Por que o governo não divulgou uma tabela salarial? E o silêncio do sindicato?
Há razões óbvias que explicam o gesto de omissão do governo ao não querer apresentar a tabela salarial aos educadores de Minas. E infelizmente o sindicato está caindo neste jogo ao não denunciar a jogada e lançar tudo para uma assembléia que corre o risco de ser esvaziada ou ficar lotada com uma ajudazinha do governo.
A primeira razão é o fato de que o governo não tem a intenção de oferecer aquilo que reivindicamos: o piso de R$1.312,00 para a jornada de 24 horas. Por isso tergiversa. Fala que pagará o piso de acordo com a lei, mas durante a greve nós vimos qual foi a interpretação legal que o governo deu ao piso. De acordo com o governo, ele já paga até mais do que o piso.
Portanto, incluir a frase solta de que pagará o piso do magistério sem definir o valor, a jornada de trabalho e o conceito de piso (aquela história de piso-teto), o que temos é um jogo de palavras, uma carta de intenções oca.
A simples mudança de nomenclatura, de níveis, com o anúncio fanfarrão de que acarbar-se-á em Minas o professor com curso médio - o que aliás é ilegal, do ponto de vista da legislação federal vigente, enquanto Minas mantiver escolas com os cinco primeiros anos do ensino fundamental - não muda a essência da miserabilidade dos salários pagos.
Por aqui, os profissionais com curso superior recebem salários vergonhosos, piso de um salário mínimo e teto salarial menor que dois salários. Na Minas onde se constroem castelos, viadutos, rodovias e que ostenta crescimentos do PIB maiores do que em outros estados, não há recursos para pagar um salário decente aos educadores.
Por isso o governo mostra gráficos que só comprovam o quanto ganhamos mal. E mostra mais um dado importante: no governo Aécio-Anastasia procurou-se reduzir as diferenças salariais existentes na Educação através do empobrecimento generalizado. Não houve um esforço para elevar os de baixo até as faixas salariais um pouco mais altas, mas de estabelecer um teto único, abaixo de dois salários mínimos para toda a categoria. Mais uma gestão e o governo Aécio-Anastasia teria conseguido criar um salário único para todos: o salário mínimo!
Agora, passados 18 dias desde a suspensão da greve, que ocorreu no dia 25, com o compromisso de que em 20 dias uma comissão paritária governo e sindicato apresentaria uma proposta de alteração salarial para todos os educadores, o que temos em mãos? Um conjunto de gráficos denominados "perfil remuneratório dos educadores de Minas" e uma proposta de mudança de carreira que prevê aumento da jornada de trabalho e a extinção dos níveis um e dois do plano de carreira dos professores. Só. Nada mais. E a tabela de salários? Nada.
Como disse uma colega de trabalho e de luta que visita o nosso blog: não estamos preocupados com a nomenclatura de carreiras, mas com SALÁRIO!
Se o governo apresentar um salário base de R$ 1.020,00, por exemplo, dizendo que dobrou o piso básico dos professores com ensino superior e cumpriu a lei do piso, mas excluir todas as gratificações, incluindo o pó-de-giz, na prática vai trocar seis por meia dúzia. Continuaremos ganhando salário de fome. E o pior será se, além deste presente de grego, nós tivermos que cumprir 30 horas de jornada semanal para recebê-lo.
Por isso o governo enrola, tenta mostrar que a folha salarial dos educadores é muita alta, tenta impressionar com tabelas, sem apresentar o quadro completo comparativo entre a educação e as demais carreiras do estado, incluindo as do judiciário, do TCE, do Ministério Público, da PM e do Legislativo.
E o sindicato parece estar embarcando nesta jogada, pois até agora não convocou a categoria para a luta. Não deu nenhum sinal de alerta, apenas chamou para uma assembléia homologatória daquilo que for decidido entre os representantes do governo e do sindicato.
Nós, da base, assistimos a tudo nos sentindo marionetes deste jogo de cartas marcadas. O governo possui os meios de comunicação para iludir e manipular à vontade. O sindicato sequer consegue atualizar o seu site. De certa forma todos nós somos culpados, quando aprovamos, numa assembléia com 20 mil trabalhadores em greve, a transferência das negociações do palco dos embates de rua com a participação de todos, para o palco de uma comissão paritária, guardando as nossas bandeiras e transferindo nosso poder de decisão para um pequeno grupo distante do calor e da pressão dos de baixo. É preciso que se diga: quase a metade dos presentes foi contra o fim da greve. E uma boa parte se arrependeu um dia depois, quando a secretária do Seplag declarou que para este ano não haveria qualquer reajuste salarial.
