quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Serra diz que Educação é preocupação para o futuro; já Dilma promete valorizar os educadores
No debate entre quatro dos oito candidatos à presidência - Dilma, Serra, Plínio e Marina - realizado agora no final da noite do dia 05 na Band, pudemos conhecer um pouco o que pretendem os candidatos à presidência da República do Brasil.
Os candidatos responderam inicialmente à pergunta da emissora de TV sobre qual seria a prioridade entre a Educação, a Saúde e a Segurança e quais as medidas concretas para esta escolha. O candidato José Serra disse taxativamente que a Saúde e a Segurança são preocupações imediatas, enquanto que a Educação é coisa para o futuro. Ou seja, se depender dele os educadores podem esperar mais meio século para verem atendidas as reivindicações de uma carreira decente. Se depender do meu voto, nem no futuro ele tem chance.
Já a candidata Dilma Roussef disse claramente que a Educação será tratada com prioridade e que quando se fala em educação de qualidade a primeira coisa a ser verificada é a valorização dos profissionais da Educação, com salário digno e com possibilidade de crescimento profissional.
A candidata Marina Silva defende o aumento dos investimentos na Educação para 7% do PIB, mas nada falou sobre a valorização dos profissionais. O candidato Plínio Arruda Sampaio fez um discurso mais ideológico, destacando a profunda desigualdade existente como causa de todas as demais realidades, incluindo os problemas da Educação. Defendeu portanto uma melhor distribuiçãode renda para os mais pobres.
Uma análise do debate
O debate revelou alguns aspectos que devem nortear a campanha. O candidato Serra, por exemplo, fixou-se em alguns pontos fracos do governo atual, como na questão da Saúde pública e das estradas federais, tentando com isso criar um clima de melodrama ao estilo da antiga UDN que, através de um discurso falso-moralista, criava tragédias diárias em cima de pequenos fatos distorcidos ou descolados do todo.
A candidata Dilma estava um pouco nervosa, talvez com a preocupação de não subir o tom neste momento. Mas, acabou por não enfatizar mais duramente o passado do governo FHC e do seu candidato Serra, que doou patrimônio público para as empresas privadas, perseguiu o movimento social, arrochou salários, destruiu setores da máquina pública, desenvolveu política externa de alinhamento com o imperialismo norteamericano e europeu, e manteve políticas neoliberais de recessão com achatamento salarial. Enfim, governou exclusivamente para os ricos.
Claro que o governo de Lula não representou uma total ruptura com as políticas neoliberais de FHC e comparsas, mas pelo menos desenvolveu algumas políticas sociais, como o Bolsa-Família, o Luz para todos, entre outros, que poderiam ser destacados com mais ênfase pela candidata Dilma. Além disso, Dilma precisa mostrar mais entusiasmo na defesa de um futuro governo Dilma, com propostas concretas para os problemas colocados, sem ficar na defensiva para os ataques do tucano.
Já a candidata Marina tem um discurso muito articulado, mas revela uma característica de querer agradar a gregos e troianos, procurando se parecer com um anjo, acima do bem e do mal. Deveria dizer que foi ministra de Lula até há pouco tempo e que não apresentou nenhuma crítica profunda quando lá estava. Agora procura elogiar aos governos Lula e FHC e a fazer críticas bem acadêmicas, sem apresentar propostas de fundo para os problemas levantados.
O candidato Plínio Arruda Sampaio, do PSOL, talvez tenha sido aquele que mais se diferenciou dos demais. Pelo menos foi o único que apresentou uma proposta de mudança radical de paradigmas. Defendeu a distribuição de renda, tirando de quem tem muito e passando para quem nada tem, através do aumento de salário, redução da jornada de trabalho e distribuição de terra para os sem-terra. Se houvesse um forte movimento social de esquerda no Brasil, autônomo, este seria o programa mais próximo a ser desenvolvido. Embora, do ponto de vista teórico, pareça um tanto inviável nos marcos do capitalismo. Logo, para ser coerente, deveria convocar a população para uma ruptura radical com o capitalismo - com o Estado e o mercado - e não distribuir melhor a renda, coisa que, ainda que de forma muito tímida, já se pratica no atual governo.
Mas, a realidade das candidaturas à presidência está limitada aos acordos com vários setores da sociedade, incluindo os setores dominantes. Por isso, os candidatos com maior densidade eleitoral não assumem compromissos radicais, que atinjam estes setores dominantes.
