sexta-feira, 23 de julho de 2010
A pão e água
Com pouca grana, as férias dos educadores mineiros serão regadas a pão e água. Mas, as dos desembargadores, deputados, senadores, governador, ex-governador, secretários de estado...
Final de mês, salário de fome e poucos dias de férias ou recesso escolar. É este o presente do faraó e do seu afilhado para os educadores mineiros. O recesso dos desembargadores que votaram a ilegalidade da nossa maravilhosa greve dos 47 dias, ou o dos parlamentares que votaram contra as emendas dos educadores, geralmente é de 30 dias e banhado a vinho, champanhe e muita grana. Salários que ultrapassam a casa dos 30 mil, entre o básico e os penduricalhos. Enquanto isso, os professores de Minas sobrevivem com um salário mínimo e mais alguma coisa de complemento.
É o retrato estampado de um país cuja elite, cínica e hipócrita, não queima a cara ao prometer e mentir em época de eleição enquanto pratica, no governo, políticas de arrocho salarial contra os servidores públicos para encher os cofres de minorias privilegiadas. Onde estão os 46 bilhões anuais da receita total de Minas? Boa parte desse dinheiro está no bolso de empreiteiras que financiam as campanhas do faraó, do afilhado e da sua base de apoio; ou da mídia, que é paga para nos roubar a liberdade de expressão e de opinião. Outra parte está no bolso de deputados, desembargadores, conselheiros do TCE, enfim, de uma elite privilegiada. Já os professores, com curso superior e tudo mais, recebem menos que dois salários mínimos.
Não é a toa que o Brasil foi apontado hoje como o 3º país da América Latina em matéria de má distribuição de renda, aquele que possui portanto um dos maiores abismos entre ricos e pobres (vejam reportagem a respeito aqui, no jornal Hoje em Dia). O serviço público é um bom exemplo desse mau exemplo. Enquanto um professor em Minas com ensino superior recebe menos que dois salários, um desembargador, ou deputado estadual / federal, ou conselheiro do TCE, entre outros, recebe em torno de 60 salários mínimos mensais. E são eles que decretam as ilegalidades das nossas greves; são eles que votam contra as emendas de reajuste dos nossos salários; são eles que aprovam as contas do estado e dos municípios.
Tudo isso um dia tem que acabar. Talvez seja por isso que a elite brasileira e mineira tenha tanto medo de uma educação de qualidade, que obviamente pressupõe a valorização do profissional da Educação. Eles temem que a população mais pobre se torne uma cidadania crítica, capaz de cobrar organizadamente seus direitos, ao invés de optar pelo crime comum como falta de alternativa.
Façamos, portanto, dessa minguada semana de recesso, com bolso vazio, a pão e água, um momento de reflexão crítica dessas realidades que nos circundam. Para que isso se transforme não um motivo de desânimo ou desespero, mas de estímulo à nossa luta, à nossa unidade e à nossa capacidade de organização e mobilização contra todas as forças demoníacas que atormentam a população mineira e brasileira. Eles podem confiscar por um tempo parte do nosso salário, dos nossos meios de sobrevivência, mas não podem roubar os nossos sonhos, que hão de se transformar em força viva e organizada na construção de uma Minas Gerais melhor, mais justa e solidária.
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- Leiam também artigo da colega Marly Gribel no blog Proeti no Polivalente clicando aqui.
- E diretamente do Blog do COREU a Coluna do Sofressor com o artigo: "A frase do ano para os professores de São Paulo! Mas cabe aos de M
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