Mas, enfim, talvez isso sirva de aprendizado para todos nós. E apesar de termos votado na assembléia contra o fim da greve, passamos a trabalhar a mesma expectativa da maioria de que a comissão do sindicato negociaria melhorias salariais para toda a categoria, e a manteria informada e mobilizada de cada passo dado. A três dias do final dos trabalhos com o governo, a comissão de negociação do sindicato não soltou uma única nota avaliando o processo de discussão com o governo. Por que será?
E quanto ao governo... bom, não é preciso dizer nada, né gente? Até agora apresentou gráficos e tratado de intenções sem mostrar uma única proposta de tabela salarial. Se o fizer, por exemplo, na segunda-feira, dia 14, para votar o relatório no dia 15 demonstra falta de respeito, que aliás ele nunca teve com a categoria. E por que o sindicato não denunciou este fato?
Agora, se o governo já apresentou a tabela salarial e a direção do sindute mantém silêncio sobre os dados da mesma, ao invés de divulgá-la amplamente para a categoria, de duas uma: ou a proposta é muito boa - o que eu duvido - e a direção quer fazer um showzinho no dia da assembléia; ou a proposta é muito fraca, e a direção sindical quer empurrá-la ou rejeitá-la sem grande estardalhaço, apenas tirando proveito político da situação. Qualquer destas possibilidades enfraquece esta direção junto à categoria, que lutou bravamente durante 47 dias, colocou o pescoço na forca, arriscou-se a tudo, para não ser tratada com o devido respeito, nem pelo governo (o que não é novidade) e nem pela direção sindical.
Que toda a categoria reflita sobre isso, não com o intuito de abandonar a luta, desanimar-se ou coisa do gênero. Isso é coisa de covardes, coisa que não somos e já provamos isso. Pelo contrário, com o intuito de aprendizado: nós precisamos aprender com as derrotas, a nos organizar melhor, a saber em quem confiar, a saber com quem contamos e como construir um movimento de base blindado dos golpismos e das manipulações a que temos sido vítimas ao longo dos últimos 10 anos, pelo menos.
E para concluir: eu não sei se vou à assembléia do dia 17, porque não sou massa de manobra da direção sindical. Estou pronto para lutar, para reiniciar a greve hoje mesmo, se necessário for, mas ao lado de gente em quem eu confio. A direção sindical tem poucas horas para tentar nos convencer de que ainda merece o nosso respeito. Quanto ao governo do faraó, quero que ele vá para o inferno, para dizer o mínimo.
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sexta-feira, 11 de junho de 2010
O sind-UTE precisa prestar esclarecimentos antes da assembléia
Até a noite deste dia 11, nada. Nem uma linha sequer sobre propostas de tabela salarial. Será que o governo vai ficar naquele tratado de intenções apenas? Já dizia o ditado popular: de boas intenções...
E estranha-nos, também, o silêncio da direção do Sind-UTE. Tudo bem que a comissão negociadora precisa se reunir com a direção e discutir as propostas e os encaminhamentos. Mas, nós, da base, não somos sujeitos passivos, nem precisamos de tutores para dizer o tipo de informação que deve ou não ser repassada para a categoria.
O mínimo que a direção sindical tem que fazer é tornar transparente todo tipo de proposta e encaminhamento feito nas negociações com o governo. E estas informações não podem ser lançadas no dia da assembléia, como ocorreu com os termos de acordo de suspensão da greve. E provocou grande desgaste junto da base que está unida em torno de objetivos bem definidos.
Queremos informações previamente para discutir tudo com os nossos colegas. Até mesmo a informação de que o governo não passou nada, não aceitou nada, não ofereceu nada, está enrolando, tudo, todas as informações são importantes para a nossa avaliação.
O site do Sind-UTE demora quase um ano para atualizar as informações. Até o blog da secretaria da Educação consegue ser mais ágil. O nosso blog então, nem se fala, é notícia instantânea: chegou aqui, nós repassamos imediatamente. E voluntariamente, pois não temos funcionários para fazer este trabalho, ao contrário do sindicato, que tem assessoria técnica, tem departamento jurídico, tem profissionais liberados com tempo disponível para encaminhar essas informações.
