quinta-feira, 22 de setembro de 2011

EULLER:"Um dia de luta em muitas frentes: acorrentados, greve de fome, vigília, recursos na Justiça, batalhas na Internet e na mídia."

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Os valentes colegas Marilda e Abdon, em greve de fome desde o dia 19.


Diretamente do Chile, a professora Sabrina declara o seu apoio à nossa luta.


Na assembleia da categoria do dia 20, a combativa caravana de Cambuí: presente!





As fotos acima registram alguns momentos da batalha de hoje na ALMG (Fotos: Petrus Assis, membro efetivo do NDG)




Vídeo mostra a truculência do Governo de Minas contra os educadores na Praça da Repressão, antiga Praça da Liberdade.




Um dia de luta em muitas frentes: acorrentados, greve de fome, vigília, recursos na Justiça, batalhas na Internet e na mídia. Nossa luta prossegue, até a vitória!


No dia em que a heroica greve dos educadores mineiros completou 106 dias podemos dizer: estamos vivos e resistindo! Foi um dia inteiro de muitas batalhas, inclusive com importantes vitórias. Quero trazer aqui um pequeno relato destes momentos, aos quais acompanhei aqui do bunker, com o coração na mão e os dedos colados ao teclado, enquanto buscava as novidades por telefone, pela Internet ou através dos noticiários da rádio ou TV.

Logo nas primeiras horas da manhã recebo o telefonema do comandante João Martinho, um dos muitos heróis da nossa maravilhosa greve, dando conta da ocupação que dezenas de valentes educadores e educadoras realizavam em frente às entradas e garagens da ALMG. O batalhão de choque da PM do governo fora logo acionado. Em Minas é assim: problema social, tal como na República Velha, é tratado como caso de polícia.

Mas, o nosso pequeno exército já deu mostras de que não teme a força bruta. Manteve-se firme, cravado na posição que conquistara. A rua é pública, assim como a praça, embora este governo pense em apropriar-se de todos os espaços, além do nosso piso confiscado.

Logo em seguida quem me liga é um pai de aluno, Paulo Roberto, acompanhado por sua filha, que dá um exemplo de cidadania para todos os demais pais de alunos. Ele me disse:

- Euler, estou aqui sentado entre a tropa de choque e os manifestantes. Eles podem fazer o que quiserem, mas daqui eu não saio. Já disse para o comandante do batalhão que o governo é responsável por minha filha estar há mais de 100 dias sem aulas, que é um direito constitucional que está sendo negado pelo estado de Minas Gerais.

Que aula pública estamos assistindo nestes maravilhosos, embora sofridos dias de greve!

Em seguida, o deputado Rogério Correia conseguiu agendar uma negociação diretamente com o presidente da ALMG, Dinis Pinheiro, que de fato mais tarde recebeu uma comissão dos educadores em greve. Enquanto isso, os dois combativos colegas de luta, Marilda e Abdon, permaneciam (permanecem) em greve de fome na sala de entrada do Legislativo Mineiro, a mostrar para o mundo o quanto os educadores estão levando a sério a luta por direitos constitucionais negados pelo governo de Minas.

Enquanto poderes constituídos expõem publicamente a sua verdadeira face de servilismo e convivência com o governo imperial e neoliberal instalado em Minas Gerais, os educadores e demais apoiadores são obrigados a arrancarem os espaços e as conquistas na luta.

A mídia escrita estampara na capa dos jornais e nos portais mais uma ameaça do governo: os designados que não retornarem serão demitidos. Ameaças, chantagens, terrorismo psicológico. Mas, logo soubemos que em telegrama enviado diretamente para os diretores de escola, a SEE-MG orientava-os a colocarem falta-greve para todos, inclusive para os designados. O que significa dizer que o governo muito provavelmente não fará demissões, pois além do peso político negativo, marcando o governo com a mancha da perseguição mais retrógrada, ainda teria o governo que responder por ações na justiça por quebra da legalidade ditada pela Lei de Greve.

Mas, o dia ainda nos reservaria novos capítulos. Os valentes educadores deixaram a garagem, mas juntaram-se ao pai de aluno e sua filha que resolveram se acorrentar na entrada da ALMG. Enquanto isso, nas galerias, dezenas de valorosos e valorosas educadoras impediam a realização de uma sessão legislativa. Ficou assim assegurado que esta semana, pelo menos, o famigerado projeto de lei do governo, que descumpre a Lei do Piso, não será colocado em votação.

