Cecílio:" QUE SAUDADES DO MARMELO DA MAMÃE!"

Este texto é de Kléber Cecílio, do blog: gritossemecos.blogspot.com


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

QUE SAUDADES DO MARMELO DA MAMÃE!
Para os mais jovens que certamente não tenham ouvido falar no marmelo, resolvi satisfazer a curiosidade ou, talvez, facilitar a pesquisa e anexei a seguinte definição: O marmeleiro (Cydonia oblonga), é uma pequena árvore, único membro do gênero Cydonia, da família Rosaceae, cujos frutos são chamados marmelos. É originário das regiões mais amenas da Ásia Menor e Sudeste da Europa. Também é conhecido pelos nomes de marmeleiro-da-europa, marmelo e pereira-do-japão; segundo Caldas Aulete.
Para os mais vividos, entre os quais me incluo, a definição vai muito além da científica entrando pelo campo da convivência familiar e indo parar nas canelas e coxas dos garotos travessos que fugiam para soltar pipa e largavam os cadernos sobre a escrivaninha esperando pela feitura do dever de casa. Podia ser também que viajasse pelas costas de algum adolescente mais afoito que atrevidamente roubasse um furtivo beijo da filha do vizinho. Essa coisa terrível, comprida, preta como cobra surucucu de lacinho na cabeça, ficava dependurada atrás da porta e atendia pelo assustador nome de: “vara de marmelo“.
Toda horta que se prezasse ostentava um marmeleiro bem viçoso para fornecer às mamães aquela ferramenta fundamental capaz de arrefecer a coragem de meninos traquinas que ousassem contradizer uma ordem ou até mesmo um olhar fumegante, ardente como fogo, embalado por um limpar de garganta que mais parecia um trovão, para refrescar a lembrança da varinha de marmelo pendurada atrás da porta.
Falta leve podia valer uma simples conversa amigável com explicação da importância de se respeitar os mais velhos, do valor dos estudos ou até mesmo da necessidade de ir dormir mais cedo como maneira de preservar a saúde e o rendimento escolar. Segundo erro era falta muito grave e, conforme as circunstâncias podia custar umas duas varadinhas sem muita dor, mas que nós gritávamos para fazer chantagem emocional com a mamãe e ela dar por encerrada a reprimenda o mais rápido possível. Mas, se nem assim nos emendássemos e fosse necessária a terceira correção, aí; ah meu Deus! Entrava em ação a cobra surucucu zoando no ar que nem a esquadrilha da fumaça deixando riscos vermelhos nas pernas, tão doloridos quanto um abraço do Godzila, capaz de não deixar o infrator se esquecer da imediata necessidade de não mais fazer jus a um novo encontro com o dragão de trás da porta. Por vezes, fortuitos pensamentos nos invadiam a imaginação e vingativos impulsos floresciam borbulhantes, a fim de dar um sumiço na varinha de estimação. Mas não adiantava nada tirá-la do trono de trás da porta, pois lá estava, no fundo da horta, o marmeleiro frondoso como ele só, cheinho de novas surucucus tão ou mais venenosas quanto a primeira. E pior; era impossível atentar contra aquele Gigante Adamastor reinando dentre o arvoredo, pois mamãe lá estava a lhe aguar e chegar terra adubada ao pé todos os dias. Vez por outra, orgulhosa, dizia: - esse ano vai dar muito marmelo! Mas nossa sede em destruí-lo era grande e certa vez, um grande formigueiro surgiu nas proximidades. Aquilo foi um achado dos céus: logo nos veio à cabeça a brilhante idéia de fazermos um caminho de açúcar até o tronco do monstro para ver se as cortadeiras davam um jeito no desaforado. Mas logo mamãe o acudiu com uma dose de “Formicida Shell” que foi tiro e queda... Adeus saúvas!
O tempo passou, foram-se as saudosas mamães a se encontrar com Deus para serem abençoadas pelas boas varadas que nos aplicaram. Juntamente com elas extinguiu-se a psicologia da surucucu de trás da porta, a única que funcionou por séculos com indiscutível eficiência. Naquela época a lembrança dos vergalhões vermelhos nas pernas impedia que garotos imberbes batessem em professores dentro da escola, que pressionassem os pais pelo carro que não sabiam quanto trabalho custou ou que se calassem ao presenciar filhos viciados lhes roubando utensílios domésticos a fim de pagar a indispensável dose diária de crack. A força do canto da cobra surucucu parecia mágica e fazia a vida pacata e tranqüila bastante poética. Os filhos passeavam calmamente com os pais e no frescor aconchegante da noite iam à sorveteria, ao cinema, ao teatro e logo voltavam à casa a tempo de dormir deixando a atividade noturna para os adultos aproveitarem sem se preocupar com essas hordas modernas de bandidos de toda classe e idade a atazanar a vida e a ordem pública.