Portanto, fica aqui a nossa cobrança construtiva à direção sindical: ajam com transparência, dêem as informações se possível em tempo real para os trabalhadores da base porque somos nós que vamos decidir o que se fará e como se fará.
Não estamos gostando desse silêncio, marcado pela simples reprodução dos panfletos do governo, que mostram gráficos, dados estatísticos, mas não trazem nenhuma proposta de salário.
Até agora, a quatro dias do relatório final para aprovação da tal proposta de alteração no salário base das carreiras da Educação não temos conhecimento de nenhuma proposta concreta de tabela salarial. E o governo, claro, já tem uma proposta, ou talvez mais de uma. Ou até mesmo nenhuma, tamanha a falta de respeito com que costuma nos tratar.
Não queremos ser informados durante a assembléia. Para mim isso constitui falta de respeito com os trabalhadores. Se não houvessem mecanismos ágeis de comunicação, tal postura se justificaria. Não é o caso hoje. Ou a intenção do sindicato é levar para a assembléia uma massa de pessoas para aprovar aquilo que lhe convém a toque de caixa? Esperamos que não. E queremos ser tratados como adultos capazes de pensar e decidir com autonomia.
Estaremos aqui aguardando informes objetivos e esclarecedores sobre os andamentos das negociações. Até agora, os gráficos do tal perfil remuneratório dos servidores da Educação e a proposta do governo de tratado de intenções sem tabela salarial não nos atendem. O governo está enrolando o sindicato e toda a categoria da Educação. Não vamos aceitar este jogo!
DIÁLOGO ENTRE EULLER E BEATRIZ CERQUEIRA
sábado, 12 de junho de 2010
Dialogando com a coordenadora do Sind-UTE
Colega Beatriz,
Agora que estou de volta posso manter este diálogo fraterno com você. Também eu tenho grande respeito por você e pelo trabalho que realizou na liderança da greve durante todos os 47 dias. Ninguém pode negar que você deu enorme contribuição na organização do nosso movimento, e ainda terá muito a contribuir, agindo com firmeza, sinceridade e abertura para ouvir as críticas. Isso eu respeito e jamais você leu aqui neste blog uma crítica pessoal ou política à sua postura durante a greve. Mesmo divergindo de alguns posicionamentos, como foi o caso da suspensão da greve - tanto da decisão quanto da forma como foi encaminhada -, mesmo assim, jamais deixei de considerar que a decisão foi tomada em assembléia pela maioria, de forma consciente.
Contudo, estranhou-me o silêncio do sindicato em relação às negociações que deveriam se realizar nas última semanas. E a sua mensagem em boa hora confirma aquilo que suspeitávamos: o governo sequer apresentou uma tabela de salários. Mas, como vocês não haviam se manifestado a respeito, poderíamos supor que tudo corria às mil maravilhas. Esta informação - a de que o governo não ofereceu até agora nenhuma proposta concreta - é de grande importância para que possamos discutir as nossas estratégias de resistência junto dos colegas da base.
É importante que o governo saiba que toda a categoria está acompanhando a par e passo cada atitude que ele toma e que não deixaremos sem resposta o que ele vier a fazer. Se não oferecer nada em termos salariais, seguramente receberá uma resposta adequada da categoria. Se apresentar uma proposta ridícula, da mesma forma, saberemos como tratá-lo. O governo precisa entender que por trás das quatro representantes do sindicato que negociam com ele existem mais de 200 mil trabalhadores esperando impacientemente uma solução para a realidade de penúria na qual nós, os educadores, estamos submetidos.
Por isso, companheira Beatriz, esta é a razão da nossa indignação, o que por vezes pode até levar a excessos na forma de expressar. Mas, são sentimentos sinceros, que, se de um lado possam ter beirado a exageros verbais, por outro lado representam a nossa ânsia em querer saber o que se passa nas negociações com o governo. E representam também o nosso verdadeiro compromisso com a luta pela qual travamos durante os 47 dias de greve e também o nosso compromisso com os trabalhadores da Educação - e de resto, com todos os assalariados-explorados do mundo.
Estarei acompanhando as informações como de costume e publicando aqui, neste blog. E agora, já com a decisão de participar da assembléia do dia 17 e com o compromisso de mobilizar todos os colegas para este dia, com o sentimento de que, se nada for feito pelo governo em matéria de alteração da realidade salarial dos educadores de Minas, que ele nos aguarde.