Na prática, investir mais no social - Educação, Saúde e Saneamento - representa sim tirar dinheiro que vai para banqueiros, empreiteiros e outros grupos privilegiados, mesmo que não ocorra uma ruptura com o sistema. Daí porque o candidato Serra nem sonha em garantir uma Educação de qualidade (que está associada à valorização dos profissionais). Já a candidata Dilma pelo menos assume este compromisso, inclusive especificando que é preciso pagar melhor aos professores e oferecer cursos de formação continuada.
Marina Silva fala em 7% do PIB para a Educação, o que eu acho pouco, ainda, e uma maneira equivocada de abordar o problema. É preciso pagar bem aos educadores, entre outras coisas, não importa se isso representa 5, 7, 10 ou 15% do PIB. Já o candidato Plínio não tocou especificamente neste assunto: uma melhor distribuição de renda resolveria o problema de todos, inclusive dos educadores. O que teoricamente não deixa de ser verdadeiro. O problema é que entre a teoria e a prática há um oceano a ser vencido.
Mas, registramos aqui a ausência de alguns candidatos, que não se sabe porque, foram discriminados, entre os quais o candidato do PSTU José Maria, que seguramente poderia enriquecer o debate com a sua experiência ligada aos movimentos sociais. Esta é a democracia em que vivemos, onde no papel todos são iguais perante a lei. Só no papel. Na prática não somos mesmo iguais nem perante a lei, nem perante a nós mesmos. O problema é que alguns são desiguais demais perante os demais.
Aguardemos agora os novos debates e o desenrolar de um jogo cujas cartas estão mais ou menos colocadas e marcadas. Só um movimento social forte e autônomo poderia embaralhar tudo e dar outras cartas. Enquanto isso não acontece, vamos torcer para que Serra não seja eleito, nem agora, nem no tempo da importância que ele dá à Educação: no futuro. Nós somos presente e futuro; ele, FHC, o Faraó e demais demotucanos são o passado de um pesado carma sobre todos nós.
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Links para temas associados:
- Considerações sobre o Primeiro Debate Presidencial (S.O.S. Educação Pública)
- Por que Serra perdeu o debate na Band (RS Urgente)
- Quem venceu o debate da Band? (Blog do Miro)
- Já está no ar o site da campanha Hélio e Patrus; Hélio propõe a criação de uma câmara de diálogo entre servidores e governo (Proeti no Polivalente)
- Educação Encarcerada
- Mesmice impera em debate antidemocrático (PSTU)
1 comentários:
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Euler,
no momento que Serra disse que segurança e saúde é vida e educação é futuro,deu para entender de onde vem o descaso com tudo que envolve a educação.
Creio eu que não há como promover o desenvolvimento econômico aliado com uma justa transferência e destribuição de renda.
É inadmissível que as grandes fortunas não sejam taxadas, isso é apenas um exemplo.
Para atuar com efeito imediato, a transferência de renda através de programas destinados para famílias, com ênfase na educação e saúde dos filhos ainda fazem-se necessários.
Não falo somente do perseguido bolsa família (eu particulamente acredito na eficiência do Bolsa Família), mas também da agricultura familiar, arranjos locais, fies, prouni,minha casa minha vida etc.
A distribuição de renda não é colocar o superavit fiscal nas cuecas de plantão. Mas investir em setores deficitários, subsidiar as micro empresas, identificar as vocações regionais e promover os arranjos locais... Nossa, são infinitas as possibilidades de investimentos a partir da distribuição de renda.
Não é possível falar em desenvolvimento social ou econômico, sem falar, sem investir, sem acreditar na educação.
É sabido que o cidadão com educação formal tem a capacidade de melhor leitura da realidade.Ele altera o seu meio, ele provoca mudanças a partir do acesso às informações ele conhece seus direitos civis, sociais e político.
Temos a responsabilidade de provocar o desejo de continuar estudando em nossos alunos. Para que eles possam romper a trajetória de miserabilidade de seus pais.
Os cursos profissioanlizantes tem retornar pra ontem com urgência. É preciso garantir uma renda digna a partir de uma profissão para os nossos jovens que terminam o ensino médio.
O Enem precisa ser repensado.Já é percebido movimentos e dados estatisticos que comprovam o aumento da participação de alunos provinientes de escolas particulares e como consequência e não poderia ser diferente, melhores pontuações.
O discurso de Serra é convalidado com as ações do seu partido no governo de Minas Gerais.Pode-se afirmar que o PSDB não tem proposta para educação e muito menos para os profissionais da educação na proposta de Serra.
Fico pensando que quando ele disse que educação é futuro, não seria devido ao fato de que o produto da educação só é percebido laaaaaaaaaaaaá na frente. Mas como ter produto se não investir agora?
O nosso papel como educadores é exatamente este, o de apontar e estimular o senso critico dos nossos alunos a partir destes exemplos.
Abraços
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