Que incrível paradoxo é esse que nos faz lembrar com saudades de velhos tempos considerados bizarros pela incipiência tecnológica, quando psicólogos não palpitavam na educação dos filhos, conselhos tutelares canhestros, se existissem, era para tutelar, se necessário, cachorros e gatos vadios e políticos tinham outras coisas mais importantes a fazer que ficar legislando sobre as tantas e quantas palmadas podem ou não ser aplicadas em crianças travessas!?
Saudosos tempos passados conhecidos como “tempos do amarrar cachorro com lingüiça”, quando pais eram donos das suas palmadas, chineladas, beliscões, varas de marmelo e senhores absolutos da conduta educacional da família, muito competentes em produzir futuros cidadãos contidos nos padrões da melhor conduta e convivência social. Mau sinal esse em que o tal Estado Democrático precisa se meter na conduta intima das famílias! Que democracia é essa a ser sustentada por um Estado policialesco procurando se intrometer em tudo que não é da sua conta? Obviamente que não estamos aqui a defender pais truculentos, espancadores ou torturadores. A esses que se aplique as tantas leis já disponíveis.
Não é possível imaginar uma criança entrando numa delegacia para denunciar o pai que lhe deu boas e merecidas palmadas, porque cuspiu na cara da tia. Certamente o delegado vai dizer à tia caruda que tirasse o carão da frente, porque o pimpolho precisa ter o direito de cuspir quando bem entender e na cara de quem merecer. Afora isso estar-se-ão estimulando o denuncismo entre vizinhos xeretas, cujos ouvidos ouvirão a mais do que é da sua conta para depois fazer uma denúncia vazia, sem provas cabais dos motivos justos ou injustos das palmadas que ouviram na noite anterior através das paredes. E como agirá a autoridade diante de fatos obscuros sucedidos na intimidade do lar, se o ônus da prova cabe a quem acusa? Certamente pesará mais a palavra do pimpolho que a dos pais!...
Psicólogos dirão: - não precisam bater, basta dialogar e o rebento entenderá tudo, letra pos letra, assim como temos visto nossos jovens cibernéticos ultra-modernos entendendo de tudo, menos da lei da boa convivência e do respeito. A esses dignos senhores técnicos dos sentimentos humanos declaro, com certeza, apoiado por todos os contemporâneos dos cachorros que não comiam a lingüiça do laço, que morremos de saudades das benditas chineladas que nos aplicaram as mãos santas dos nossos saudosos pais e que a única revolta que nos permeia é a de não tê-los mais ao nosso lado para nos ajudar a compreender melhor a vida, a maneira moderna de educar e seus pífios resultados. Certamente nossos saudosos e sábios velhos ainda os aconselhariam a dar uma lida lá no Livro dos Provérbios 13:24 onde esta escrito que: “Aquele que poupa a vara aborrece a seu filho, mas quem o ama a seu tempo o castiga”.
E finalmente eles ensinariam que o problema fundamental do insucesso na criação moderna de filhos é que os pais devem sim dialogar e que carinho é fundamental, mas nunca podem prescindir de autoridade. Não se pode esquecer da nossa condição básica de animal e como animal homem as relações, inclusive entre pais e filhos, devem basear-se no mesmo respeito hierárquico existente até entre os irracionais. Há pais que ao dialogar ou mesmo na convivência diária descem do seu lugar superior e se transformam em adultos crianças ou adultos retardados, prejudicando a hierarquia. Assim, sem autoridade, não conseguem se impor na ordenança da orientação das crianças e se transformam em reféns de filhos tiranos. Afinal obedecer é difícil, quando se enxerga no outro um igual, mas muito fácil, quando se considera o outro um líder, pois liderar filhos implica em muito amor, maior conhecimento, inspira segurança, implica confiança e requer respeito, ainda que pelo medo da surucucu de trás da porta.

Postado por Gritos sem Ecos às 04:41
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1 comentários:
polivanda@gmail.com disse...
Adorei o texto Kléber, pois você foi da sua ( nossa) infãncia até os dias de hoje para provocar a reflexão sobre os filhos tiranos que estão sendo jogados na sociedade, sem nenhum preparo para conviver com o mundo. E ainda me lembrei das varas de marmelo...E das vezes que minha mãe foi à sua casa buscar varas com sua mãe...
Abração!
( Vou postar seu texto no meu blog ok?)
Vanda Sandim
16 de dezembro de 2011 07:25
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