sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Santeiros de São João del rei no jornal "O Tempo"

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Santeiros de São João del Rei, uma resistência silenciosa
Evento na cidade histórica resgata um ofício que resiste ao tempo
Publicado no Jornal OTEMPO em 23/11/2010Avalie esta notícia » 246810ANA ELIZABETH DINIZ
Especial para O TEMPO
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Precisão. As mãos habilidosas de Miguel Santeiro esculpem no cedro um anjo barroco
FOTOS ANA ELIZABETH DINIZ
Precisão. As mãos habilidosas de Miguel Santeiro esculpem no cedro um anjo barroco
Eles têm uma trajetória de vida muito parecida, são autodidatas e, sem dúvida alguma, nasceram com dons e talentos para reproduzir com delicadeza e fidelidade os santos barrocos.

Os santeiros resistem ao tempo e sua história tem sido resgatada através do projeto Religiosidade e Santeiros, idealizado pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de São João del Rei e que contou com recursos do Ministério do Turismo.

A ideia é dar visibilidade aos santeiros e, ao mesmo tempo, promover a qualificação. Tudo começou em junho passado, com um seminário que envolveu artesãos, santeiros e especialistas em oficinas de capacitação em madeira, cerâmica, marchetaria, ferro, reciclagem e bordado.
Foram mais de 200 artesãos inscritos, e o resultado foi mostrado durante o "Arte ao Vivo", evento marcado para acontecer entre os dias 13 e 15 deste mês em exposições ao ar livre, mas que foi prejudicado pela chuva que persistiu durante dois dias.

Mesmo assim, alguns deles saíram de suas casas escoltados pelos seus santos de devoção, ou não, e tentaram mostrar sua arte e ofício em quatro pontos turísticos e de importância religiosa que abrigaram o evento: Largo de São Francisco, Rosário, Mercês e Carmo.

Ralph Justino, secretário municipal de Cultura e Turismo da cidade, idealizador do evento, quer transformar a arte dos santeiros em um atrativo turístico. Uma forma de valorizar esse fazer. "Queremos que São João del Rei volte a ter uma posição de liderança no artesanato de Minas Gerais. Os trabalhos produzidos pelos santeiros são de qualidade e sofisticação diferenciada.

Temos artistas maravilhosos e cheios de talentos, que, no momento, estão esquecidos. Queremos mostrar para todo o Brasil não somente a parte material, através dos produtos, mas também a parte imaterial, que é única e se mostra através do talento, que não pode ser desperdiçado".
A ideia é garantir mais visibilidade para a produção de imagens sacras e outras peças. "Essas atividades mostram a cara do artesanato do sãojoanense, que tem vocação para a produção dos santeiros. Queremos fortalecer e intensificar o turismo religioso, com o resgate da tradição dos mestres e qualificação do artesanato", pontua Ralph.


Versatilidade
Carlos Calsavara é um dos mais novos escultores da cidade
O dom se manifestou na infância, primeiro através do desenho, e, depois, das modelagens. Carlos Calsavara, 31, é um dos mais novos santeiros de São João del Rei. Versátil, trabalha com madeira e pedra-sabão. O ofício veio por acaso quando, brincando, talhou Nossa Senhora da Conceição em 30 cm de pedra-sabão. A tia gostou e fez a primeira encomenda, um são Judas.
Profissionalmente, trabalha há 12 anos, e seus clientes são particulares, colecionadores e igrejas do Brasil e do exterior.

"Trabalho com uma linha mais contemporânea. Tenho um design próprio", diz o artista que já recebeu encomendas de santos não tão comuns, como Zegri, padre fundador da Ordem das Mercês, um busto de Napoleão e um belíssimo santo Antônio de Catijeró, um africano. Tem admiração pelos santos mais peregrinos como são Jerônimo e Madalena.

Sua peça mais famosa é Nossa Senhora das Mercês, com 1,86 m e que pode ser vista dentro da igreja homônima. O artista, que está no segundo ano do curso de artes aplicadas da Universidade de São João del Rei, é um universalista, respeita e dialoga com todas as religiões. (AED)

Delicadeza
Miguel Randolfo incorporou o ofício ao seu sobrenome
Tudo começou quando era coroinha e brincava de modelar peças do presépio em argila. Aos 12 anos, já esculpia a madeira e sua primeira peça foi um anjo, talhado no cedro. Hoje, aos 52 anos, Miguel Randolfo Ávila, mais conhecido como Miguel Santeiro, tem peças espalhadas em casas e altares de todo o Brasil e no exterior.

O crucifixo da Catedral de Brasília, com 5,40m de altura, Nossa Senhora dos Remédios toda em policromia, são Miguel Arcanjo, em Nova York, um incontável número de santos e oratórios de madeira encerrada, policromada, pedra-sabão e até cimentos, fazem parte da obra do santeiro Miguel.

Diversidade de formas, texturas, materiais e coloridos delicados. Os santos de Miguel têm uma expressão inconfundível, formas delicadas.

Para ser santeiro, "tem que ser católico. Todos os santos deixaram um legado inspirador de vida. Mostram o que a pessoa tem de melhor", finaliza. (AED)

Sensibilidade
Ronaldo Nascimento não sabia que era um escultor nato
Ronaldo Nascimento tem 42 anos e só descobriu que era um escultor nato, aos 31 anos, quando cortava um pedaço de madeira com um canivete e viu surgir os primeiros traços de um anjo. Não parou mais.

Nascido em São João del Rei, "cidade que cheira a mofo e incenso por causa dos casarões antigos e das celebrações religiosas, fui contaminado com a arte e religiosidade locais", confessa.

O escultor é autodidata, desenvolveu um estilo próprio impregnado da influência barroca e rococó encontrada, principalmente, no interior das majestosas e seculares igrejas da região.
Logo, Ronaldo ganhou o país e o mundo. Suas peças estão nas igrejas da cidade, do Brasil e da Europa e com colecionadores.

O artista preserva e utiliza as mesmas técnicas dos artistas setecentistas, é cuidadoso e, quando desconhece a vida de um santo encomendado, trata de estudá-la.

Tanto apuro e esmero despertaram nele a intenção de um dia montar uma escola de arte para crianças e jovens, a fim de que a arte e o fazer dos santeiros não se perca, jamais. (AED)
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