DOMINGO, 11 DE SETEMBRO DE 2011
Nosso 11 de de setembro: 96 dias de greve, por um direito sonegado
Nosso 11 de de setembro: 96 dias de greve, por um direito sonegado
As datas de um calendário têm sempre significados diferentes para cada um de nós. Pode ser a dia de aniversário de um conhecido, ou mesmo a data de falecimento de algum ente querido. Mas, pode ser também o dia de uma tragédia que acometera um grande número de pessoas. O 11 de setembro é uma dessas datas.
No período mais recente registramos pelo menos dois acontecimentos que marcaram a vida de muitas pessoas, de muitos povos. Foi nesta data, há 10 anos, que ocorreu a derrubada dasTorres Gêmeas do World Trade Center, nos Estados Unidos. Uma história mal contada para alguns, que teria ceifado a vida de centenas de pessoas inocentes, em nome da intolerância e do ódio, alimentados pelas políticas de estado e do mercado em todo o planeta, mas especialmente pelo país onde ocorrera o dramático atentado. O suposto mentor de tal atentado - Bin Laden - fora treinado e financiado anos antes pelos serviços de inteligência (?) norte-americano, usando-o de acordo com suas conveniências geopolíticas.
O atentado de 11 de setembro teve como consequência o crescimento das políticas imperialistas de guerra eocupação de territórios. Deste episódio, que salvou o governo Bush, envolto que estava em profundo descrédito popular, resultou, na sequência, a ocupação do Iraque e do Afeganistão pela força militar dos EUA e aliados. Por trás destas estratégias, apresentadas como parte da luta em defesa da democracia e da liberdade, estavam (estão) os interesses econômicos de poderosos grupos de rapina, que financiam as campanhas eleitorais e repartem entre si o espólio das guerras: o petróleo, a reconstrução do país destruído por eles, o controle de novos mercados, etc.
Foi no dia 11 de setembro, também, desta feita em 1973, que ocorrera o famigerado golpe de estado no Chile, pondo fim a uma das mais promissoras experiências de governo popular da América Latina - o Governo do presidente Salvador Allende, que pagou com a própria vida pela coerência de querer realizar reformas sociais que mexiam com fortes interesses internos e externos.
O golpe ali arquitetado envolvera o financiamento do governo norte-americano, e as elites internas, que usaram a força militar comandada pelo criminoso torturador Pinochet, então chefe militar do presidente Allende, a quem o ditador traíra. Era um tempo de disputas ideológicas, radicalizadas no auge da Guerra Fria e de um mundo polarizado entre duas potências militares: a então União Soviética e os EUA. Uma disputa ideológica cujo teor, apesar de parecer um confronto de classe, revelara-se, mais tarde, tratar-se apenas de duas formas distintas de uma mesma disputa de mercado.
Mas, no Chile de Allende a situação era outra. Ali se plantava a semente de um mundo novo, diferente, construído com base na solidariedade, na participação ativa dos de baixo nas decisões das prioridades políticas e econômicas. Infelizmente, tal processo fora interrompido pelo citado golpe.
As forças do mercado e do estadoestão presentes na nossa vida, de diversas formas. Agora mesmo, aqui, em Minas Gerais, neste 11 de setembro, nós, educadores, somos vítimas dessas forças nebulosas. Em greve há 96 dias por um direito conquistado em lei federal e sonegado pelo governante de plantão, perguntamo-nos o por quê dessa irresponsável conduta do chefe do Executivo e dos demais poderes constituídos?
Tal como os casos citados acima, a resposta que eles dão para o público é sempre o contrário daquilo que realmente acontece. No caso dasTorres Gêmeas, nessa história mal contada, o governo dos EUA respondeu cortando direitos civis dos de baixonaquele país e desenvolvendo um plano imperialista de ocupação de territórios e controle das suas riquezas. Tudo em nome da suposta ameaça à democracia ocidental. No Chile, igualmente, o golpe militar ocorrera em nome da democracia supostamente ameaçada, quando de fato implantava-se uma das mais cruéis ditaduras do planeta, que prendeu, torturou e executou milhares de lutadores sociais daquele país.
