segunda-feira, 4 de julho de 2011

Euller:"Em Rio Espera, governo inaugura escola, mas educadores são barrados na porta. Que Educação é essa?"

segunda-feira, 4 de julho de 2011






Em Rio Espera, governo inaugura escola, mas educadores são barrados na porta. Que Educação é essa?

Claro que o site eletrônico da SEE-MG vai mostrar apenas o que interessa: que houve inauguração e reforma de mais uma escola, na cidade de Rio Espera, com investimentos de R$ 1,2 milhão. O governador teria participado do ato, com a presença de membros da comunidade, e tudo parece um mar de rosas. Ou, no mínimo, um rio...

Mas, o que a Secretaria da Educação não quer mostrar é que dezenas de educadores ficaram do lado de fora da escola. Foram barrados na estrada, num ato típico da ditadura. Foram excluídos do baile.

Na democracia que se vive no Brasil e em Minas, os de baixo são jogados para debaixo do tapete. Escolas são inauguradas e reformas são feitas, mas as pessoas que trabalham nessas escolas são tratadas como seres de quinta categoria. Apenas um detalhe a mais, que de preferência não deve aparecer no dia da festa de inauguração, a não ser que seja para aplaudir, como acontece com aqueles que já perderam a capacidade de resistir. E de pensar de forma independente.

Rio Espera, o nome da cidade. Um nome que carrega uma contradição em si. O Rio nunca espera por nada, nem por ninguém. Mas, nós, educadores, lá estávamos, para esperar pelo governador. Ele, que se recusa ao encontro com educadores e demais servidores, teria que passar por esta comitiva.

Infelizmente, este encontro foi impedido, foi adiado, já que o governo está blindado. A força de repressão do governo primeiro parou os ônibus na estrada, num gesto que lembra a ditadura militar. Mas, os nossos valentes colegas educadores continuaram a travessia a pé. O Rio não espera. Nossos colegas também não.

Qual Moisés que abriu o Mar Vermelho com o cajado, nossos educadores abriram caminho estrada afora, em busca do Rio que esperava. Nós também estamos esperando, há décadas, que a situação melhore. Promessas presidenciais que nunca são cumpridas; confiscos e choques nos bolsos dos educadores que acontecem a cada novo desgoverno, e com maior força na gestão do faraó e do seu afilhado.

Mas, os educadores continuam andando, até chegarem na porta da escola, onde o governador e sua falante secretaria fariam a inauguração ou reforma daquela instituição. A polícia lá estava, bloqueando a entrada daqueles que trabalham nas escolas. Ironia da história: na escola inaugurada, educadores estavam impedidos de entrar. Que pena que o governador e sua comitiva não ficariam lá para lecionar nos 200 dias letivos, e não apenas para aparecer nos minutos festivos de inauguração.

Houve truculência da polícia, tanto que um colega nosso, o combativo Fred, foi preso e levado para a cidade de Conselheiro Lafaiete. Uma região dominada pelo coronelismo dos andradas, que há séculos mamam nas tetas dos diversos governos imperiais e ditos republicanos.

Neste tempo, o governador já saía em disparada da cidade que, qual educadores, também espera. Sequer teve coragem de completar a agenda de visitas na região. Eles podem ser os donos de tudo; mas andam assustados, correndo, fugindo, temendo um encontro com os temíveis educadores.

Só que agora, já decidimos: vamos esperar sim, mas de braços cruzados, até que nos paguem o piso. Senão, nossa espera pode acabar, e o chão de Minas vai tremer!

Não adianta intimidar, cortar ponto, ameaçar de demitir, decretar ilegalidade, enfim, podem fazer a cara feia que quiserem. Uma parte muito grande de educadores é feita de um barro diferente. De gente que tem coragem, que não se intimida, que não se assusta ante ao primeiro bater com os pés no chão. Nem ao segundo, nem ao terceiro. Podem dançar se quiserem, mas não abrimos mão do nosso piso.

Na porta da delegacia de Conselheiro Lafaiete, nossa turma de luta lá estava para cobrar a soltura imediata do colega educador que fora preso injustamente.

A imprensa mineira, que acompanha o governador para todo canto, para prestar serviço pelas generosas verbas publicitárias, nada viu neste dia. Um jornal eletrônico local, contudo, noticiou o fato, publicando inclusive fotos que mostram a presença de muita polícia para a inauguração, numa cidade do interior de Minas, com toda característica de uma cidade pacata, que consegue até parar as águas do Rio, e que dispensava, até, a presença de polícia num ato que inaugurava uma escola.

Mas, cuidado! Os temíveis educadores podem estar por perto! Por isso, é bom manter as ruas e estradas e a porta das escolas cheias de polícia. Para quê? Para prender bandidos? Para prender políticos corruptos? Claro que não! Era para impedir a chegada de educadores.

Não fomos convidados para a inauguração da escola, de nenhuma escola. Aliás, em tempo de greve de educadores, é até estranho que um governo queira inaugurar escolas. Houvesse uma imprensa com um mínimo de independência neste estado - e também no Brasil, diga-se -, e a primeira pergunta que teriam que fazer ao governador e sua falante secretária seria esta:

- Governador (ou secretária tal), não é um pouco estranho inaugurar escolas, quando os educadores que nelas trabalham estão em greve por conta de um piso, que é lei federal, e que o senhor não quer pagar?

A segunda pergunta:

- Não é também um paradoxo vocês inaugurarem uma escola e ao mesmo tempo impedirem, com força policial, a presença de educadores no recinto?

Pois é. No projeto de governo do faraó e do afilhado, as obras, o concreto e o tijolo, são mais importantes que as pessoas. Cidades administrativas, estádios de futebol, viadutos, linhas verdes, grandes obras, enfim, que geram visibilidade e muito$ dinheiro$ no bolso de empreiteiras, inclusive, que depois financiam as candidaturas dos coronéis da região. Em Minas e no Brasil essas coisas são assim.

Enquanto isso, o Rio não espera. Mas, nós educadores, continuamos esperando, qual Pedro da música do Chico. Até quando?

Só que dessa vez, vamos esperar sim, mas de braços cruzados, até que nos paguem o piso. Senão, o chão de Minas vai tremer!
***


"Anônimo:

Esse governador me faz lembrar um antigo personagem do Jô Soares, que dizia o que sois o que sois,sou rei. Agora quer restringir até o direito de ir e vir. Proibiu professor de entrar em uma cidade de entrar em uma escola pública, proibiu a imprensa de divulgar qualquer notícia sobre a greve. E agora vai falar pros PM prende e arrebenta esse professor que cismou com esse tal de piso."


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