Nossas espadas estão sendo desembainhadas e afiadas. Nossa luta não acabou e o governo Aécio-Anastasia vai sentir novamente a força de multidões nas ruas a contagiar toda a população mineira para a realidade da Educação em Minas.
As horas que ofereço agora não são mais para o sindicato, mas para o governo. Ele tem pouco, muito pouco tempo mesmo para conter a grande revolta latente que está para explodir nos próximos dias em Minas por parte de milhares de educadores, que não vão aceitar viver e sobreviver com essa ajuda de custo que temos recebido. Nem a Copa do Mundo será capaz de impedir a nossa disposição de mobilizar os alunos, os pais de alunos, e os colegas educadores para que retomemos as praças e as ruas convocando a comunidade para um sonoro e profundo gesto de repúdio a este governo, que não respeita a Educação pública e os educadores.
Um abraço fraterno,
Euler
P.S.: Quando acabei de redigir a resposta, recebi a msg da companheira Marilda, integrante da Comissão de Negociação do Sind-UTE, a quem extendo a resposta-diálogo que elaborei.
Leiam também o Boletim Nº 12 do Blog do Coreu clicando aqui
Postado por Blog do Euler às 20:09 7 comentários
Coordenadora do Sind-UTE Beatriz Cerqueira responde ao blog
A companheira Beatriz Cerqueira, coordenadora geral do Sind-UTE, enviou uma mensagem ao blog respondendo algumas das questões que colocamos no post abaixo. Considero esta atitude democrática da parte dela. Vou até repensar a minha decisão de não ir à assembléia do dia 17. A mensagem da Beatriz é importante também para esclarecer a todos os que visitam este blog sobre o cenário das negociações. Outras considerações farei depois, pois terei que sair neste momento. Um forte abraço a Beatriz e a todos os colegas de luta que visitam o nosso blog. (Euler)
Olá Euler, tenho um grande respeito por você e pelo trabalho que faz através do blog. Por isso tomei a liberdade de postar este comentário.Acho importante te dizer que não pretendemos fazer nenhum "showzinho" no dia da assembleia, mas encaminhá-la como fizemos em todos os momentos de 2010: com respeito, informando todas as questões e não nos furtando em fazer as avaliações necessárias.
Quanto a suspensão da greve, respeito a sua avaliação. Não atuamos para "tirar proveito político da situação" de nenhuma assembleia. Ninguem manobrou ninguém no dia 25, cada trabalhador em educação votou de acordo com o que pensava. Gostaria de lhe dizer também que a direção estadual não fará nenhuma votação para "tirar proveito político" e da mesma forma ninguém que participa da nossa assembleia estadual é "massa de manobra". É uma pena quem ainda não tenha percebido isso da nossa atuação.
Quanto as questões da comissão, concordo com você: sem tabela salarial não há discussão!E é isso que queremos do governo para apresentá-la à categoria. Não é o Governo que vai estabelecer de onde começar. Para ele é preciso "estruturar a carreira", para a categoria é preciso salário. Começar a manifestar sobre o que o governo colocou no site dele, antes de termos as tabelas, é na minnha opinião mudar o foco do salário para a carreira. Estamos cobrando uma tabela de todos os cargos da educação. Será a partir dela que avaliaremos as questões relacionadas a carreira. Temos controle em relação a nossa estratégia, e o governo faz a dele. A divulgação da apresentação da proposta de mudança de carreira sem tabela fez parte de uma reunião que o governo fez com a APPMG, Sind-Publicos, etc.
Por fim, discordo da sua avaliação do dia 17/06. Convocamos a assembleia como instrumento de luta, da mesma maneira que convocamos as demais assembleias deste ano. É fundamental uma grande participação. Em se tratando do atual governo, o risco permanente é o de perder direitos e uma assembleia esvasiada é a oportunidade do governo para isso.
O governo já ouviu em reunião a posição do Sind-UTE - a mesma de todo o período da greve - : sem salário não tem discussão. Não vamos aceitar qualquer discussão de modificação de carreira, sem que haja primeiro a discussão de salário. Agora se o Governo quer tentar convencer a categoria divulgando propostas de carreira, reafirmo o que disse anteriormente: a categoria tem capacidade de avaliar se quer ou não embarcar na estratégia do Governo. O sindicato não cairá nesta.
Fraternalmente.
Um grande abraço,
Beatriz Cerqueira
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