É bom recordar aqui também que na noite de ontem ficamos sabendo de outra boa notícia: o piso salarial nacional já tem um índice de reajuste para janeiro de 2012, que é de 16,66%. Ou seja, enquanto o governo de Minas oferece apenas 5% de reajuste para abril de 2012 para quem ficar no subsídio, a Lei do Piso garantirá reajuste de 16,66% em janeiro de 2012. Com isso, o piso do MEC deve passar para R$ 1.385,00. O valor proporcional do piso para quem tem curso superior (a grande maioria dos educadores mineiros) vai para R$ 1.237,00, sobre cujo valor devem incidir as gratificações, além das progressões na carreira.

Hoje também foi o dia em que assistimos a uma das emissoras - a TV Record Minas - praticar jornalismo, que mereça este nome. Assistimos a uma reportagem digna, quando os professores que estão de vigília na ALMG tiveram espaço para explicar o drama vivido pelos educadores, vítimas de muitas mentiras por parte do governo, de muitas humilhações, que tem sensibilizado cada vez maior número de pessoas, de Minas e do Brasil, e até de outros países. Foi nessa mesma reportagem que apareceu também um assessor direto do líder do governo naquela Casa pronunciando ao pé do ouvido de uma educadora:

- Se eu ganhasse R$ 712,00 eu seria servente de pedreiro".

Já imaginaram o simbolismo que tem essas palavras ditas por um assessor direto de um deputado que priva da cozinha do governador?

Primeiramente, o preconceito em relação a um profissional, que é o servente de pedreiro, digno, que merece todo o nosso respeito, como todos os outros profissionais. E claro que o tal assessor, talvez refletindo o que pensa o seu chefe, tenha deixado escapar exatamente isso: que para ganhar tão mal, ao invés de ser um professor, alguém que estudou muito, melhor seria trabalhar como um servente de pedreiro. É preconceito, pois o servente de pedreiro não pode estudar - ou não quis, ou não teve oportunidade -, mas é um trabalhador, um ser humano, mais útil do que talvez uma dúzia de deputados ou desembargadores ou procuradores da Justiça, a depender, obviamente, da estatura moral e do desempenho destes.

Além disso, fica evidenciado o quanto o governo e seus agentes zombam do papel atribuído aos educadores, aos quais reservam cinicamente agradecimentos publicitários em palavras ocas, enquanto oferecem, na prática, a ruína do nosso plano de carreira e a sonegação do piso a que temos direito.

Tal conduta do governo faz crescer a revolta por toda parte. Na hora do almoço, por exemplo, a nossa combativa amiga Cristina nos diz que a deputada federal Jô Moraes pedira um relato do que acontecia para que pudesse discursar no plenário do Congresso Nacional. O mérito, aqui, é menos da deputada, que tinha obrigação de estar a par de cada momento do que acontece com os educadores em Minas, do que da nossa amiga Cristina, que vem divulgando a nossa luta por toda parte, de forma incansável. Tomara que a deputada tenha de fato realizado tal pronunciamento. Pois, das hostes da representação oficial de Minas temos tido poucas vozes a nos defender. A começar pelo péssimo exemplo dos três senadores por Minas Gerais, entre os quais o padrinho do atual governador, que se faz de mudo e tem se omitido vergonhosamente, nos últimos 106 dias da nossa greve.

Ora, a pergunta que não quer calar é: a quem essas pessoas, que aparecem na mídia comprada como anjos, representam de fato? Seguramente eles não representam os 400 mil educadores, que estão sendo duramente castigados por um governo que coloca duas secretárias, com caras fechadas, a falar dos educadores como se na escravidão ainda estivéssemos. Eles não representam também aos 2,3 milhões de alunos da rede estadual e seus pais, que estão assistindo à destruição da Educação pública de qualidade, e com isso, a própria sonegação de um direito constitucional.

Um pouco mais tarde recebo um e-mail de uma professora de História, Sabrina Aquino, natural de Ipatinga, e que mora atualmente no Chile. (Ah, como eu me lembro de bravos chilenos, ainda na ditadura de Pinochet, a gritarem corajosamente: "Chi,Chi, Chi, le, le, le! Viva Chile libre!"). Ela tomou conhecimento da nossa luta através das redes sociais na Internet, inclusive através deste blog. No seu e-mail, ela narrou um pouco a também heroica e importante luta dos estudantes e de todo o povo chileno em defesa da Educação, enquanto causa nacional que se transformara. E sugeriu, entre outras coisas, que recolhêssemos o testemunho, ou a declaração pública de apoio de pessoas, as mais diversas, à nossa luta. Ela própria declarou o seu apoio, como consta da foto que publicamos acima.