Claro que o nosso caso é mais suave em vista dos exemplos citados. Mas, por trás da recusa em nos pagar aquilo que nos pertence por direito, estão os interesses dos financiadores de campanha - empreiteiras e banqueiros -, além da farta verba publicitária distribuída para a mídia e os gastos com as contratações dos cabos eleitorais e com a alta cúpula do estado. Em suma, somos punidos e privados do que temos direito, para que possa sobrar mais recursos para os de cima partilharem entre si o banquete, o tutu, que é anunciado numa das muitas peças de propaganda do governo.
Mas, para o público externo, desavisado, a propaganda é bem outra: o governo mineiro, generoso, teria oferecido um sistema remuneratório muito melhor do que o piso salarial, muito mais "vantajoso" para nós, educadores, incapazes que somos de entender o que é bom para nós, e que acabamos seguindo cegamente o que diz o sindicato, ou este blog, ou quem quer que seja. Eles se apresentam cinicamente como preocupados com os alunos, a ponto de contratarem substitutos, ou de disponibilizarem "pílulas" de conhecimentos gerais, através da TV Minas. É simples assim: tome várias pílulas de dois minutos cada e esteja preparado para as provas do ENEM.
Contudo, para a infelicidade destasforças do atraso, a história não para, o tempo não para, e a vida não pode ser controlada, tal como imaginam nos seus confortáveis gabinetes. A reação norte-americana, desproporcional ao atentado ocorrido em seu território, tem gerado custos e consequênciasque a todo instante se voltam contra aquele país; no Chile, a ditadura caiu, e Pinochet e sua gangue fazem parte de um passado de terror que os chilenos vêm superando a cada dia; as ruas e praças daquele país estão hoje ocupadas por milhares de estudantes, que exigem uma Educação de qualidade ante a um governante igualmente insensível.
E aqui em Minas, por mais que o governo tenha feito de tudo para minar a nossa resistência e subtrair o nosso direito ao piso e à carreira, prejudicando os alunos, os educadores e toda a sociedade dos de baixo, até o momento estamos de pé e prontos para conquistar aquilo que nos pertence. Quanto mais o governo posterga e tergiversa sobre o pagamento do piso salarial nacional, maior o seu desgaste político.
O único desfecho para este impasse, que pode minimizar o desgaste deste governo e do projeto de poder do faraó está no cumprimento da lei federalque instituiu o pagamento do piso salarial nacional. Qualquer outro arranjo que fuja a este compromisso constitucional resultará num grande desgaste para o governo de Minas, e num estrago sem igual na carreira dos educadores e na própria Educação pública.
Portanto, que esta data de hoje seja um momento também de reflexão para todos nós, inclusive para o governo de Minas, que tem se comportado com arrogância, com intransigência, com intolerância e desrespeito pelos direitos dos educadores. Uma dose de humildade e reconhecimento de que vem encaminhando equivocadamente as negociações com os educadores poderia reduzir a imagem negativa que se constrói em torno do atual governo - e por conseguinte, do anterior também.
Está na hora do governo de Minas abandonar a sua tática do faz de conta... faz de conta que o subsídio é melhor que o piso; ou que os alunos do 3º ano do ensino médio estão sendo preparados para o ENEM com os substitutos; ou que a greve não existe; ou que a mera propaganda midiática pode substituir a vida real.
A vida real... que neste 11 de Setembro nos remete a fatos dramáticos, a nos lembrar que arealidade está (continua) prenhe de mudanças e cobranças em favor dos de baixo, sempre esquecidos e relegados a um segundo plano. É tempo de construção de um outro momento, no qual os legítimos direitos dos de baixo sejam respeitados.
Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!
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