Como se percebe, além do leque de apoio que cresce a cada dia em Minas Gerais, reunindo os sem-terra, os sem-teto, os eletricitários, o pessoal dos correios, da Saúde, do Sindifisco; as lideranças políticas e religiosas, enfim, além deste apoio interno, a nossa luta começa a ganhar o apoio fora das fronteiras de Minas e até em outros países. E isso porque a nossa causa - pela Educação pública de qualidade e pela valorização dos educadores - não é uma causa corporativa, presa a um interesse menor de um ou outro profissional. É muito maior. E a esta luta somam-se todas as outras lutas sociais que acontecem em Minas Gerais.

Eu disse uma vez aqui no blog, quando ainda a nossa greve tinha um pouco mais de um mês, e imaginávamos que não demoraria muito, que a luta pelo piso ganhara uma outra dimensão, materializando todos os mais legítimos e nobres sentimentos libertários que estavam presos na garganta do povo mineiro dos de baixo.

E o que estamos assistindo hoje é isso: um crescente apoio da população, apesar de toda a milionária campanha publicitária do governo, com a ajuda da máquina de estado que ele controla - legislativo, judiciário, Ministério Público -, a demonstrar que com a força dos de baixo não se pode brincar.

Se houver ainda alguma voz um pouco mais lúcida com alguma influência junto ao governo, ele retomará as negociações para pagar o piso, devolvendo aos educadores tudo o que lhes fora roubado nestes dias. A única coisa que o governo não conseguiu arrancar nestes 106 ou 107 dias de greve foi a nossa dignidade, pelo menos a nossa, dos que estamos em greve, lutando corajosamente pelos nossos interesses de classe e direitos assegurados em lei federal.

Por isso, bravos e bravas colegas, vai aqui, mais uma vez, os meus parabéns aos milhares de educadores que resistem heroicamente em todas as partes de Minas Gerais. Vamos continuar construindo essa corrente do bem, a romper as correntes do mal impostas pelo governo. Vamos continuar construindo, na prática, e de forma horizontal, os NDGs (Núcleos Duro da Greve), ampliando a nossa greve, realizando campanhas nas escolas, nas ruas, nas praças, trazendo novos apoios à nossa causa, que é uma luta para o bem de todo o povo mineiro e brasileiro, especialmente aos de baixo.

Amanhã, a luta continua, já nos preparando para a nova assembleia, a realizar-se na terça-feira, quando novamente o chão de Minas vai tremer, tremer, tremer, podendo, numa dessas, derrubar o governo e sua máquina de moer seres humanos, que insistem em contrariar as leis vigentes e sonegar os direitos dos educadores.

Um forte abraço a todos e força na luta, até a nossa vitória!



P.S. Quero parabenizar também aos bravos guerreiros e guerreiras, de todas as regiões de Minas Gerais, que nos visitam e deixam o seu testemunho de luta, que constitui verdadeira obra literária em favor da cidadania, daquela que não se ensina apenas em teoria, mas também com a força do exemplo.

***

106 dias de greve dos professores de Minas Gerais

Greve de fome X tropa de choque.

Frei Gilvander Moreira[1]


Dia 21/09/2011, um dia após cerca de 9 mil professoras/res da Rede Estadual de Educação do estado de Minas Gerais, na 14ª Assembleia Geral, aprovarem com grande entusiasmo a continuidade da greve até a vitória, greve que já dura 106 dias, professores fazem greve de fome, enquanto o governador Anastasia manda a tropa de choque para tentar intimidar.


Em Vigília desde ontem na Assembleia Legislativa de Minas – ALMG -, centenas de professoras/res acompanham a greve de fome da professora Marilda e do técnico em educação Abdon, hoje, já no 3º dia. Logo ao raiar do dia a tensão começou, pois os professores fecharam todas as entradas que dava acesso ao prédio da ALMG, inclusive a entrada do estacionamento privativo para deputados. A tropa de choque chegou cuspindo fogo. Ameaçou agredir os grevistas que acabaram abrindo as entradas da ALMG. Mas dezenas de policiais montados em grandes cavalos – cavalaria -, policiais com cães, dezenas de viaturas com dezenas de policiais da tropa de choque e de outros batalhões estiveram o dia inteiro de olho nos professores. Quem passava perguntava: “Os professores são tão perigosos assim? Precisam ser vigiados pela tropa de choque?” Uma professora advertiu: “Só da nossa escola – Escola Maria Amélia Guimarães -, em 2010, nove estudantes foram assassinados. Quando na escola precisamos de polícia, ligamos para o 190, mas dificilmente aparece algum policial para nos proteger.” Um tenente que pediu para não ser identificado lamentou: “Nas escolas quando somos chamados, na maioria das vezes não nos mandam ir, mas aqui, onde os professores estão lutando pelos seus direitos – causa justa – somos mandados para insuflar o terror.”

À truculência e intransigência do Governador Antonio Anastasia (PSDB + DEM), os professores estão respondendo com luta aguerrida e, inclusive, com greve de fome, arma espiritual que derruba até dragão.


Há três dias Marilda e Abdon estão em greve de fome. Marilda de Abreu Araújo, 59 anos, de Divinópolis, MG, é professora há 32 anos. Ela se preparou uma semana para fazer greve de fome. Ela disse: “Iniciei a greve de fome, porque estamos em greve há 106 dias e, infelizmente, o governador Antonio Anastasia continua intransigente. Paramos de comer para que o Anastasia se abra ao diálogo. Aos professores que ainda não entraram em greve digo: a luta não pode ser isolada. Venham para a luta para sairmos vitoriosos. Aos pais pedimos compreensão. Temos responsabilidade com a educação pública. Faremos o melhor para que os estudantes não saiam prejudicados. Há pais que vieram nos visitar e queriam ficar aqui conosco em greve de fome, mas os exortamos a ajudar de outras formas. Participei de todas as greves em 32 anos como professora. O que mais me marca nessa greve é a intransigência do governador Anastasia.”


Abdon Geraldo Guimarães, 39 anos, também em greve de fome há três dias. Ele é técnico em educação há 9 anos. Pai de três filhas, duas das quais gêmeas de três meses. Ele diz: “Precisamos abrir negociação. Estamos com nossos salários cortados há 2 meses e já se vai para o 3º mês sem salário. As dificuldades para quem está na greve são enormes. Ao Anastasia peço respeito aos educadores. Atenda as nossas justas reivindicações. Aos professores que ainda não estão em greve digo: “Conscientizem-se da necessidade de reivindicar o piso salarial nacional, Lei Federal 11.738/08, hoje, R$1.187,00, mas em janeiro de 2012 passará para R$1.384,00. É hora de sermos solidários.” Aos estudantes e pais digo: “Estamos lutando não apenas por melhores salários, mas por educação pública de qualidade sob todos os aspectos. O mais marcante nessa greve é a garra de milhares de colegas educadoras/res que não arredarão o pé da luta até a conquista do piso salarial nacional.”


O professor Luciano Mendes de Faria Filho, em Carta aberta ao desembargador Roney Oliveira, disse: “Bastaria ver a Praça da Liberdade na sexta-feira (dia 16/09/2011, na noite da inauguração do Relógio da COPA: 1.000 dias para o início da COPA.). O "gás de pimenta" pode "ser fogo", como disse, em mensagem eletrônica uma professora que lá estava: "Para quem nunca inalou gás de pimenta, a sensação é a seguinte: um fogo na cara, um ódio no coração e muita tosse". Mesmo sem a cobertura da fumaça, foi lá que o Estado de Minas, por meio de seus agentes legalmente constituídos, nos deu uma péssima lição de cidadania. Penso, Senhor Desembargador, que o episódio da Praça da Liberdade, este sim, merecia uma rápida investigação e a punição exemplar daqueles que, atualizando o que há de pior em nossa história, violentaram não apenas os professores, mas todos nós, cidadãos deste país.”


Uma notícia animou a todos hoje. A Governo Federal, em 2012, repassará ao governo de Minas 1,115 bilhões de reais do FUNDEB[2]. Será que o governo Anastasia vai continuar dizendo que não tem dinheiro? O Governo Anastasia concedeu 102% de reajuste para a polícia militar. Um coronel ganhará E$38.000,00.


No final da tarde, foi feita uma reunião com dezenas de representantes de sindicatos, movimentos sociais do campo e da cidade e apoiadores. Várias ações concretas de reforço da greve estão sendo planejadas.


Enfim, quem luta educa. O governo Anastasia está dando uma lição de ignorância, de intransigência, com propagandas enganosas, ameaças e pedagogia do medo. Por outro lado, os professores, inclusive com greve de fome, estão dando uma aula magna para toda a sociedade. Feliz quem tiver ouvidos para ouvir!

Belo Horizonte, MG, Brasil, 21 de setembro de 2011


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[1] Mestre em Exegese Bíblica, professor, frei e padre carmelita, professor de Teologia Bíblica, assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina; e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.brwww.gilvander.org.brwww.twitter.com/gilvanderluis

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